O gol que Pelé não fez - Foto: Reprodução de Vídeo

Santos foi rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. O meu Santos, que aprendi a amar vendo PeléEduClodoaldo Carlos Alberto encantarem o mundo, caiu. Sempre brinquei que sou torcedor do maior time pequeno do mundo. Um clube de uma cidade média do litoral paulista que ousou ser bicampeão mundial e, mais ainda, lançou para o planeta o maior jogador de futebol de todos os tempos.

Escrevo nas primeiras horas desta quinta-feira (7), pouco depois, portanto, de o Santos viver o seu primeiro rebaixamento. O seu pior momento. Escrevo sob uma enorme ressaca moral. E acordo, é claro, com os memes. A zoação é parte intrínseca do futebol. Entre eles, está a brincadeira do menino Soteldo de pé na bola, lembram?

O meme que mais repercutiu, no entanto, foi o do gol inusitado de Lucero, do Fortaleza, que bateu o último prego no caixão do Peixe, encerrando o jogo em 2 a 1. Ao ver o goleiro João Paulo adiantado, na tentativa desesperada de marcar o gol que acabaria com o pesadelo santista, o jogador do Fortaleza não teve dúvidas e chutou do meio de campo. Golaço. Veja abaixo:

O úncio que o Rei não fez

O famoso gol do meio de campo, reza a lenda do futebol, foi o único que o Rei Pelé nunca fez. Contra a Tchecoslováquia, na estreia daquela gloriosa seleção tricampeão do mundo na Copa de 70, no México, ele quase fez. A bola, caprichosa, no entanto, preferiu passar a centímetros da trave esquerda do goleiro. Para desilusão dos amantes do futebol em todo o mundo.

Fui rever o gol de Lucero nesta manhã, ainda inconformado. Não foi exatamente do meio de campo. Fossem levadas em consideração as rígidas regras do esporte bretão e seus recordes e não teria valido o meme. Mas valeu. Claro que valeu. Tanto o gol quanto a zoação. O que já ficou pra história é isto: o Santos foi rebaixado com o único gol que o Pelé nunca fez.

Um ano sem Pelé

Por falar nisso, daqui a algumas semanas completaremos um ano sem Pelé. Ainda é recente na memória de todos os santistas, moradores e torcedores, o dia em que a cidade parou para se despedir do seu Rei. Nascido, cescido e vivido em Santos há mais de 60 anos, nunca assisti comoção maior na minha cidade.

Um outro meme que se ouve entre dentes pelas ruas de Santos desde então é que o Pelé levou com ele a magia, o futebol encantado da Vila Belmiro. Como não sou supersticioso, mas por via das dúvidas acendo minhas velas, aguardo com certa ansiedade para ver.

O Peixe vai encarar daqui pra frente um orçamento muito menor, gramados com falhas, vestiários exíguos, estádios pequenos e times com um nível técnico muito abaixo que o de costume. O Santos vai encarar daqui pra frente a segundona. E a missão da volta não é nada fácil.

Mas estaremos lá. Acocorados nas arquibancadas de concreto pelos rincões do país que já foi do futebol, com nossas rezas e mandingas, credos, santos e patuás. Estaremos lá sim, assim como na vida, com a memória do que já fomos e os sonhos do que seremos. Ou queremos ser.

Estaremos lá com a esperança eterna de que um menino negro e pobre desembarque de Bauru – ou de qualquer outro local do planeta (se é que ele era desse planeta) – e venha nos redimir novamente com seu futebol feito de sonho.