Por causa de um chocolate, o estudante e rapper Kaique Oliveira Alves, de 17 anos, está denunciando o supermercado Extra alegando ter sido vítima de racismo. O caso ocorreu em Peruíbe.
O jovem relatou que foi ameaçado por um segurança e por funcionários do estabelecimento, que o acusaram de ter furtado um chocolate.
Kaique contou que estava no mercado com a namorada para comprar salgadinho, suco e refrigerante. Depois de passar pelo caixa, um segurança o ameaçou e afirmou ter visto o jovem guardando um chocolate na mochila.
O rapaz, imediatamente, negou o furto. Porém, o funcionário seguiu com as acusações. Indignado com a situação, Kaique abriu a mochila, que era da namorada, e jogou tudo no chão. O segurança ainda chamou mais dois funcionários, que também o ameaçaram.
Ele apanhou os pertences e se dirigiu até uma praça com a namorada para avisar os pais dele o que tinha ocorrido. Os responsáveis foram até o mercado. Lá, um funcionário disse ao pai, o professor Ricardo Alves, que o filho havia furtado o produto e que o rapaz fazia isso com frequência com amigos da escola.
Fundo falso?
Depois de muita insistência, os funcionários do mercado permitiram que o pai visse as filmagens. As imagens mostraram o jovem pegando um salgadinho, entregando para a namorada, abrindo o bolso menor da mochila e tirando o celular. Na sequência, eles se dirigiram até o caixa.
Kaique afirmou que, após esta cena, pegou um chocolate no setor onde são colocados produtos próximos ao vencimento, mas desistiu de comprar e o deixou perto da água sanitária.
O pai relatou, ainda, que, quando foi provado que não houve furto, os funcionários, não satisfeitos, passaram a dizer que a mochila tinha um fundo falso.
“Houve discussões e tentativa de agressões por parte de funcionários do supermercado, que partiram para cima do meu filho e ele só não bateu porque minha esposa entrou na frente”, declarou o professor, em entrevista ao G1.
A família, então, afirmou que a atitude dos funcionários era racista, mas eles negaram. A Polícia Militar (PM) foi acionada.
“Revoltante, inclusive por não ser a primeira vez que estou passando por uma coisa dessas, por ter amigos que já passaram pela mesma coisa”, desabafou o rapper.
O pai destacou, ainda, que entre os funcionários tinham pessoas negras cometendo o racismo. “Meu filho já tinha problema de depressão, de certa forma, isso agravou. Está desenvolvendo síndrome de pânico com medo de sair para a rua e nós não estamos seguros de deixá-lo sair porque a gente não sabe quem são essas pessoas que, inclusive, o ameaçaram”, afirmou o professor.
Ele revelou, também, que, com a PM no local, realizou uma notificação de ocorrência, mas, estranhamente, nenhum tipo de crime foi colocado no documento. Além disso, somente o nome do gerente apareceu no registro, o que dificultou a elaboração de um Boletim de Ocorrência (BO) na Polícia Civil.
O caso foi registrado como preconceitos de raça ou de cor – injúria de forma online e, também, presencialmente na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), em São Paulo.
“Difícil. Me sinto revoltado, foi humilhante o que passei ali na frente, tanto para mim quanto para minha namorada”, acrescentou Kaique.
O que diz o Extra
O Extra divulgou uma nota para se defender dizendo que a rede “repudia veementemente quaisquer atitudes discriminatórias e tem o respeito e a inclusão como valores e compromissos inegociáveis, em alinhamento com o Código de Ética e Política de Diversidade, Inclusão e Direitos Humanos, disseminados a todos os colaboradores”.
Sobre o caso, afirmou que tenta contato com familiares do cliente “para o apoio, transparência e esclarecimentos que forem necessários, bem como para que possam ser tomadas as decisões cabíveis”.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) destacou que o comportamento dos PMs “não condiz com as diretrizes e protocolos das instituições, portanto eles serão prontamente reorientados”.