Elza Soares - Foto: Centro Cultural São Paulo/Reprodução

Por Henrique Rodrigues

Morreu, nesta quinta-feira (20), aos 91 de causas naturais, no Rio de Janeiro, a cantora Elza Soares, uma das mais míticas figuras da música brasileira. Com personalidade forte e voz estrondosa, Elza, mulher negra da periferia da cidade símbolo do país, foi um dos maiores símbolos de força e luta para as novas gerações negras de uma nação historicamente racista e misógina.

“É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais. Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”, diz a nota divulgada pela assessoria de imprensa da artista.

Nascida numa favela onde atualmente está a Vila Vintém, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Elza Gomes da Conceição começou sua carreira consagrada ainda no final dos anos 1950, com o sucesso “Se Acaso Você Chegasse”, um sambalanço lançado em 1959.

Além de inúmeras parcerias, Elza produziu 36 discos em seus quase 63 anos de carreira, sendo o último deles Planeta Fome, há pouco menos de três anos. Mesmo sendo um ícone da cultura brasileira, a cantora chegou a enfrentar um período de ostracismo, no início dos anos 80, quando foi atrás de Caetano Veloso, num hotel de São Paulo, e lá pediu sua ajuda para retornar ao estrelato.

O samba-rap Língua, nascido da parceria com Caetano e lançado em 1984, deu nova vida à estrela negra da música brasileira e a reconduziu de volta à cena artística em alto nível.

Vida pessoal

Elza Soares teve oito filhos. Os dois primeiros faleceram logo após o nascimento, enquanto os outros foram fonte de episódios trágicos que impuseram grande sofrimento à cantora. Gerson precisou ser dado para adoção por conta das condições financeiras da artista, Dilma foi levada com um ano de idade em 1950 e só foi reencontrada 30 anos depois e Manuel Francisco, o Garrinchinha (filho do jogador Garrincha), morreu aos 9 anos, em 1986, num acidente. Sara e João Carlos foram os únicos que acompanharam a diva do samba brasileiro por toda a vida.

Seu casamento com o astro do Botafogo, Mané Garrincha, durou 16 anos (1966 a 1982). Um ano depois, em 1983, o gênio do futebol faleceu aos 49 anos, vítima de cirrose hepática. A coincidência dessa relação tão marcante da história dos famosos brasileiros é que Elza faleceria no mesmo dia que seu ex-marido e mito do esporte mais popular do mundo, só que 39 anos depois, também num dia 20 de janeiro.

Confirma a discografia completa de Elza Soares:

Se acaso você chegasse (1959)

A bossa negra (1960)

O samba é Elza Soares (1961)

Sambossa (1963)

Na roda do samba (1964)

Um show de Elza (1965)

Com a bola branca (1966)

O máximo em samba (1967)

Elza, Miltinho e samba (1967)

Elza Soares, baterista: Wilson das Neves (1968)

Elza, Miltinho e samba – vol. 2 (1968)

Elza, carnaval & samba (1969)

Elza, Miltinho e samba – vol. 3 (1969)

Samba & mais sambas (1970)

“Maschera negra / Che meraviglia” (1970)

Elza pede passagem (1972)

Sangue, Suor e Raça (1972)

Elza Soares (1973)

Elza Soares (1974)

Nos braços do samba (1975)

Lição de vida (1976)

Pilão + Raça = Elza (1977)

Senhora da terra (1979)

Elza negra, negra Elza (1980)

“Som, amor trabalho e progresso / Senta a púa” (1982)

“Alegria do povo / As baianas” (1985)

Somos todos iguais (1985)

Voltei (1988)

Trajetória (1997)

Carioca da Gema – Ao vivo (1999)

Do cóccix até o pescoço (2002)

Vivo feliz (2003)

Beba-me – Ao vivo (2007)

A Mulher do Fim do Mundo (2015)

Deus É Mulher (2018)

Planeta Fome (2019)