A fachada do Galpão Cultural - Foto: Sander Newton

Os integrantes do Galpão Cultural, espaço onde são desenvolvidas atividades artísticas e culturais no Parque Novo Anilinas, em Cubatão, divulgaram um texto no Facebook para denunciar o que chamam de perseguição a que estão sendo vítimas por parte do diretor de turismo da cidade, Fernando Santos de Oliveira.

Segundo Alisse Ribeiro, integrante do grupo, ao longo dos três anos de atividades, o Galpão vem promovendo o intercambio, a formação e a difusão das artes em Cubatão. No entanto, o trabalho vem sendo prejudicado há um ano e meio, desde que o diretor assumiu o posto.

“Assim que ele entrou na direção do parque, as coisas começaram. Ele passou a nos perseguir sobre o uso dos espaços do parque, além do próprio Galpão. O Parque Anilinas tem uma área verde bem grande, de gramado e árvores. Tem uma parte de pingue-pongue e quando a gente requisitava esse espaço, ele vetava o uso”, alega.

Alisse afirma que a direção de turismo não dava resposta aos ofícios que ela mandava solicitando a utilização do local. “Em alguns momentos, ele vinha até o galpão e ameaçava, dizendo que a gente iria ter que sair de lá, porque ele daria o espaço para outro setor. Isso aconteceu umas cinco vezes. Na última, a gente disse que não ia sair, porque é desenvolvido aqui um trabalho importante”, destaca.

“Tentamos manter um diálogo de todos os jeitos, mandamos documentos, participamos de reunião unificada, reunião separada, com a Secretaria de Cultura com a de Turismo. Este ano, teve uma reunião com os secretários de Cultura e Turismo. Eles se reuniram, discutiram sobre o espaço e decidiram coisas por nós que não chegaram até a gente. Só chegou que a gente não poderia mais entrar no parque de bicicleta. O detalhe é que só nós não podemos. Os funcionários do cinema podem, da Secretaria de Cultura e de Turismo podem, funcionários da limpeza podem”, ressalta Alisse.

Ela conta que até a fiscalização entende a situação. “Alguns controladores de acesso, felizmente, não chamam a polícia para uma galera que está apenas tocando música, com pais, mães e crianças reunidos. O diretor se denomina dono do Parque Anilinas”.

Alisse diz que tentou em várias oportunidades manter um diálogo com Oliveira. “Algumas vezes eu me prontifiquei a ir na sala dele, fazer reunião, conversar. Nessas reuniões ele dizia que entendia o trabalho, que apoiava o trabalho a ser desenvolvido por nós do Galpão, que era só a gente encaminhar os documentos, que estava tudo certo. Disse que a gente podia andar de bicicleta, podia passar um pouco do horário nos eventos e que era só falar com ele. Colocamos tudo no papel, mas ele não respondia e não dava autorização. Pelo contrário, de uma hora para outra, ele negava. Ligava para o funcionário e dizia que o evento não ia acontecer, pois ele não tinha autorizado”.

Para ela, trata-se de uma situação muito desgastante. “Estamos há um ano e meio assim. Resolvemos publicar o texto no Facebook, porque na última vez ele mandou um PM homem e uma PM mulher para o local. Eles invadiram com agressividade e foi muito constrangedor, pois tinha público assistindo um filme. Depois, a gente conseguiu conversar, explicar a situação, dissemos que tínhamos enviado vários documentos, mas eles não responderam. A própria policial orientou que a gente denunciasse isso e encaminhasse nossa carta à prefeitura, relatando todos os fatos, porque estão cerceando nosso trabalho de diversas formas”.

Ponto de cultura

O Galpão Cultural, que conta com 25 pessoas diretamente ligadas aos trabalhos, além de colaboradores flutuantes, é um espaço de residência artística e ponto de cultura, situado dentro do Parque Novo Anilinas. É gerido de forma autônoma e compartilhada entre artistas do Coletivo 302, do Coletivo U[z]ina Utópica de Teatro, da Esquadrilha Marginália de Teatro de Rua e outros colaboradores da cidade.

Em pouco mais de três anos de atividades, o Galpão Cultural promoveu cerca de 80 apresentações teatrais, apresentações de dança, apresentações circenses, shows de bandas independentes, saraus, exposições de fotografia, vídeo- instalações, festival de cenas teatrais, festival de art performances do Sesc, festivais de cinema,  oficinas de arte, cursos de idiomas: inglês, italiano e japonês, aulas públicas mediadas por doutores da USP, ações ecossustentáveis voltadas para o público infantil.

O espaço conta ainda com uma biblioteca comunitária, com mais de 800 livros, HQ’s, DVD’s e vinis, e serve como ponto de encontro para reuniões, ensaios, estúdio de gravação, de fotografia etc.

Nota da Secretaria

O Folha Santista procurou a prefeitura de Cubatão para obter um posicionamento da Secretaria de Turismo sobre a denúncia. A assessoria respondeu por meio de uma nota:

“A Secretaria de Turismo ressalta a importância das atividades do Galpão Cultural para a cidade e esclarece que determinou que o bicicletário fique na entrada do parque após terem acontecido dois assaltos a munícipes, há cerca de quatro meses, nas dependências do Parque Anilinas, em que foram levadas as bicicletas das vítimas. Essa decisão evita que pessoas circulem de bicicleta no parque. O bicicletário está situado, agora, próximo ao Fundo Social de Solidariedade, na entrada pela rua Assembleia de Deus, 435”.

Veja a carta do Galpão Cultural:

“Diretor de turismo persegue artistas em Cubatão

O Galpão Cultural é um espaço de ocupação, reconhecido como ponto de cultura pelo @governofederaldobrasil, que ao longo dos três anos de atividade, vem promovendo o intercâmbio, a formação e a difusão das artes na cidade de Cubatão/SP de forma a assegurar o acesso aos bens culturais de maneira democrática, oferecendo gratuitamente atividades culturais e artísticas à população cubatense, tendo abrangência e relevância a outros municípios de SP.

Ao longo desse período realizamos atividades de teatro, #circo#dança#música#hiphop#literatura#cinema#fotografia#meioambiente , idiomas, educação não formal, performances, festivais, saraus, entre outras, atingindo diretamente cerca de 8mil pessoas, entre crianças e idosos, demonstrando toda sua vocação plural, valorizando a cidade e contribuindo para o seu enorme potencial cultural e turístico.

Mesmo com todo o histórico e contribuições para o fortalecimento de uma construção de cidade menos desigual, desde o segundo semestre de 2018, com a nomeação do Sr. Fernando Santos de Oliveira, diretor de turismo, comissionado e responsável pela administração do parque, o Galpão Cultural vem recebendo diversos ataques quanto à continuidade de suas ações, sempre na iminência de uma ofensiva que busca desarticular todas as conquistas aqui expressas, mantendo nossas atividades vigiadas e cerceadas, com falsas acusações sobre o nosso trabalho.

Desta vez o cerceamento vem pelo impedimento da entrada com bicicleta no parque, meio de locomoção de parte dos cubatenses. Até o ano passado, tínhamos uma autorização que no início deste ano foi revogada sem justificativa. No decreto que regimenta o funcionamento do parque, não há nenhum artigo ou inciso que proíba a entrada de bikes. O parque possui inclusive uma ciclo faixa e áreas para atividades esportivas.

Todos os trabalhadores/as que atuam no parque novo anilinas têm o direito de entrar com seu meio de locomoção, seja ele qual for, no entanto, nós do galpão cultural, estamos sendo impedidos e quando não aceitamos essa imposição e conduzimos nossas bicicletas até o nosso espaço, por duas vezes a controladoria de acesso, por ordens deste senhor citado, acionou a Polícia Militar, atrapalhando o desenvolvimento das atividades e causando transtornos, como a evasão do público presente.

Durante todo esse período, tentamos manter o diálogo, com reuniões e documentos expressos em ofício e as devolutivas sempre vieram no não reconhecimento dos nossos esforços, deslegitimando nosso trabalho e dificultando nosso acesso ao parque e a realização das nossas atividades por questões que nos parecem ser ideológicas.

Posto isso, nós ocupantes do Galpão Cultural viemos a público expor essa situação e exigir medidas cabíveis que interrompam esse tipo de coerção.

Em tempos em que é preciso defender o óbvio, é preciso expor e estarmos atentos/as a essas ofensivas que visam desmontar ainda mais as ações como as que são desenvolvidas pelo Galpão Cultural”.