Foto: Ronaldo Barreto

Sou uma mulher negra, nascida em Santos no início dos anos 1980. Filha única de mãe administradora e pai engenheiro e músico – que por percorrer toda a Baixada com sua bicicleta, sempre descobria os cantinhos mais interessantes da região que me foram apresentados desde a infância.

Meus pais instituíram a primeira geração de graduados de suas famílias, forjando o que seria uma classe média preta em Santos, o que me possibilitou alguns acessos privilegiados, embora solitários, a espaços e bens tidos como exclusivos da branquitude.

Trago isso porque reconhecer que ser a única negra na escola particular naquele momento era algo singular, por exemplo, me instigou a colocar a cultura e a vivência negra e periférica como centro das minhas pesquisas acadêmicas e da minha atuação.

O caminho esperado para as estudantes no Ensino Médio das escolas pagas é o ingresso na universidade pública. Não fugi a regra. Já me interessava muito por arte e organização de eventos, por isso, quando descobri o curso de Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense no Guia do Estudante, me identifiquei imediatamente.

Mudei pro Rio de Janeiro em 2001 e lá residi por 17 anos. Neste tempo, cumpri meu objetivo inicial da graduação, com pesquisa sobre a cadeia produtiva do hip hop no Brasil; foi através do movimento hip hop também que iniciei minha jornada na coordenação de projetos sociais – que é o que me move e onde encontro o sentido de (r)existir – embora também transite entre a produção de eventos e a pesquisa acadêmica. Em 2017, concluí o mestrado em Cultura e Territorialidades, refletindo sobre o Parque Madureira, no subúrbio carioca, e achei que era hora de pensar em voltar.

Em 2018, voltei a morar em Santos e conheci o Instituto Procomum, no ano seguinte comecei a atuar como gestora da Colaboradora – empreender e transformar, programa que une capacitação, ampliação de repertórios e estimula a colaboração entre empreendedores criativos de impacto da Baixada Santista. Já estamos na segunda edição do projeto e têm sido precioso descobrir a produção pulsante que temos na região, criar pontes entre os realizadores e aprender com suas experiências. 

Assim, minha coluna seguirá um caminho que me parece natural, que é o de refletir e dar destaque para a produção e os produtores, que movimentam a arte, a cultura e promovem impacto social positivo na Baixada. Estou desafiada e animada em compartilhar essas histórias com os leitores da Folha Santista a partir da próxima semana.