Por André Azenha*
Sou nascido e criado em Santos, mas São Vicente sempre foi uma cidade a qual admirei e tive relação, seja por amigos de longa data, como o querido João Beato, que atualmente desenvolve com competência sua carreira em Brasília e quem me levou, pela primeira vez, a uma Encenação da cidade. Graças a este amigo pude acompanhar alguns carnavais vicentinos, conhecer o tradicional Mares do Sul, o Cine Jangada (onde íamos com colegas de estudos secundaristas), o Cine 3D, na Biquinha, onde anos mais tarde cheguei a comentar como convidado em uma sessão do clássico “O Encouraçado Potenkim”, entre tantas outras atividades.
Depois, no período de faculdade de jornalismo, não foram poucas as vezes que estive, com amigos, em eventos culturais do município. Já trabalhando com cultura, na fase adulta, conheci e desenvolvi amizades com artistas e produtores de São Vicente a quem mantenho profunda admiração, que lá nasceram ou moram: Rogério Baraquet, Amauri Alves, Claudia Brino, Vieira Vivo e tantos outros.
Profissionalmente, também pude realizar algumas pré-estreias pelo Cine Roxy, lá no Brisamar Shopping. Sobre o Roxy, vale ressaltar que é no Roxy de São Vicente em que está o maior público de toda a rede Roxy, o que não é pouca coisa.
Talvez nem todos lembrem, mas São Vicente também realizou um importante e pioneiro Festival de Cinema Brasileiro, no fim da década de 90, antes inclusive de Santos passar a contar com festivais frequentes. Aqui um link da Folha de S.Paulo que evidencia a qualidade de programação da terceira edição daquele festival.
São Vicente e Santos dividem a mesma ilha, são cidades irmãs, fundamentais para o desenvolvimento do país e, não obstante, à cultura brasileira. Não preciso listar aqui tantos nomes fundamentais de São Vicente que contribuíram para um cenário cultural em âmbito nacional, mas posso lembrar de alguns: Ivani Ribeiro, José Miguel Wisnik, Elisabeth Nobiling, Sílvio Lancellotti (aquele mesmo das transmissões do Campeonato Italiano, pela Band nos tempos áureos), Walter Waeny etc. Certamente deixei passar muita gente importante neste texto. A intenção não era lembrar de tudo e todos, mas, sim, de evidenciar o quão São Vicente é pujante culturalmente.
Não pretendo e não vou generalizar, pois há pessoas bem-intencionadas na atual gestão municipal vicentina, como os queridos Kennedy Lui, a quem conheço há bastante tempo, músico talentoso de ótimas bandas, e Elizangela Bafini, a quem conheci mais recentemente e estava como Secretária de Cultura, e de quem recebia com alegria notícias dos sucessos das oficinas culturais nestes tempos difíceis que vivemos.
Mas não há como concordar que uma pasta tão necessária como a Cultura deixe de ser secretaria para ser juntada a outras áreas, como esporte. São segmentos fundamentais para a evolução de uma cidade, da construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, e cada uma tem suas particularidades, necessidades, demandas.
Tal opção por parte do atual prefeito Kayo Amado faz com que, instantaneamente, nos lembremos que em 1º de janeiro de 2019 o atual presidente decretou o fim do Ministério da Cultura. Não estou dizendo que Kayo e o “inominável” sejam iguais ou façam parte do mesmo grupo, mas que o rebaixamento da pasta cultural desperta, sim, a dúvida, a comparação, ainda mais se analisarmos a conjuntura dos últimos anos, quando a cultura tem sido frequentemente atacada, perseguida, menosprezada, pelo mandatário do país e seus seguidores. Acho que Kayo não pensa igual ao Bozo e deveria repensar sua atitude e recolocar a cultura vicentina no seu lugar merecido, de destaque, de caminhar com as próprias pernas e de respeito à história cultural de São Vicente.
Deixo meu apoio à classe cultural vicentina e espero que a decisão seja revista e a Secretaria de Cultura de São Vicente retorne tal qual uma Fênix mais forte do que nunca.
*André Azenha, jornalista e produtor cultural.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Folha Santista.