O único espetáculo teatral no mundo com sobreviventes da bomba de Hiroshima, na 2ª Guerra Mundial, terá uma única sessão, gratuita, no Teatro Municipal Procópio Ferreira, Guarujá, nesta sexta-feira (10), às 20 horas.
A peça “Os três sobreviventes de Hiroshima” leva ao palco o ponto de vista de quem vivenciou o primeiro ataque nuclear da história e convive com as consequências desta tragédia humanitária, enfatizando a importância da busca pela paz.
A apresentação reconstrói a história do jovem Takashi Morita (à época com 21 anos) e das crianças Kunihiko Bonkohara (5) e Junko Watanabe (2), que estavam em Hiroshima em 6 de agosto de 1945, dia em que a bomba denominada Little Boy foi lançada pelos americanos nesta cidade do Japão.
Os horrores do episódio são narrados pelos próprios sobreviventes, com Bonkohara e Watanabe em cena e Morita em vídeo e interpretado pelo ator Ricardo Oshiro, no formato de teatro-documental, também conhecido como biodrama.
Os sobreviventes detalham o exato momento da explosão nuclear, os dias seguintes e a imigração para o Brasil, onde buscaram melhores oportunidades para suas vidas. O espetáculo é falado em português.
Fotos originais e canções da época executadas pelos próprios imigrantes dão o clima da apresentação, que é sucesso de público por onde passa, acumulando mais de 15 mil espectadores em cidades como São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Bauru, Presidente Prudente, entre outras.
Com roteiro e direção de Rogério Nagai, a peça deu origem ao projeto “Sobreviventes pela Paz”, cuja ideia nasceu em 2012, a partir de pesquisas sobre a comunidade nipo-brasileira e a imigração japonesa no Brasil. O trabalho envolveu um criterioso levantamento durante 12 meses e mais quatro meses para desenvolver o roteiro e a montagem do espetáculo.
“Ainda que o texto trate de uma tragédia, a peça leva uma reflexão sobre a paz por onde passa, com uma mensagem forte de resiliência, perdão e superação. Colocar os sobreviventes em cena é uma maneira que o projeto encontrou para mostrar a importância de propagar e manter a paz, para que acontecimentos como esse nunca mais se repitam”, explicou Nagai, que também entra em cena na montagem.
A sessão no Guarujá é uma realização da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, por meio de projeto contemplado pelo ProAC, e NAGAI Produções Artísticas e Culturais. O apoio é da Universidade Internacional da Paz (Unipaz) filial Baixada Santista e Bar Heinz.
A retirada antecipada dos ingressos é feita por meio da plataforma Sympla e na bilheteria do teatro, Avenida Dom Pedro I, 350, Jardim Tejereba), no dia da apresentação, 60 minutos antes do início do espetáculo, sujeito à lotação máxima do teatro: 357 lugares, sendo dois para cadeirantes.
Os sobreviventes
Takashi Morita tem 98 anos, nasceu em Hiroshima em fevereiro de 1924 e fazia parte da Academia Militar, tendo sobrevivido a um bombardeio incendiário em Tóquio, meses antes da bomba nuclear. Fundou a Associação dos Sobreviventes da Bomba Atômica no Brasil, que depois passaria a se chamar Associação Hibakusha Brasil pela Paz, para reivindicar os direitos dos sobreviventes que viviam no Brasil. É autor do livro “A última mensagem de Hiroshima”, pela Universo dos Livros.
Kunihiko Bonkohara tem 82 anos, nasceu em Shizuoka e estava no escritório do pai no dia do ataque, a 2 quilômetros do epicentro da explosão. Perdeu mãe e irmã nessa tragédia, cresceu com a saúde debilitada e, aos 20 anos, veio trabalhar nas lavouras do Paraná. Também faz parte da Associação Hibakusha Brasil pela Paz.
Junko Watanabe tem 80 anos e foi atingida, no dia, pela chuva negra (chuva radioativa) enquanto brincava com o irmão no pátio de um templo. Como só tinha 2 anos, a família escondeu sua condição de sobrevivente de Hiroshima, tendo conhecimento apenas aos 38 anos. Veio para o Brasil com 24 anos, se casou com um japonês e também atua na Associação Hibakusha Brasil pela Paz.