Depois de muitos anos de incubação, o Projeto Ilumina, que tem o propósito de dar voz a novos escritores, foi lançado na sexta-feira (2), no Colégio Raquel de Castro Ferreira, em Pitangueiras, Guarujá.
O escritor e pesquisador Alexandre Gossn, idealizador da iniciativa, explica que selecionou textos oito jovens escritores da Rede Pública e publicou no livro Projeto Ilumina – Relatos sociais de jovens autores brasileiros.
Gossn contou como surgiu a ideia. “O projeto tem décadas. Eu fui influenciado a escrever pela minha avó, que era professora. Ela me apresentou os livros e me apaixonei pela literatura. Ocorre que ela passou por uma tragédia pessoal: se suicidou quando eu, que tinha o sonho de ser escritor, era muito novo”, relembrou.
Com a morte de sua grande incentivadora, ele continuou escrevendo, mas parou de pensar em publicar e em seguir uma carreira. “Levei anos para superar isso, esse trauma. Tive muita ajuda da minha esposa, amigos e dois professores muito queridos da Universidade Católica de Santos, onde fiz mestrado, que me convenceram que eu tinha talento para ir além das comunicações em periódicos acadêmicos”, relatou Gossn.
O escritor destacou que um desses professores, principalmente um deles, amigo de José Luiz Tahan, proprietário da Livraria e Editora Realejo, enxergava sua capacidade de transpor os muros da academia.
“Ele achava que a forma de me expressar, de escrever, permitia que eu levasse conhecimento acadêmico de ciências sociais para um público maior. Hoje, esse é o meu enfoque na carreira, minha motivação”, disse.
De acordo com Gossn, o Projeto Ilumina surge daí. “Seria uma chance de resgatar aquele Alexandre jovem, adolescente, que já tinha vontade de ser escritor e não teve oportunidade por contingências da vida”.
“Ao mesmo tempo, o Alexandre de agora, adulto, maduro, reconheceu que nasceu numa posição de privilégio. Nasceu, como costumo dizer, com cota. Nasci numa família de classe média, branca, sou hétero, sou um homem de meia idade. Eu tenho uma posição de privilégio, apesar das tragédias que ocorreram na minha família, envolvendo o suicídio da minha avó”, acrescentou.
Em resumo, a ideia central do projeto é permitir que os jovens tenham a oportunidade que ele não teve.
“Ainda mais que eles vêm da Rede Pública e não têm o privilégio de nascimento que eu tive. O objetivo é propiciar chances a eles de uma transformação social e serem, sobretudo, ouvidos. Não sejam silenciados, seja porque são jovens, seja porque nem todos são brancos, nem todos são héteros, nem todos são binários, nem todos são homens”, relatou.
“Essa é a ideia do Projeto Ilumina. Ao mesmo tempo dar voz a eles, mas também dar responsabilidade, no sentido de que eles pertencem a uma geração que não tem como desafio obter mais conhecimento e, sim, saber navegar num oceano de conhecimento que está se transformando num oceano de desinformação”, alertou Gossn.
Direitos autorais do projeto pertencem aos escritores selecionados
O escritor ressaltou que os direitos autorais do Projeto Ilumina pertencem aos jovens escritores. Os oito selecionados para o primeiro volume são: Maycon Souza, Murilo Madashi, Mika Ramos, Nalu Amorim, Tay DM, Bê Diniz, João Verde e Letícia Sacramento.
O escritor explicou como chegou a esses oito jovens: “Expus minha ideia do projeto para uma colega psicóloga, que participa de um projeto onde realiza palestras para jovens sobre profissões. Fui falar sobre o ofício de escritor e aproveitei a oportunidade para levar o projeto para a direção da escola, que adorou”.
A expectativa de Gossn é que sua ideia seja ampliada. “Por enquanto, só atingimos Guarujá. No momento, só eu financio, mas muitas outras pessoas podem financiar. Nós podemos atingir várias escolas, várias cidades, estados e descobrir muitos outros escritores”.
O autor tem o objetivo de lançar o segundo volume dentro de dois ou três anos, após a conclusão do seu doutorado. “Posso até pedir ajuda de mais pessoas para lançar um segundo, terceiro, quarto volumes, sempre com outros jovens autores, debutantes”, completou.
Sobre o idealizador do Ilumina
Além de escritor, Alexandre Gossn é pesquisador, doutorando e investigador da Universidade de Coimbra, no Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20), do Instituto de Investigação Interdisciplinar (IIIUC) com área de pesquisa em autoritarismos contemporâneos, mestre em Direito e advogado.
Entre suas obras publicadas estão: Liberdade, Metamoralidade & Progressofobia (2019); Cidadelas & Muros: como o ser humano se tornou um animal urbano (2020); Fascismo pandêmico: como uma ideologia de ódio viraliza? (2020); Chapados de cloroquina: A morte da empatia (2021).
Gossn morou por um ano na Europa, viajando por Polônia, Alemanha, Espanha e Portugal para a pesquisa de doutorado. Participou da Flipoços, em Minas Gerais, onde falou sobre o centenário do escritor português José Saramago e sua importância para as ciências sociais. O mesmo tema foi contemplado por ele na Flip, em Paraty.
Marcou presença, também, na Tarrafa Literária, em Santos, ao lado do professor e ex-ministro Renato Janine Ribeiro. Ambos abordaram a pandemia e a filosofia.