Conhecido como Casa dos Horrores, um antigo hospital particular de saúde mental em Santos é o fio-condutor da nova temporada da websérie “Doc de Domingo”, que relata a história da Casa de Saúde Anchieta.
O estabelecimento, depois de denúncias de torturas e intervenção municipal, se transformou em um marco da luta antimanicomial na Baixada Santista.
O lançamento da 6ª temporada da produção, intitulada “Casa Anchieta: do horror à ocupação”, será nesta quinta-feira (23), às 19 horas, no Teatro Guarany, na Praça dos Andradas, nº 100, Centro de Santos. Na oportunidade será exibido o primeiro episódio, seguido de um bate-papo sobre o tema.
Em cinco episódios, a produção conta com depoimentos de antigos pacientes e funcionários, além de pessoas que tiveram ligação direta com a luta antimanicomial, como o psiquiatra Roberto Tykanori Kinoshita e o arte-educador Renato Di Renzo.
Ambos participam ativamente do relato a respeito da história da criação da casa, o contexto de como funcionavam os tratamentos durante a ditadura, as torturas sofridas no local, a intervenção e o fechamento da unidade.
Pessoas ligadas à luta por moradia também traçam um histórico das ocupações do imóvel após seu desligamento. A série mostra, também, como está o edifício atualmente e ainda traz o debate sobre o futuro do imóvel.
“Quando nos deparamos com a pauta da Casa de Saúde Anchieta, sentimos na hora a certeza de que precisávamos abordar a luta antimanicomial e a luta por moradia. Não poderíamos contar a história da ‘Casa dos horrores’ sem entender como se chegou a esse ponto e, principalmente, o que ocorreu após a desocupação do imóvel”, declarou Eduardo Ferreira, codiretor do Doc.
“A ‘Casa’ é nosso personagem principal e trazer a luta por moradia, através da Ocupação Anchieta, nos ajuda a ressignificar aquele espaço de horror para um espaço de esperança e luta”, acrescentou.
Gaspar Lourenço, que também dirige a websérie, acredita que a a história da Casa Anchieta tem um significado a mais. “Durante a pesquisa, vimos que homens gays, mulheres lésbicas e os corpos trans eram internados ali contra a vontade, onde sofriam diversos maus-tratos e horrores. Isso me dói, porque você fazer maldade com outra pessoa assim, só pelo que ela é, é um absurdo”, afirmou.
Ele destacou, ainda, um outro lado do envolvimento da comunidade LGBTQIAP+ com o prédio. “Mais recentemente, na Ocupação Anchieta, a gente descobre que corpos LGBT tiveram abrigo lá durante sua trajetória e alguns conseguiram se reerguer. Então, esse espaço que foi de maldade para a minha comunidade também foi um degrau para a mudança de vida das pessoas”, refletiu.
Luta antimanicomial
Em 18 de maio é celebrado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, data que foi instituída no final dos anos 1970, quando profissionais de saúde mental, pacientes e familiares defendiam a mudança no atendimento no país, pleiteando um modelo de tratamento baseado na humanização.
Isso deu início ao movimento da reforma psiquiátrica brasileira, que culminou com uma lei que prevê o fechamento gradual de manicômios e hospícios.
Em Santos, a Casa de Saúde Anchieta, fundada em 1951, passou por uma intervenção municipal em 1989, depois que a prefeitura constatou maus-tratos aos pacientes. Na época, o local, com capacidade para cerca de 300 pessoas, abrigava 560 pacientes. Depois da intervenção, políticas públicas de atendimento foram implantadas, o que resultou na criação dos Núcleos de Apoio Psicossocial (Naps), atualmente chamados de Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
Além da questão da saúde mental, depois da desativação do hospital psiquiátrico, o imóvel também foi palco da luta por moradia, com cerca de 70 famílias que ocuparam o espaço.
O “Doc de Domingo”
O “Doc de Domingo” é uma série documental sobre histórias do cotidiano, que são disponibilizadas, aos domingos, no canal do YouTube da websérie.
A nova temporada do “Doc de Domingo” é realizada por meio do Proac Editais da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa, com apoio do gabinete da vereadora Débora Camilo (PSOL), Prefeitura de Santos, Santos Film Commission e Movimento Audiovisual da Baixada Santista (MABS).
Ficha técnica
Produção: Orvalho Filmes;
Direção: Eduardo Ferreira e Gaspar Lourenço;
Roteiro: Eduardo Ferreira;
Produção Executiva: Eduardo Ferreira e Platão Capurro Filho;
Direção de produção: Gaspar Lourenço;
Pesquisa: Chris Pontes, Gaspar Lourenço e Eduardo Ferreira;
Direção de fotografia: Guilherme Bonfim;
Produção de base: Chris Pontes;
Produção de set: Carla Ferreira, Patrycia Nunes e Platão Capurro Filho;
Catering: Carla Ferreira;
Imagens: Guilherme Bonfim e Gaspar Lourenço;
Imagens aéreas: Marcelo Colmenero;
Still: Bete Nagô;
Edição: Guilherme Bonfim;
Finalização: Guilherme Bonfim;
Design Gráfico: Betinho Neto.