Foto: Agência Brasil

É fato que desde 2013, pelo menos, a esquerda foi perdendo espaço e eleições em todos os níveis. Isso para nos limitarmos a pensar no Brasil. Mais do que eleições, perdeu eleitores e, pior, entre os mais pobres, na classe média e entre os jovens. É muita desgraça para resumir num artigo, quiçá num livro.

Este é novamente um ano eleitoral, salvo chuvas, tempestades e golpes.

Foi a partir de pleitos municipais e de gestões bem-sucedidas, inclusive em Santos, que as forças progressistas encabeçadas pelo PT foram vencendo resistências de amplos setores sociais até chegar a governar o país.

Todavia, lá no final dos anos 80 e início dos 90, o mundo era outro e o Brasil também o era.

O mundo era analógico, me lembro quando os técnicos da Prodesan vieram me consultar sobre o que eu pretendia informatizar na Secretaria de Cultura de Santos e quando o Cancello me falou de um sistema que haveria na Faculdade de Medicina da USP que punha em contato direto por computador uma pá de coisas no mundo. Não era nem grego isso, era sânscrito.

Emprego ainda era emprego, fosse no setor público ou privado. Ah! Obviamente havia as profissões liberais, sonho dourado das classes médias, ao lado do funcionalismo público.

Os jovens, em levas cada vez maiores, tentavam entrar nas universidades, com vagas insuficientes ou muito caras em carreiras tradicionais: Direito, Medicina, Engenharia.

A recente redemocratização abria inúmeras perspectivas de atuação política tanto para indivíduos quanto para movimentos sociais. Consolidava-se a perspectiva de um futuro melhor, conquistado pelos métodos de luta democráticos, tanto institucionais quanto não.

Outra dimensão, não tão nova nem necessariamente progressista, ganhou corpo: a ética na política, em especial o combate à corrupção. Essa dimensão juntava a juventude, diferentes classes, ideologias e também falsos moralistas. E mobilizava, ou com ela se gastava muita saliva e energia.

Bom, e agora? Agora, o mundo é digital, é cada vez mais capitalista, cada vez mais globalizado e contraditoriamente individualista. O modelo de socialismo que vinha do século XIX e pareceu que seria vitorioso no século XX, ruiu. O trabalho se precarizou, o emprego sumiu. Curiosamente, entre os jovens, muitos, mas muitos mesmo, acham que é isso mesmo e que ser uberizado os liberta da exploração. A classe trabalhadora que nós velhos conhecemos, aquele monte de operários concentrados numa fábrica, explorados, mas solidários, se não desapareceu, está com os dias contados.

O conhecimento está ao alcance de um dedo. Não precisa ser adquirido, acumulado, transmitido de pessoa à pessoa. As carreiras tradicionais são um anacronismo.

E, pior, os que se propunham a criar uma sociedade solidária, além de falar para as paredes ainda são rejeitados como os maiores corruptos da História.

Como recuperar-se e recuperar terreno político? Como convencer que a política é a forma de superar não apenas a crise econômica, social e moral? Como recriar e difundir padrões de comportamento e ação fraternos, solidários? Como provar, a partir do próximo processo eleitoral municipal, que a Terra é redonda e gira em torno do Sol?