Caso lhe perguntassem quem foi o maior compositor brasileiro de todos os tempos, qual seria sua resposta? Tom? Chico? Noel? Pixinguinha? Por mais que eu goste dos quatro nomes que indiquei, e gosto muito mesmo, não levaria mais de dois segundos pra responder: Villa-Lobos!
Polêmico, compositor compulsivo, contador de causos, cozinheiro que criava vários pratos e absolutamente genial, Villa é extremamente conhecido. É nome de rua, shopping, parque, todo mundo em algum momento já viu alguma foto de Villa, com o inseparável charuto, mas e sua obra? Essa continua bem menos famosa que o compositor.
Exceção feita a algumas das “Bachianas”, uma ou outra peça de violão, e a “Melodia Sentimental”. O grosso da obra do maestro continua desconhecida do grande público e mesmo dos músicos.
Muita coisa no que diz respeito a sua biografia também é desconhecida, ou tem muitas inconsistências. As viagens pelo Brasil, por exemplo. Villa se gabava de que o mapa do Brasil foi sua grande escola, dizia ter até naufragado numa canoa, falava em encontros com índios, mas, segundo Paulo Renato Guérios, autor de um dos mais importantes estudos sobre Villa, existem poucos dados empíricos capazes de provar tais fatos, ou mesmo de elucidar a trajetória de Villa-Lobos entre 1905 e 1912.
As únicas viagens documentadas são para Manaus, como violoncelista de uma companhia artística, e para Paranaguá, onde trabalhou como atendente no comércio local.
Villa foi quase um autodidata. Iniciou seus estudos de música com o pai, que era músico amador. Sabe-se que, em 1904, se matriculou no Instituto Nacional de Música para ter aulas de violoncelo num curso noturno – porém, não existem registros de que tenha frequentado as aulas nos anos seguintes.
No entanto, ele estudou a fundo partituras de compositores europeus, como as do francês Claude Debussy [1862-1918] e do russo Igor Stravinsky [1882-1971], ao mesmo tempo em que vivenciou o universo da música popular, ao tocar não apenas nas rodas de choro, mas também com seresteiros.
Dessa junção da música dos grandes compositores da história da música, sobretudo os franceses, e Bach, com essa experiência com as rodas de choro, surge a grandiosa obra de Villa, nacionalista, vanguardista, muitas vezes selvagem, mas sempre divina.
O dia 5 de março marca o nascimento desse grande compositor, que dizia: “É preciso fazer o mundo inteiro cantar. A música é tão útil quanto o pão e a água”, ou ainda: “… O Brasil já tem uma forma geográfica de um coração. Todo brasileiro tem esse coração. A música vai de uma alma à outra. Os pássaros conversam pela música; eles têm coração. Tudo o que se sente na vida se sente no coração. O coração é o metrônomo da vida. E há muita gente na humanidade que se esquece disso. Justamente o que mais precisa a humanidade é de um metrônomo. Se houvesse alguém no mundo que pudesse colocar um metrônomo no ‘cimo da Terra’, talvez estivéssemos mais próximo da paz. Por que se desentendem, vivem descompassados raças e povos? Porque não se lembram do metrônomo que guardam no peito: o coração…”.
Em tempos de desmonte de políticas públicas de cultura, de criminalização das artes e artistas, necessário se faz redescobrir Villa-Lobos, ouvir Villa-Lobos, estudar Villa-Lobos, o nosso maior compositor.