O boletim epidemiológico 07 do Ministério da Saúde, divulgado esta semana sobre coronavírus, diz o seguinte:
“A partir de 13 de abril, os municípios, Distrito Federal e Estados que implementaram medidas de Distanciamento Social Ampliado (DSA), onde o número de casos confirmados não tenha impactado em mais de 50% da capacidade instalada existente antes da pandemia, devem iniciar a transição para Distanciamento Social Seletivo (DSS)”.
Absurdo. Inventaram uma nova medida: o DSMB (distanciamento social “meia-boca”). Essa maneira encontrada pelo ministro para se preservar no cargo custará milhares de vidas. Não há nenhuma sustentação técnica. Para quem fala à exaustão que se orienta pela “ciência, foco e planejamento”, não faz o mínimo sentido.
A medida não tem base científica, dispersa totalmente o foco da população no isolamento e demonstra que o Ministério da Saúde não tem noção de como planejar e organizar a rede de saúde. Desconsidera a realidade das 438 regiões de saúde e a organização social nas regiões metropolitanas e capitais, onde a vida se dá de forma absolutamente conturbada.
Serve também para tirar o foco de uma questão essencial: eles vêm assumindo, a cada entrevista, que não se prepararam – apesar de quase dois meses desde o surgimento da epidemia – para organizar a resposta brasileira à Covid-19. Não providenciaram a compra e distribuição de equipamentos de proteção individual (EPIs) em quantidade suficiente para garantir a segurança das equipes de saúde. Não abriram e não conseguem abrir leitos de UTI. Não fizeram a aquisição de ventiladores. Não repassaram recursos para estados e municípios, pois até agora apenas os 423 milhões já anunciados, que correspondem a 2 reais por habitantes, foram liberados.
Também não há testes na quantidade necessária para fazer diagnóstico, vigilância e orientar as decisões que vêm sendo tomadas. Sequer o aumento da capacidade de análise laboratorial foi providenciado. Segundo o próprio Ministério da Saúde, hoje só é possível analisar 6,7 mil exames por dia, quando seriam necessários entre 30 e 50 mil.
Quando se compara a quantidade de testes realizados em diferentes países com o Brasil, fica escancarada a fragilidade da atuação do Ministério da Saúde no combate à pandemia de Covid-19. Enquanto os Estados Unidos fizeram 6.099 testes para cada 1 milhão de habitantes, a Espanha, 7.593; Itália, 12.495; Alemanha,10.962 e Portugal, 11.892, o Brasil fez apenas 258 testes para cada 1 milhão de habitantes.
O que se constata é que o Ministério da Saúde segue imobilizado por uma crise política absurda, num momento tão grave e crítico como esse.