Por Danilo Tavares*
O novo Arcabouço Fiscal apresentado pelo governo é um ataque direto a direitos sociais essenciais. Ao colocar saúde, educação, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o salário mínimo e o Fundeb como “inimigos do orçamento”, o ministro Haddad deixa evidente que a prioridade não é a população mais vulnerável, mas sim agradar ao mercado financeiro. No entanto, o que chama mais atenção é o silêncio ensurdecedor das esquerdas diante dessa situação. Poucos partidos, organizações e lideranças se manifestaram.
Estamos diante de um colapso do que é ser de esquerda no Brasil. O esvaziamento ideológico dessa postura moderada enfraquece nossa capacidade de enfrentar a extrema direita em 2026, à medida que abandonamos as bandeiras históricas de luta pelos direitos sociais. A tragédia da moderação está se consolidando como uma estratégia fracassada.
A tragédia da moderação
Nos últimos anos, muitos setores da esquerda optaram por “moderar” suas pautas, acreditando que isso garantiria vitórias eleitorais. Porém, as urnas mostraram que esse caminho leva ao colapso, não apenas eleitoral, mas ideológico. Enquanto isso, lideranças mais firmes, que apostam na organização popular e em utopias, têm se destacado como a saída verdadeira para a crise política. A esquerda precisa voltar a ser um espaço de resistência e transformação.
O ministro da Fazenda, Haddad, parece estar cada vez mais confortável entre elogios da Faria Lima e do Insper, mas parece alheio à realidade das trabalhadoras e trabalhadores. A economia vai se equilibrando com base nos juros que influenciam na dívida pública, mas a classe média progressista acredita que a culpa é do povo que não compreende a genialidade de uma gestão baseada em cortes e estrangulamento social. Não há qualquer autocrítica.
Onde estão as políticas públicas?
A pergunta que ecoa em muitos municípios é: qual programa federal criado nos últimos dois anos chegou até eles? A resposta é simples: nenhum. Não há políticas públicas robustas que cheguem às cidades, não há investimentos sólidos em áreas como Economia Solidária e inovação tecnológica e socioambiental. A promessa de reconstrução foi, na prática, a implantação de uma política de cortes e cancelamentos sumários de benefícios, sem direito à defesa.
Nesses mais de um ano e meio de governo Lula, a falta de incentivos para o desenvolvimento socioambiental e para a Economia Solidária revela a falência de um governo que se diz de esquerda, mas que aplica políticas neoliberais de austeridade. Estamos assistindo ao estrangulamento de investimentos federais, enquanto deputados se limitam a mandar emendas para municípios, sem construir uma política pública integrada e de longo prazo.
O caminho seguirá sendo pela esquerda
A derrota da esquerda nesta eleição no Brasil é fruto da renúncia ideológica. De um PT que se transforma em um partido que parece gostar de dançar ao som da centro-direita neoliberal, até mesmo, em alguns casos, flerta com bolsonaristas.
Apesar dos avanços no combate à fome e nas taxas de emprego e renda, ainda estamos longe de uma verdadeira reconstrução social. Os números podem apontar para melhorias pontuais, mas o que falta é um projeto de futuro, uma visão que vá além do equilíbrio fiscal e dos cortes, e que coloque as necessidades do povo em primeiro lugar. Sem políticas públicas consistentes e transformadoras, continuamos reféns de uma lógica de austeridade que estrangula direitos sociais.
A reconstrução precisa de um novo pacto com a classe trabalhadora, com um olhar para a justiça socioambiental e para o fortalecimento das bases populares. O caminho para a verdadeira transformação seguirá sendo pela esquerda, mas somente se resgatarmos o compromisso com a luta de classes, a justiça climática e com um projeto de país que enfrente a desigualdade de forma contundente e estrutural.
*Danilo Tavares é produtor cultural, documentarista, coordenou diversas oficinas de cinema digital, é gestor e desenvolve propostas de projetos para editais culturais e sociais. Atualmente é proprietário da Zopp Criativa Produções, empresa com selo Estratégias ODS, diretor de projetos do Clube do Choro de Santos, membro do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista e diretor da Casa Crescer e Brilhar (São Vicente). E-mail: [email protected].
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Folha Santista.