Julinho Bittencourt e Roberto Biela, dois dos fundadores do Torto - Foto: Reprodução de Vídeo

Na próxima sexta-feira, dia 23 de agosto de 2024, o Torto faria 40 anos. Ou seja, há 40 anos, este que vos escreve, junto com o cantor, baterista e percussionista Roberto Biela, e o visionário Alfredo de Rosato – o autor da ideia – inauguramos uma história na cidade de Santos.

Há várias coisas que me assombram nisto. A primeira de todas é a quantidade de tempo que se passou. Éramos meninos na época e não tínhamos a menor ideia de que o Torto iria se transformar no que se transformou.

E é aí que entra a outra parte do meu espanto. Hoje, passados 40 anos, continuo encontrando gente que me diz o tanto que aquele local acanhado, abarrotado, enfumaçado, enfim, o tanto que o Torto foi importante para as suas vidas.

O Torto, assim como tudo o que se cria, se transformou. Escapou de nossas mãos logo no primeiro momento e se tornou algo inimaginável. Todos nós, tanto os criadores, quanto funcionários e amigos próximos, pensávamos em um local com pessoas sentadas, bebendo suas cervejas e ouvindo calmamente música predominantemente brasileira.

O que se passou – e quem conheceu sabe – foi uma barafunda. Logo na primeira noite, em um local onde caberiam no máximo 100 pessoas, entraram mais de 600. Todas absurdamente exaltadas e felizes, pulando e cantando loucamente durante horas e horas seguidas. O resultado foi uma multidão na porta, reclamações de vizinhos e a polícia mandando encerrar a noite. Ou seja, um sucesso absoluto.

O Torto, como tudo, é resultado de uma época. Réu confesso, admito que aquilo tudo lá do início foi uma total e deliciosa irresponsabilidade. Hoje, com as leis vigentes, o Torto jamais teria existido. Pelo menos não do jeito que foi. Mas ainda bem que existiu e conseguiu sobreviver por 33 anos, e isso graças ao Michel Pereira que assumiu o negócio a partir da década de 90.

E, com isso, os únicos machucados com toda aquela irresponsabilidade, e não são poucos, foram os feridos de paixão. Sempre tendo como pano de fundo as inúmeras e tolas canções de amor que por lá foram entoadas insistentemente por vários músicos maravilhosos.

Nesta pequena crônica de espanto, fiz questão de citar apenas três nomes além do meu para não cometer nenhuma injustiça. Foram tantos e tão bons que não caberiam em lugar nenhum. Carrego todos, sem exceção, na neblina do passado, como diz a canção do cubano Bola de Neve.

Hoje, já passado dos sessenta, não quero virar um velhinho com apenas uma aventura, apesar de longeva, na vida. Antes do Torto, já havíamos vivido. E depois dele, com os seus desdobramentos, também. E continuaremos até onde for possível, com a memória do querido boteco e as conexões que ele nos permitiu.

Amo as pessoas e graças ao Torto pude – e todos pudemos – conviver com elas de maneira estreita e enlouquecida. E é só isso que vale e faz valer à pena até hoje. No mais, para comemorar a data, espero que cada um encontre seu Torto na vida. E se esbalde a valer.