Por Diogo Dias Fernandes Lopes*
Muitas vezes, no imaginário das pessoas, um turista estrangeiro seria representado por uma pessoa de camisa florida com chapéu. É quase uma caricatura. Assim como a representação do ato de viajar pode ser traduzida pela imagem de um avião contornando o globo terrestre.
E o guia de turismo? Talvez você o imaginaria dentro de um ônibus, falando no microfone, apontando os locais turísticos e transmitindo informações. Enquanto os turistas estariam olhando pela janela. Ele diria:
– A sua direita o Museu do Café, prédio inaugurado em 1922, na comemoração dos cem anos da Independência do Brasil. Tem estilo eclético e foi planejado para ser imponente e transmitir a força do mercado cafeeiro, além de atrair investimentos para o estado de São Paulo.
Mas será que essa imagem é limitada? Não o restringe a um profissional que decora uma fala e simplesmente a transmite ao público? Neste caso, uma gravação poderia substituir o seu trabalho, certo?
Mas eu diria que o guia de turismo tem um serviço muito mais complexo. Primeiramente, ele estuda um curso específico para tirar um certificado emitido pelo Ministério do Turismo. O guia de turismo deve sempre portar essa credencial exposta no peito.
Complementa regularmente seus estudos por conta própria e precisa estar sempre atualizado com relação ao que está acontecendo no local a ser visitado. A sua própria cidade, quando falamos em turismo receptivo, ou atento às informações necessárias quando leva turistas para diversos outros destinos turísticos dentro do estado, em nível nacional ou internacional, quando falamos de turismo emissivo.
Um guia torna-se mais completo e com maiores oportunidades quando fala um segundo idioma. E, mais ainda, quando fala alguns deles. Imagine, então, quando a língua é difícil como o chinês, o japonês ou o árabe. Aí sim, o guia é supervalorizado.
Hoje em dia há guias de turismo que desenvolvem serviços sem a utilização de um veículo. Os walking tours (passeios a pé), por exemplo. Outras vezes atuam em vans, micro-ônibus ou ônibus. Há aqueles que realizam um serviço bem exclusivo, no qual dirigem o próprio carro. É o chamado driver-guide. Aliás, uma tendência que se opõe ao turismo de massa.
É importante que o profissional seja um pouco generalista. Ou seja, que ele saiba um pouquinho de vários aspectos sobre a localidade visitada. Afinal, nunca se sabe que tipo de pergunta um turista pode fazer. Mas também um pouco sobre a região, o Brasil, seus aspectos políticos, históricos, geográficos, culturais e econômicos. Saber um pouco sobre os locais de origem dos próprios turistas pode ser uma carta na manga e criar um vínculo afetivo.
No entanto, muitos se especializam de acordo com o perfil do turista ou do “produto” que foi vendido. O turista pode estar a lazer ou a negócios. Pode ser caracterizado pela sua faixa etária (crianças ou idosos, por exemplo), pelo seu perfil econômico (turismo social, turismo de luxo) ou por diversas outras características e preferências. Já o produto turístico pode ser temático. Ecoturismo, turismo religioso, rural, compras, histórico-cultural são alguns exemplos.
Em lugares como Rio de Janeiro e São Paulo é comum encontrarmos guias que desenvolvem roteiros relacionados a arquitetura, arte grafite, cicloturismo, gastronomia.
Um mundo de possibilidades!
Ao mesmo tempo, o guia deve zelar pela segurança dos seus clientes. Deve ter noções de primeiros socorros, deve saber como melhor proceder em emergências médicas e onde levar o turista para minimizar todos os riscos que podem ser encontrados em uma cidade, ou até mesmo em uma área natural. Atravessar uma rua com um grupo deve ser feito de maneira correta para evitar acidentes.
Um pouco de percepção e psicologia também pode ser importante. Deve-se interpretar o gosto e o comportamento das pessoas. Isso pode minimizar conflitos e garantir a satisfação de maior parte dos participantes. Afinal, é muito difícil agradar a todos.
Calma! Não é só isso. O guia deve ser educado, atencioso, ter boa dicção e por que não ser engraçado? Alguns guias podem pecar por falar demais ou transmitir um conteúdo informativo que não é interessante ao seu público. E quem não quer se divertir? Dar risadas?
Geralmente contratado por uma agência de turismo, ele é a “imagem” da empresa e, por isso, deve saber representá-la.
Um bom guia de turismo estará atento para propiciar ao turista explorar os seus sentidos. Ele poderá levar o turista a lugares surpreendentes, mostrar o peculiar gosto de uma comida típica, atentar para que ouça o canto de um diferente pássaro, indicar um lugar para dar um refrescante mergulho ou uma boa opção noturna.
Ele, certamente, indicará um local para que compre uma lembrança e, assim, poder incentivar o artesão local e estimular a cadeia produtiva.
Formador de opinião, anfitrião do turismo e protetor do meio ambiente.
Hoje (10), é Dia Nacional do Guia de Turismo.
E o melhor presente é a sua valorização.
*Diogo Dias Fernandes Lopes é turismólogo, guia de turismo e diretor da agência Parceiros do Turismo