O cantor e compositor cearense, Antônio Carlos Gomes Moreira Belchior Fontenelle Fernandes, mais conhecido por todos como Belchior, nos deixou em abril de 2017, mas nunca foi esquecido. Curiosamente, na virada deste fatídico ano de 2020 para 2021, um verso seu foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter:
“Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro”, da canção “Sujeito de Sorte”.
A música faz parte de um de seus álbuns mais conhecidos, o lendário “Alucinação”, que traz alguns de seus maiores sucessos, entre eles a faixa título “Alucinação”, “A Palo Seco”, “Apenas um Rapaz Latino Americano” e as duas que, na voz de Elis Regina, se transformaram em ícones da nossa canção: “Velha Roupa Colorida” e, sobretudo, “Como Nossos Pais”.
“Sujeito de Sorte” nunca foi um grande destaque do seu repertório.
A canção ressurge em meio à pandemia do Coronavírus que devastou o planeta e matou milhões de pessoas.
Seus versos, que passaram quase despercebidos na época de seu lançamento, parecem feito sob encomenda para os dias de hoje:
Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte
E tenho comigo pensado Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro
Como todo grande artista, um tanto profeta do seu tempo, Belchior continua, 50 anos depois do seu surgimento em nossa música e quase quatro após nos deixar, a nos traduzir com a sua poesia e sua canção inconfundível e direta.
O verso irônico de “Sujeito de Sorte” – “Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro” – nos devolve a dimensão da resistência e do novo tempo que ressurge neste primeiro dia de um ano, no mínimo, duvidoso.