Fotos: Flor de Sal Produtora

O movimento de Palhaçaria Feminina da Baixada Santista, ou simplesmente as Praiaças, está comemorando quatro anos de existência. O coletivo foi criado para oferecer um espaço de diálogos, reflexões, trocas de informações, acolhimento, treinamento e união entre as palhaças da região.

Sua idealizadora, Juliana Bordallo, em entrevista ao Folha Santista, conta um pouco da trajetória do movimento, seus objetivos, os desafios em tempo de pandemia do coronavírus e o que elas programaram para marcar o aniversário do grupo.

Hoje, dez mulheres integram o movimento. São elas: Cris Vanuzzi, Flavia Lima, Julia Bertollini, Juliana Bordallo, Juliana do Espírito Santo, Karla Lacerda, Lelê Lótus, Lilian Rocha, Ludmilla Corrêa e Miriã Pessoa.

Folha Santista: O que foi programado para festejar os quatro anos de criação do movimento de Palhaçaria Feminina da Baixada Santista?
Juliana Bordallo:
A programação de aniversário vai de 24 a 27 de outubro. No dia 24, às 11 horas, 1º Praiaças em matinês online, um cabaré de palhaças para todas as idades. Haverá contribuição ao chapéu virtual e todo o valor arrecadado será destinado ao Projeto Lua de Hella, realizado pela ONG Hella, com mulheres gestantes em situação de vulnerabilidade. Será no canal do YouTube Fuxico na rede. No dia 25, às 20 horas, será a vez da 5ª edição do Cabaré Viva Pagu, com classificação etária de 14 anos e contribuição ao chapéu virtual. Também será no canal do YouTube Fuxico na rede. No dia 26, às 20 horas, Roda de Conversa Riso e Comicidade Feminina. A mediação será da praiaça Lilian Rocha e poderá ser acompanhada na página das praiaças no Facebook. Para encerrar, no dia 27, às 20 horas, será realizada a Live de Aniversário com as Praiaças, também no Facebook.

Folha Santista: Vocês utilizaram as redes sociais para outras atividades em alusão ao aniversário do grupo?
Juliana:
Sim. Estamos nas redes sociais, no Instagram e no Facebook, desde o dia 1º de outubro. Todos os dias postamos um pouquinho da cronologia dos nossos trabalhos, esse tempo que a gente está construindo juntas, com depoimentos das mulheres que passaram pelo movimento. A ideia é mostrar o quanto a palhaçaria feminina é bonita, é acolhedora para o coração de todas nós.

Folha Santista: Como foi o processo de adaptação durante o período de pandemia, com apresentações online?
Juliana:
Foi um processo. Os dois primeiros meses nós tivemos os projetos de espetáculos na rede Sesc todos cancelados. Foi um período de dúvidas. A gente não conseguia se encontrar pessoalmente e durante todos esses anos realizávamos encontros semanais, os quais a gente treinava, estudava e criava juntas. Então, paramos com os encontros. Depois de dois meses, começamos a fortalecer essa rede de palhaçaria feminina que tem por todo o Brasil. São mulheres palhaças, dentro de uma rede internacional, da qual nós também fazemos parte. E essa rede, pela internet, começou a se movimentar. As mulheres se juntaram e criaram cabarés virtuais, integrantes aproveitaram para se aprimorar na parte técnica. Enfim, a gente foi se adaptando e entendendo essa questão da comicidade e o riso com a câmera, em um espaço limitado, pois estamos todas em nossas casas.

Folha Santista: O que vocês conseguiram produzir nesse período de distanciamento social?
Juliano:
Já fizemos três edições online do Cabaré Andar com Fé eu Vou, junto com outras praiaças do Brasil. Agora, no nosso aniversário, será a segunda edição online do Cabaré Viva Pagu. Terá participação exclusiva de mulheres que pertencem ao movimento. Nas outras edições, esta é a quinta, tivemos convidadas. Precisamos adaptar nosso trabalho ao formato online, já que tudo é diferente, desde a produção, divulgação, como você chega no público, enfim, tudo. No mês passado, fizemos, pela primeira vez, um cabaré com vendas de ingressos online com link fechado. Foi bem interessante e o resultado foi muito feliz.

Folha Santista: Qual foi a origem do grupo e o que motivou sua criação?
Juliana:
As praiaças foram pensadas, idealizadas por mim. Eu comecei a pensar em palhaçaria feminina por estímulo de um palhaço, que faz dupla comigo na Bela Companhia há mais de 11 anos. Eu estava com um bebê recém-nascido e minha companhia estava viajando. Eu, em casa, não podia ir. Foi quando o Plínio Augusto, esse palhaço, meu grande amigo, disse que tinha uma mulherada nos festivais que nós fomos se reunindo e falando em palhaçaria feminina. Então, ele deu a ideia de criar uma rede de palhaças. Assim começou o movimento, com um workshop só para mulheres, o primeiro em Santos, em outubro de 2016. Passamos a fazer encontros quinzenais na Cadeia Velha, no mesmo ano. Isso aconteceu até dezembro, pois o local fechou. Firmamos o nome, vamos ser praiaças, e fomos elaborando o grupo coletivamente. De 2016 para cá, muitas mulheres passaram pelo movimento, porque a gente já promoveu oficinas no Sesc, trouxemos uma amiga palhaça do México, a Darina Robles, o que atraiu mais mulheres. Fizemos uma parceria com a Casa Fórum, em Santos, e ficamos lá por um ano e meio neste espaço cultural. Depois fizemos outra parceria, com a Secretaria de Educação, e passamos a usar o espaço do Centro de Formação Darcy Ribeiro, até o momento da pandemia. Acredito que nesses quatro anos passaram pelas Praiaças entre 50 e 60 mulheres. Hoje, quem cuida dessa gestão, quem alimenta esse movimento, somos nós, dez mulheres.

Folha Santista: Quais os projetos para o futuro?
Juliana:
Estou desenvolvendo um projeto, para um pouco mais à frente, trabalhando com mulheres em situação de vulnerabilidade, para buscar o olhar para as dores dessas mulheres e como a gente consegue trazer essa compreensão a partir do riso, a partir do cômico. Não se trata de rir daquela dor, mas rir do que lhe pertence, aceitar. Quando a gente aceita, a gente consegue rir da gente, de si mesma, e não tornar aquilo um fardo, um peso. A nossa busca é o riso transgressor, a dramaturgia feminista. A gente busca nas nossas práticas, também, trazer o universo da mulher, trazer essas mulheridades para a cena. Como a gente faz isso? Através do estudo cômico, através do jogo cômico. É uma questão muito técnica. Outros projetos que já temos e vamos prosseguir: o Cabaré Viva Pagu, que produzimos desde 2018, e estamos indo agora para a quinta edição. Reúne números de palhaçarias, de circo, só com mulheres produzindo, protagonizando e realizando a parte técnica. Outro projeto que nós temos em coletivo é o Praiaças na Rua, que é um cortejo cômico-musical, no qual a gente caminha pelas ruas e vai cantando paródias feministas, que empoderem as mulheres, só de compositoras mulheres. Estreamos com o Sesc na Vila Pantanal, em Santos, e montamos em outros lugares, como Monte Serrat, Emissário Submarino, no Festa (Festival Santista de Teatro), em Mongaguá. Esses são os dois projetos que nós temos em coletivo. Além disso, cada uma tem sua carreira solo ou em dupla.