Pixinguinha - Foto: Reprodução

“Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas, se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: Pixinguinha” (Ary Vasconcelos).

Dizem os dicionários que choro é: (ô) sm (de chorar)1-Ato de chorar; lamentação, pranto.2-Mús Conjunto instrumental constante de flauta, violão, cavaquinho, pandeiro e reco-reco.3-Música tocada por esse conjunto.4-Baile. Pl: choros (ô). Antôn (acepção 1): riso.

Há quem diga que choro é efeito fisiológico, que consiste em produzir grande quantidade de lágrimas nos olhos, quando se está em estado emocional alterado, quando se está com medo, com dor, saudade, depressão, tristeza, alegria e por aí vai.

Pixinguinha dizia que o “O choro é uma coisa sacudida e gostosa”.

Alfredo da Rocha Vianna Filho nasceu no dia 23 de abril de 1897. Esta é a data que todos os livros e muitos sites colocam como o dia oficial do natalício de Pixinguinha. Acontece que o pesquisador e pianista, Alexandre Dias, descobriu a certidão de nascimento, no cartório onde Seo Alfredo e Dona Raimunda batizaram a criança. Na certidão, consta o dia 4 de maio.

Para homenagear Pixinguinha e sua importância para a música brasileira, sobretudo para o Choro, Hamilton de Holanda idealizou a petição, que fixou o dia 23 de abril como o Dia Nacional do Choro, isso no ano 2000.

Pixinguinha é tão grande que merece duas datas de aniversário. Então, comemoremos no dia 23 de abril e comemoremos, novamente, no dia 4 de maio.

Num furo de reportagem, e sem recorrer a um médium, “entrevistei” Pixinguinha, que nos fala sobre sua vida, num papo bem leve e gostoso. Isso em 2011, para o Blog do Choro de Bolso.

Choro de Bolso: Pixinguinha, de onde vem esse apelido?

Pixinguinha: Minha avó Edwiges, que era africana, me chamava de Pizindin, que significa menino bom. Mais tarde contraí varíola, que na época era também conhecida como bexiga. Então, ganhei o apelido de “Bexiguinha”. Da junção dos dois surgiu “Pixinguinha”.

Choro de Bolso: Pixinguinha, você teve muitos irmãos?

Pixinguinha: Sim tive 13 irmãos.

Choro de Bolso: E nos diga uma coisa, todos tocavam, você ouvia muita música em casa?

Pixinguinha: Papai tocava flauta, Edith tocava piano e cavaquinho, Otávio (mais conhecido como China) tocava violão de seis e sete cordas e banjo, cantava e declamava. Henrique e Léo tocavam violão e cavaquinho. Hermengarda não se tornou cantora profissional diante da proibição de papai. Além disso, aconteciam muitas festas em casa, e era comum a presença de músicos como Villa-Lobos, Bonfiglio de Oliveira, Irineu de Almeida, Sinhô e muitos outros. No dia seguinte a cada noitada, tirava de ouvido os chorinhos aprendidos na noite anterior, numa flauta de folha. Mas meu grande sonho mesmo era aprender a tocar requinta (uma espécie de clarinete). Não tendo dinheiro para me comprar o instrumento, papai me ensinou a tocar flauta mesmo.

Choro de Bolso: Quando você começou a tocar profissionalmente?

Pixinguinha: Por volta de 1911. Eu havia ganho de papai uma flauta italiana, uma Balancina Billoro, e com essa flauta comecei a participar de bailes, quermesses e fiz minha primeira gravação, com o conjunto Pessoal do Bloco. Meu primeiro emprego como flautista foi na Casa de Chope La Concha, e é também dessa época minha primeira composição, o choro “Lata de Leite”.

Choro de Bolso: Como surgiu o conjunto Oito Batutas?

Pixinguinha: No final da 1ª Guerra (1919), em decorrência da gripe espanhola, as salas de cinema ficavam vazias, pois todo mundo temia ficar em lugares fechados com medo de ficar doente. Então, para atrair o público, o Cinema Odeon contratou Ernesto Nazareth para tocar piano na sala de espera. Preocupado com a concorrência, Isaac Frankel, gerente do Cinema Palais, que ficava quase em frente ao Odeon, me convidou a formar um conjunto para tocar na sala de espera. Chamei, então, Donga (violão), China (violão e voz), Nelson Alves (cavaquinho), Raul Palmieri (violão), Luiz Pinto da Silva (bandola e reco-reco), Jacob Palmieri (pandeiro) e José Alves Lima (bandolim e ganzá), posteriormente substituído por João Pernambuco (violão).

Choro de Bolso: Qual era o repertório do grupo?

Pixinguinha: O repertório do grupo variava entre modinhas, choros, canções regionais, desafios sertanejos, maxixes, lundus, corta-jacas, batuques, cateretês etc.

Choro de Bolso: Pixinguinha, além dos Oito Batutas, de que outros grupos você participou?

Pixinguinha: Toquei em muitas formações musicais, tais como Orquestra Típica Pixinguinha-Donga (1925), Orquestra Victor Brasileira, Orquestra Típica Victor (1930), Grupo da Guarda Velha (1931), Diabos do Céu (1933), Cinco Companheiros (1937), a dupla Benedito Lacerda & Pixinguinha (1946) e o grupo Velha-Guarda (1956) etc… Fui o primeiro orquestrador da música popular brasileira, contratado pela RCA Victor em 1929, e tive também uma grande dupla com Benedito Lacerda.

Choro de Bolso: Quantas músicas você escreveu?

Pixinguinha: Ah, não sei ao certo, mas aproximadamente 2 mil músicas.

Choro de Bolso: Seu maior sucesso, Carinhoso, como surgiu?

Pixinguinha: Eu tinha 20 anos em 1917, quando escrevi o Carinhoso. Na partitura, coloquei o ritmo como “polca lenta”, coloquei numa gaveta e lá deixei por 11 anos, com medo do que as pessoas falariam de um tema bem fora dos padrões do que se fazia na época. Gravei a primeira vez em 1928, com a Orquestra Típica Pixinguinha-Donga. A letra veio depois. Em 1936, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro recebia o espetáculo Parada das Maravilhas, promovido pela então primeira-dama Darcy Vargas. A atriz e cantora Heloísa Helena procurou o compositor João de Barro, o Braguinha, pedindo uma música para apresentar no espetáculo. Como Braguinha não tinha nenhuma música nova, ele aceitou a sugestão de Heloísa para que pusesse versos no choro instrumental Carinhoso. “Procurei imediatamente o Pixinguinha”, relembra Braguinha, “que me mostrou a melodia num dancing (o Eldorado) onde estava atuando. No dia seguinte entreguei a letra a Heloísa que, muito satisfeita, me presenteou com uma bela gravata italiana”.

Choro de Bolso: Está bem, Pixinguinha. Obrigado pela entrevista, obrigado por tudo que você fez pela música brasileira e parabéns por mais um aniversário.