João Luís Cabral Júnior - Foto: Reprodução/Globoplay

João Luís Cabral Júnior, o neurocirurgião acusado de estuprar pacientes e armazenar conteúdo de pornografia infantil, virou alvo de investigação após a Polícia Civil encontrar, sob domínio de outro indiciado por pedofilia, conversas e troca de imagens ilegais com o médico santista, de 52 anos.

Apurado pela Delegacia Seccional de Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo, o caso está sob segredo de justiça. Cabral chegou a ser preso, mas foi solto na audiência de custódia e responde em liberdade sobre os supostos crimes.

O delegado Helio Bressan revelou que o médico se tornou alvo da investigação por causa de outro inquérito policial. “Temos outros inquéritos instaurados. Nesse ano nós já fizemos mais de 25 mandados de busca sobre pedofilia e prendemos em flagrante 16 pessoas, uma das delas é o médico”, declarou, em entrevista para A Tribuna.

“Quando você começa a pegar tudo que tem lá dentro, você sabe o que esse cara fez. Um pedófilo fala com outro, eles trocam mensagens e outras coisas. Dentro de outro inquérito instaurado, surgiu o IP do computador dele (do médico). Fizemos o pedido de busca, pois sabíamos que, de qualquer maneira, ele estava recebendo conteúdo pornográfico infantil, mas não sabíamos tudo que tinha (no computador)”, explicou o delegado.

O IP, que significa Internet Protocol (protocolo de rede), destrincha os protocolos de comunicação entre dispositivos e mostra o número de identificação de um dispositivo conectado à internet. Foi por esse caminho que o delegado disse ter chegado até o apartamento do neurocirurgião, em Santos.

“Não houve uma denúncia contra ele, foi uma outra investigação que surgiu o IP da máquina dele. Começamos a investigação para saber quem era (o dono do computador) e pedir mandado para o juíz, pois sabíamos que eles estavam trocando correspondência de cunho sexual de crianças”, reforçou.

De acordo com o boletim de ocorrência (BO), os policiais civis de Taboão da Serra cumpriram o mandado de busca e apreensão no dia 26 de setembro no apartamento do médico em Santos. No local, foram apreendidos um computador, quatro notebooks, um HD externo e um celular. A ação foi acompanhada por um delegado da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Santos. Além da pornografia infantil, a polícia encontrou com o médico imagens de pacientes nuas. Numa delas, ele teria filmado o estupro de uma paciente sedada.

Vítimas seguem desconhecidas

O delegado ressaltou, no entanto, que para desvendar quais são as vítimas do médico, é necessário uma decisão judicial para quebrar o sigilo do prontuários médicos dos pacientes do neurocirurgião. “Vamos ter como saber disso a partir dos prontuários médicos do hospital, mas para isso preciso de uma ordem judicial, pois tenho que saber apenas o que é necessário para minha investigação, pois também é um documento confidencial”, comentou.

Com a exposição do caso na mídia, o delegado aguarda que as vítimas apareçam para buscar por justiça. “Tenho a impressão – é só um achismo – de que depois das reportagens, quando a população passa a tomar conhecimento, as pessoas vão nos procurar também. Pode esperar”.

Além disso, Bressan informou que as vítimas podem se apresentar no distrito policial (DP) mais próximo da sua residência ou comparecer na Seccional de Taboão da Serra para se manifestar. Também garantiu que trabalhará para preservar a privacidade e as informações das vítimas.

“Nós colaboraremos da melhor maneira possível para o conforto e a preservação das vítimas. Essa é a coisa mais fundamental que nós temos aqui, em especial, nesse tipo de trabalho. A gente precisa estar muito ligado nisso”, ressaltou.

Investigação em andamento

O inquérito policial está em andamento e somente após a conclusão é que a denúncia poderá ser apresentada à Justiça e, caso aceita, o julgamento do médico poderá prosseguir. “Ele responde ao processo em liberdade, mas também havia condições que foram estabelecidas para que ele respondesse em liberdade. (O juiz) o afastou do exercício da Medicina, precisa comparecer algumas vezes a cada dois meses no fórum, não sair e entregar o passaporte”.

“No caso dele, ficou caracterizado (o crime), tanto que ele foi autuado em flagrante delito, porque havia lá realmente pornografia infantil. A outra parte da investigação começa a se desenvolver a partir da prisão, porque você toma conhecimento de outras coisas que tem lá dentro”, ressaltou.

O advogado de defesa do médico, Eugênio Malavasi, reforçou que o neurocirurgião “é inocente e que provará o alegado no momento processual oportuno”.