“Parece que a gente está em uma guerra. Meu filho estava nesse meio [da confusão] e foi severamente, brutalmente atingido. Meu filho tinha muitos [sonhos]. Ele queria fazer engenharia, era o que ele mais queria”. Este é o depoimento da mãe de Gabriel da Silva Batista de Sena, de 14 anos, que faleceu após ser baleado em uma abordagem policial na madrugada de quarta-feira (7), na Rodovia dos Imigrantes, altura de Cubatão. Ela preferiu não ser identificada com medo de represálias.
Na oportunidade, de acordo com o boletim de ocorrência (BO), o menor teria entrado em confronto com os agentes. Uma equipe da Polícia Rodoviária estava em patrulhamento preventivo quando viu o trio em atitude suspeita andando na beira da rodovia.
Os agentes, segundo eles mesmos, decidiram desembarcar da viatura na altura do km 62, mas teriam sido surpreendidos por disparos de arma de fogo. A ambulância da Ecovias, concessionária que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), compareceu ao local e constatou a morte do jovem. Com o suspeito baleado, a PM Rodoviária disse ter encontrado um revólver com numeração suprimida.
O caso foi registrado como morte decorrente de intervenção policial no Delegacia Sede de Cubatão. A arma que estava com o homem foi apreendida, bem como estojos, projéteis, uma arma falsa e um boné.
Mãe contesta versão da policia
Ao contrário do que relata o BO feito pela polícia, a mãe do jovem diz que ele não estava envolvido com o crime. Gabriel queria se inscrever no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para cursar engenharia e, ao mesmo tempo, fazia planos de arrumar um emprego como menor aprendiz. “Ainda não caiu [a ficha]. Acabou o sonho do meu filho”.
A mãe também conta que Gabriel tinha saído de casa com os amigos e que um dos jovens ligou e pediu para ela confirmar se o filho havia chegado em casa. Assim que ela negou, os adolescentes contataram as ambulâncias e viaturas na rodovia. A mulher ficou preocupada achando que o filho poderia ter sido atropelado. Assim, se deslocou até a Rodovia dos Imigrantes, onde encontrou uma pessoa caída no chão.
“Eles [policiais] não me deixaram chegar perto. Nem eu e nem meu irmão, que chegou lá primeiro”. O tio levou os documentos do garoto. Porém, ao apresentá-los, ele foi informado de que o corpo no chão não era do jovem.
A mãe, porém, disse ter conseguido reconhecer o filho pela bermuda e a perna durante a perícia. “Falei que era meu filho, [mas] não deixaram ver. Falaram que depois da perícia deixariam”, contou.
Sem contato com drogas
Ela explica que o filho nunca teve contato com drogas ou com crime. “Alegam que ele estava com um revólver de brinquedo. Não entendo. Se era de brinquedo, por que foi alvejado? Ele nunca teve acesso a nada disso”.
A mãe afirma que não conhece essas duas outras pessoas que estariam com o filho no momento da abordagem policial. “[Ele era um] menino maravilhoso. Só tinha 14 anos. Ele era um adolescente e chegou lá [no IML] como indigente”.