Após 35 anos de trabalho, motorista do Samu pisa no freio e se aposenta

José Jessé de Carvalho, de 74 anos, parou de trabalhar e foi homenageado

Foto: Isabela Carrari/PMS

O jeito surpreso e emocionado no reencontro com colegas de trabalho, com quem conviveu durante boa parte dos seus 35 anos de profissão, revelou rapidamente a personalidade de José Jessé de Carvalho.

Aos 74 anos, o motorista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) é tímido e discreto, mas, segundo amigos, sempre pronto a ajudar e trabalhar. Nesta quinta-feira (9), uma homenagem de despedida, depois de se aposentar, marcou um ciclo de dedicação e profissionalismo em uma atividade que exige agilidade, equilíbrio e disposição.

Durante todos esses anos de trabalho, Jessé, como é conhecido, conduziu as ambulâncias do serviço de urgência e emergência 192, hoje Samu. Mas o dia a dia era bem mais do que dirigir ou conhecer trajetos e atalhos. Ele também tinha domínio dos equipamentos e das técnicas de apoio no socorro às vítimas, funções para as quais também era treinado.

Após muito tempo atuando na linha, como se diz em relação aos atendimentos de urgência e emergência, Jessé passou a realizar o transporte de pacientes em tratamentos de saúde. Este ano, a família já conversava sobre a sua aposentadoria, que se consolidou durante a pandemia do novo coronavírus, período em que ele precisou se afastar por ser do grupo de risco.

“Soubemos pela família que ele estava triste por não ter tido a chance de se despedir dos colegas. Por isso tivemos a ideia da homenagem, porque não poderíamos deixar passar em branco todo o trabalho dele. Jessé é um exemplo de profissional, querido, amigo e íntegro”, afirmou a coordenadora do Samu em Santos, Mariane Brunini Buonfiglio.

A despedida ocorreu na sede do Samu, na Rua Barão de Paranapiacaba (Encruzilhada). Ao chegar, acompanhado da mulher, filhas e netos, Jessé, pensando que iria apenas assinar alguns documentos, encontrou os colegas à sua espera ainda do lado de fora do prédio. “Eu até tremi. Não esperava. Mas fico muito feliz. Trabalhei muito, fiz minha parte, protegendo sempre os pacientes com muito cuidado”.

Ao conversar com Jessé, ele rapidamente começa a se recordar do dia a dia da profissão. “Era muito risco, mas sempre fui muito calmo”, conta, logo confessando que não conseguia se recordar de algum caso específico. A emoção por conta da surpresa não deixava.

“Foram muitos casos, inúmeros, e até hoje encontro pessoas que socorri e que me reconhecem. Eu fico sempre muito emocionado. Agora chegou minha hora de parar, estou me despedindo, mas estou com saúde, estou bem”.

Tantos anos de atividade darão espaço para outra fase na vida de Jessé, que planeja descansar mais e aproveitar o tempo em família, com a mulher Maria, as filhas Viviane e Silva e os netos Gabriel e Larissa. E ‘Vivi’ resume bem o Jessé trabalhador e pai de família. “Sempre atento e preocupado com as pessoas. Foi a profissão certa para ele”.

Referência
Quando os colegas falam de Jessé, são só elogios. A técnica de enfermagem Iara Capella tem um motivo especial, já que conheceu o amigo em uma circunstância particular. “Eu tinha uns 20 anos e ele foi chamado para transportar meu ex-marido para uma UTI. Eu estava muito nervosa e chega um senhor solícito, me acalmando muito. Dois anos depois, entrei na Prefeitura por concurso e nos reencontramos no trabalho”.

Agente de portaria, Sosígenes Alves confirma a dedicação de Jessé. “Sempre trabalhou direto. Ele chegou a ser chefe dos motoristas. Era exemplar”. E para o enfermeiro José Barbosa da Silva, fica a sensação de dever cumprido por Jessé, com quem trabalhou por 20 anos. “Ele sempre se empenhava nas capacitações e treinamentos. No trabalho em equipe, não temos quem brilhe mais”.

Sair da versão mobile