Manoel Herzog é um grande escritor brasileiro da nova geração. Tem vários livros publicados e já arrancou elogios até mesmo do colega Chico Buarque, que postou um vídeo nas redes com comentários elogiosos a vários de seus lançamentos.
Herzog, que é nascido em Santos, em 1964, mas criado em Cubatão, é formado em Direito e colaborador da Fórum. Estreou na literatura em 1987 com Brincadeira surrealista, um livro de poemas. É autor de Os bichos, pela Companhia Brasileira de Alquimia e do livro de poesia A comédia de Alissia Bloom, terceiro lugar no prêmio Jabuti. Publicou pela Alfaguara os romances A jaca do cemitério é mais doce e Boa noite, Amazona.
Herzog é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria Melhor Romance do Ano, por seu livro A Língua Submersa (Editora Schwarcz Grupo Companhia das Letras). Ao falar sobre o prêmio, o escritor se limita a dizer que “é sempre um reconhecimento”, mas adverte: “particularmente não gosto da ideia de maratona de arte, não é que nem esporte, corrida onde se vê quem chega na frente. É tudo subjetivo, então, estar entre finalistas é um mérito e uma alegria, pra todos”.
“Essas disputas de ‘o melhor’ entre obras singulares e com particularidades impossíveis de avaliar são resultado de uma sociedade de competição, o que vai contra a ideia de literatura. Mas, enfim, estamos aí”, encerra.
Já sobre a A Língua Submersa, muito menos lacônico e um tanto mais entusiasmado, Herzog diz se tratar de “uma distopia ambientada na Baixada Santista depois de um cataclisma que inundou, fez subir 90 metros o nível do mar em todo o globo terrestre. Ou seja, nesse quadro você tem Santos debaixo d’água, Amsterdã, Nova Iorque, toda a borda litorânea do mundo 90 metros abaixo d’água”.
“O protagonista do livro tinha um ferro velho numa favela no pé do morro em Cubatão, na Cota 95, ou seja, 95 metros acima do mar e ficou com uma bela casa de praia, onde ele faz agora os negócios dele, porque o mundo dominado pela China e por uma teocracia radical, crente, tem no Brasil agora um parceiro comercial importante porque é o que sobrou do Ocidente”, revela.
Aqui vale uma explicação para o leitor que não é da Baixada Santista. Os bairros Cota, em Cubatão, foram assim batizados por conta de sua altitude com relação ao nível do mar. Eles começaram a ser ocupados há cerca de 80 anos pelos operários que chegavam do Nordeste para trabalhar na construção das rodovias Anchieta-Imigrantes.
Herzog, então, prossegue com a sua narrativa:
“Os EUA e a Europa estão completamente arrasados e subjugados e aí você passa a ter uma nova sociedade dominada pela China e aqui na América Latina, o Brasil como farol disso, já sem o nome de Brasil, com uma teocracia pentecostal, com esses pastores malucos dominando a cena”, ironiza. “Enfim, um mundo onde tá completamente proibido fazer qualquer desmatamento, consumo de mineral, extração de qualquer matéria primária porque se esgotaram os recursos naturais do globo”, preconiza.
A seguir, o autor dá pistas do título do romance. Trata-se de “um cenário apocalíptico, de deserto, e que fala também da morte da língua portuguesa, de como se soterrou um projeto de país que era o Brasil, matando-se a cultura e condenando aquele país, que foi um insucesso, devido ao mal uso dos recursos naturais. Segundo ele, “um país que tinha uma natureza exuberante e que usou muito mal, destruiu e causou um cataclisma no mundo. E surgiu uma nova sociedade, uma nova figuração, mas com os mesmos exatos problemas da classe média atual, a mesma disputa por dinheiro, a satisfação dos prazeres pessoais, enfim, não muda muito. É uma sátira do comportamento humano, da sociedade contemporânea, enfim, da cova que nos estamos cavando pra nós mesmos”, encerra.
O prêmio
A lista de finalistas foi divulgada pelo
O Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, divulgou a lista de finalistas no início desta semana. O júri selecionou dez obras na categoria “Melhor Romance do Ano de 2023” e outras dez na de “Melhor Romance de Estreia do Ano de 2023”. Entre os finalistas deste ano, 12 são mulheres. Os vencedores serão conhecidos no dia 11 de novembro, em cerimônia na Biblioteca do Parque Villa-Lobos.
Foram 343 obras habilitadas na competição, sendo 166 na categoria “Melhor Romance do Ano de 2023” e 177 concorrendo como “Melhor Romance de Estreia do Ano de 2023″. O vencedor de cada categoria será contemplado com um prêmio de R$ 200 mil.
Melhor Romance de Estreia do Ano
- “Outono de carne estranha “ (Editora Record), de Airton Souza;
- “Ruído branco” (Editora Urutau), de Beatriz Reis;
- “Louças de família” (Autêntica Editora), de Eliane Marques;
- “Os tempos da fuga” (Editora Urutau), de Giovana Proença;
- “Um amor de filha” (Autêntica Editora), de Hanaide Kalaigian;
- “Em pleno dia se morre” (Editora Patuá), de Julia Sobral Campos;
- “Um prefácio para Olívia Guerra” (Grupo HarperCollins Brasil), de Liana Ferraz;
- “Seu jeito de soltar fumaça” (Editora 7 Letras), de Ricardo Motomura;
- “Chumbo” (Editora Quelônio), de Virgínia Ferreira
- “Os Dias” (Editora Patuá), de Waldomiro J. Silva Filho.
Melhor Romance do Ano
- “Sobre o que não falamos” (Editora 34), de Ana Cristina Braga Martes
- “Os dias de sempre” (Selo Editorial Besouros Abstêmios), de Helena Terra
- “O céu para os bastardos” (Todavia Editora), de Lilia Guerra;
- “Mata Doce” (Editora Schwarcz Grupo Companhia das Letras), de Luciany Aparecida;
- “A língua submersa” (Editora Schwarcz Grupo Companhia das Letras), de Manoel Herzog;
- “A febre” (Editora Schwarcz Grupo Companhia das Letras), de Marcelo Ferroni;
- “Quando os prédios começaram a cair” (Todavia Editora), de Mauro Paz;
- “Antes do silêncio” (Editora Dublinense), de Rogério Pereira;
- “Oração para desaparecer” (Editora Schwarcz Grupo Companhia das Letras), de Socorro Acioli
- “A nudez da cópia imperfeita” (Editora Nos), de Wagner Schwartz