Gilberto Gil - Foto: Divulgação

O cantor e compositor Gilberto Gil completa 81 anos neste mês e segue em plena atividade. O artista se prepara para iniciar uma nova turnê ao lado de sua família – “Nós a Gente” – em território nacional e internacional, vai lançar um livro (“Gilberto Bem Perto”/HarperCollins) e gavou uma reality (Em Casa com os Gil/Prime Video).

Em entrevista à revista Veja, Gil falou sobre variados assuntos, entre eles, o fato de Preta Gil estar em tratamento contra um câncer no intestino. Para o artista, tal momento “é uma aflição”.

“É uma aflição ver uma menina, uma filha que nem tem 50 anos, sofrendo de uma doença apavorante. Falo com a Preta o tempo todo, com os médicos, e leio a respeito. Ela vive cercada pela família e estamos reunindo forças e propósitos para lhe dar o melhor tratamento, renovar a sua disposição e sua positividade espiritual. Juntamente a isso, temos de lidar com a ameaça da morte. Tenho dito palavras de resignação em relação àquilo que é inevitável, ao mesmo tempo que buscamos condições para cura”, disse Gil.

Masculinidades e bissexualidade 

Em outro momento da entrevista, é resgatado um diálogo de Gilberto Gil com Dráuzio Varella, em que o cantor afirma que todo mundo é bissexual.

“Somos todos filhos de um pai e de uma mãe, o resultado de uma junção de genes de um e de outro. Portanto, somos todos bissexuais. Agora, o quanto e como isso influencia na condição masculina ou feminina e no exercício da própria sexualidade, aí reside uma variação infinita de possibilidades”, analisa.

Em seguida, Gilberto Gil fala sobre as especulações que foram levantadas ao longo do tempo em que ele e Caetano Veloso formavam um casal e diz que isso não o incomoda.

“Encarava essas especulações como consequências da nossa proximidade, dos nossos gostos e encantamento mútuo. Talvez isso pudesse provocar fantasias a respeito do que seriam possíveis “desembocares” de sexualidade entre nós, o que sempre tratamos com naturalidade”, diz.

Gil reflete sobre o desejo por outros homens

“Atraído como tenho sido pelas mulheres, nunca. Nunca tive tesão num homem, como se diz. No entanto, por razões de delicadeza natural, educação, finura do trato, já tive proximidade com a sexualidade de outro, de outros […] sim [já me relacionei com pessoas do mesmo sexo], e isso não afeta meu modo de ver o assunto na minha vida. Essas questões de amor, amizade, respeito foram possíveis em momentos em que a sexualidade era uma coisa mais vibrante em mim. Como disse, houve épocas em que ela se aproximou de outros, mas nunca na mesma forma como de outras. Para mim, jamais foram coisas iguais”, finaliza.

Marcelo Hailer
Jornalista (USJ), mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e doutor em Ciências Socais (PUC-SP). Professor convidado do Cogeae/PUC e pesquisador do Núcleo Inanna de Pesquisas sobre Sexualidades, Feminismos, Gêneros e Diferenças (NIP-PUC-SP). É autor do livro “A construção da heternormatividade em personagens gays na televenovela” (Novas Edições Acadêmicas) e um dos autores de “O rosa, o azul e as mil cores do arco-íris: Gêneros, corpos e sexualidades na formação docente” (AnnaBlume).