“Sentimento de dor e revolta”. Este foi o desabafo de Fabiana Barros Santana, tia de Arthur Barros da Silva, de 12 anos, que morreu após fraturar o tornozelo, durante uma partida de futebol, no Guarujá. A prefeitura comunicou que foi aberto um processo administrativo para apurar o caso.
De acordo com o atestado de óbito, a morte do jovem de 12 anos foi causada por insuficiência respiratória aguda, tromboembolismo pulmonar e fratura da perna direita. No entanto, a família refutou as alegações da autoridade médica e acusou de omissão os hospitais onde Arthur fora atendido.
O que aconteceu
Segundo Fabiana, seu sobrinho lesionou a perna ao longo de uma aula de Educação Física. As dores permaneceram por dois dias, e ela decidiu levá-lo até à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Rodoviária. Na instituição médica, porém, Fabiana diz que ele não teria recebido o diagnóstico correto.
“A UPA liberou o meu sobrinho avisando que não tinha fratura, que era uma simples luxação”, afirmou a tia. Ela disse que Arthur foi liberado para voltar para casa com uma receita indicando medicamentos para aliviar a dor.
Porém, o menino continuou sentindo dores e com o tornozelo inchado. Desta forma, os dois se dirigiram até a UPA, novamente. Na unidade, a tia contou que pediu aos médicos para que ele fosse transferido ao Hospital Santo Amaro (HSA). Assim, o jovem poderia ser avaliado por um médico ortopedista.
Com a solicitação atendida, ele realizou um exame de Raios x no HSA, no qual se constatou uma fratura da tíbia distal [osso próximo ao tornozelo] da perna direita. A equipe médica imobilizou o membro de Arthur, que foi medicado e liberado.
Dores e avaliação com um médico vascular
Mesmo assim, prosseguiu Fabiana, as dores persistiram e o jovem foi levado para a UPA da Enseada, que o transferiu novamente para o HSA. No hospital, ele foi internado para avaliação com um médico vascular.
“No decorrer da madrugada, ele já vinha passando mal e eu pedi que a médica subisse pra avaliá-lo, mas ela falou que não iria porque ele já estava mais do que medicado. A médica não subiu e, na manhã do dia seguinte [27 de novembro], meu sobrinho veio a óbito”, lamentou a tia.
Justiça
Com o falecimento de Arhur, Fabiana registrou um boletim de ocorrência (BO) por morte suspeita na Delegacia Sede de Guarujá e buscou auxílio jurídico com o advogado Airton Sinto, pois ela considerou que houve negligência médica.
A tia do menino apontou duas razões para a morte: o atendimento na UPA da Rodoviária, que não identificou a fratura, e a médica do HSA, que se recusou a atendê-lo quando estava com dor.
O advogado da acusação explicou que estuda a situação para ingressar com uma ação na Justiça. “O caso traz traços claros de negligência médica, negligência de atendimento, de atenção ao ocorrido”, ressaltou.
“Estamos averiguando a situação. O padrão que deveria ter sido adotado e não foi, e qual o nexo causal entre essa negligência e o evento óbito dessa criança”, completou o advogado.
De acordo com ele, no primeiro momento a defesa irá avaliar a documentação e acionar os órgãos competentes para que os esclarecimentos necessários sejam feitos à família. Em seguida, o advogado irá adotar as medidas cabíveis, inclusive no âmbito de responsabilização criminal.
Respostas
Em nota, a prefeitura de Guarujá comunicou que lamenta profundamente a morte do jovem e “presta condolências aos familiares”. Segundo a administração municipal, o paciente foi prontamente atendido e medicado nas unidades de saúde.
“Devido à fratura, foi encaminhado, por duas vezes, ao Hospital Santo Amaro. Contudo, foi aberto um processo administrativo para apuração”, disse
O Hospital Santo Amaro relatou que existe uma queixa formalizada na Ouvidoria da unidade com relação à médica citada. “Importante salientar que não há reclamação em relação ao serviço prestado pelo Hospital Santo Amaro”, informou.
“Em relação ao evento, o trâmite inicia com o caso seguindo para análise da Comissão de Óbito, com a queixa registrada no setor de ouvidoria anexada. Aguarda-se o resultado e, de acordo com o apontamento desta comissão, o caso segue à Comissão de Ética, para devidas providências. Tratam-se de comissões apropriadas para investigar o evento”, finalizouo texto.