Segundo Freud, o serumano fuma cigarro e masca chiclete por nostalgia do seio materno. O peito feminino é a primeira apropriação material na vida física. Saído do útero é nele que a criatura vai satisfazer suas três necessidades animais: alimento, água e amor.
Daí à erotização dos seios na fase adolescente e adulta tudo segue como consequência natural. Se, passada a fase das premências sexuais, o homem siga vivo e, consequentemente, com desejo, substituindo o objeto sexo por poder, é também no símbolo absoluto do seio feminino que se vai significar a expressão máxima do poder político: a teta estatal, que a todos deveria nutrir, e que é sistematicamente sugada por poucos gulosos.
Sou um absoluto admirador de seios. Mamãe, certa feita, comentava entre amigas: “Coitado do Manoelzinho, tive que o desmamar aos três meses…”. Eu, que passava pela sala, interrompi o chá daquelas senhoras por dizer à D., com minha melhor cara de cafajeste debutante, que “era por isso que eu hoje não podia ver um peito que caía de boca…”. Mamãe empombou-se e me descomposturou depois, mas eu passei a gozar da reputação de “menino divertido” entre suas amigas.
Certa feita estava no carro com C., em franca crise depressiva. Penalizada com meu estado, ela deitou-me em seu colo, abriu a camisa e deixou pularem do soutien-gorge dois melões esplêndidos, dizendo “chore aqui”. Enfiei meu rosto no vale entre aquelas montanhas encantadas e verti lágrimas muito sentidas. Quando voltei, uma onda de alegria e fé na vida havia varrido a depressão.
R. and me copulávamos por horas, precursores que fomos desta modinha de tantra yoga. Era um tolher do ápice do sexo por se perpetuarem as delícias do paraíso cá no purgatório. Mas havia um momento, já extenuados, que ela me pedia um jorro, e nunca que era entre pernas ou lábios. M. o queria sobre seus róseos seios de loira Boticelli.
Eu então me postava de joelhos, meio sentado em seu umbigo, e com as mãos ordenhava o hidrante que lançaria o jato arrefecedor às suas chamas. Só então ela urrava e virava os olhos. Sempre que rememoro estas doçuras me vem à mente a cópula externa dos cavalos marinhos, em que o macho é quem engravida.
R., outra R., tinha seios antológicos, de uma sensibilidade inigualável. Os mamilos, eu os gostava de morder levemente. Não precisava mais nada pra eu ouvir o farfalhar das rendas íntimas agitadas pelo fluxo de um jato clitoriano. Também ela tinha compulsão por seios e, não raro, implorava por me sugar os mamilos. Eu deixava. Nos dizíamos que, se uma bruxa nos amaldiçoasse, convertendo-nos de humanos em sereia e tritão, nada mudaria o nosso amor. Com bocas e seios nos alimentávamos.
J. trabalhou anos comigo. Era uma relação profissional de extremo respeito e mútua admiração. Os anos de casamento e a amamentação a convenceram, certa feita, a colocar próteses de silicone, por empinar os seios que alegava quedos. Creio exagerasse, nunca os vi in natura, mas o exame superficial de seu torso vestido demonstrava harmonia.
Depois da operação surgiu no labor autoconfiante, empinada, olhar desafiador. Parabenizei-a. Perguntei, mera curiosidade, que efeito estético se operava. Disse-me que ficara ótimo. Pedi pra ver, e ela, a amizade nos permitia, mostrou. Só estávamos nós na sala.
Eu falei “Posso?”, ao que ela assentiu erguendo as sobrancelhas e franzindo lábio como a dizer “Pode, né?”. Mamei por alguns minutos, agradeci. Perguntou se tinha diferença de um seio natural. Falei que não, fui elegante, mas guardei a impressão de ter abocanhado uma bexiga de aniversário.
Claro que a impressão parte de um preconceito idiota, o gosto é o mesmíssimo, somado ao fato de a mulher estar mais segura de si. A impressão de artificialidade, analisei depois, se dava pelo fato de não haver uma relação passional entre nós, tão somente a respeitosa amizade de dois colegas de trabalho.
Eu ficaria dias contando histórias, não tanto por uma larga experiência senão por já me irem muito somados os anos. Mas paro. Só escrevi a crônica mesmo pra dizer que os seios mais apetitosos da pintura universal são da lavra de Délacroix.
No auge da Revolução Burguesa da França o pintor retratou a Liberdade (de mercado apenas, como se viu no pós) como uma jovem de magníficos seios à mostra. A França, pátria da liberdade burguesa, presenteou os EUA, pátria do liberalismo que escraviza, com uma estátua da Liberdade. É uma interessante metáfora. Os EUA depois devolveram o presente ciclópico na forma de miniatura. Uma estatueta da liberdade repousa numa das pontes do Sena, como a situar a França em suas dimensões acanhadas.
Esses dias um astrólogo radicado nos EUA, acossado por dívidas e sem soldo ou sinecura fez um comovente pedido de teta, em público. Usou até de termos chulos, falou que queria dindin e que comendas se as enfiassem onde melhor aprouvesse. A um dos donos do dinheiro, a quem lançou a pejorativa alcunha Zé Carioca, ridicularizando o patriótico de seus trajes, intimou que lhe desse uma teta, senão derrubava o governo liberal. Quer sua cota de leite da liberdade. Faz jus, por ser o suporte intelectual da safadeza toda.
Conta-se que Zé Carioca prontamente atendeu o pleito, vai descolar uma tetinha pro astrólogo saldar suas dívidas. Zé Carioca tem fixação, tal e qual eu tenho, nos peitos da Liberdade. Fez até próteses em fibra de vidro, horrendas, que põe a ornar o portal de suas feias lojas.
Eu acho que o astrólogo vai ficar mais puto da vida ainda quando perceber que lhe deram a chupar uma teta de fibra de vidro.