Está circulando pela rede um abaixo-assinado contra a tendência do fechamento de bares de Santos com música ao vivo. Essa tendência é causada, principalmente, por alguns moradores insatisfeitos das regiões onde esses bares se estabelecem, que fazem uso das rígidas leis locais para justificar suas reclamações, mesmo que a música esteja dentro de horários e padrões sonoros permitidos. Até o momento deste artigo ser escrito o documento já passava de 3 mil assinaturas e o objetivo era chegar a um mínimo de 5 mil.
Enquanto os bravos guerreiros musicais da nossa região batalham por seus lugares à lua, vem a notícia de que o governo britânico deu isenção de 50% nos impostos sobre casas noturnas de pequeno e médio porte, que tÊm música ao vivo, da Inglaterra e País de Gales. Estima-se que a medida trará de volta à economia do setor, de cara, cerca de 1,7 milhão de libras.
Não dá para comparar as duas realidades. De um lado um país do chamado “primeiro mundo”, onde os altos impostos são revertidos em benefícios à população e que, desde o advento dos Beatles, entendeu a importância de valorizar e incentivar de várias formas a produção musical local. Do outro, nosso amado Patropi, com impostos que, em boa parte, revertem em benefício de poucos e que, antes dos Beatles, teve Carmen Miranda, Ary Barroso e a Bossa Nova, seguidos por artistas como Jorge Ben Jor, Ivan Lins e Milton Nascimento, todos devidamente reconhecidos mundialmente, mas que não soube se aproveitar em quase nada dessa fama, preferindo ficar na “comodidade” da imagem de ser o país do Carnaval e do futebol.
Não são só as queixas dos moradores que têm causado o fechamento de casas de música ao vivo em nossa região. Desde a tragédia da boate Kiss, em 2013, as leis de segurança endureceram, onerando ainda mais os proprietários que já pagam altas taxas para manter seus negócios. Há um outro fator, que talvez não tenha sido tão claramente percebido: hoje a música ao vivo não parece mais ser condição sine qua non para atrair público. É só dar uma circulada por Santos numa sexta à noite que você vai encontrar vários bares lotados, sem música ao vivo.
Diante desse panorama, pode-se propor duas reflexões. Do lado dos vereadores e políticos em geral, que entendam o quanto o funcionamento do setor de entretenimento com música ao vivo é fundamental para a economia de uma região tão rica em talentos, e a partir disso elaborem leis e mecanismos que possam facilitar seu funcionamento. Do lado dos músicos, o que se pode fazer para tentar sair um pouco da zona de conforto, rever a relação quase tóxica com proprietários de bares e casas noturnas buscando, em parceria, ideias que possam redespertar o interesse do público em geral pelo que temos de mais valioso: a nossa Arte.