Sete tripulantes do navio Costa Fascinosa, que está fundeado no Porto de Santos, em quarentena até este sábado, dia 28, foram desembarcados para atendimento médico com suspeita de Covid-19. Como está a situação dos 760 tripulantes que estão a bordo? O navio estava fundeado na barra e sem operar desde o dia 17 de março, devido ao encerramento dos cruzeiros no país. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), lembrou que não está descartada a prorrogação da quarentena e isso vai depender do resultado dos exames realizados nos casos suspeitos.
Três passageiros que estiveram no navio ainda durante a temporada deram resultado positivo para Covid-19 dias após o desembarque do cruzeiro.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apenas o Costa Fascinosa está em quarentena na Barra de Santos. A Agência informou que acompanha a situação de quem está no navio pelo Medical Log Book, que é um documento oficial e obrigatório da saúde a bordo da embarcação. Ela ressaltou ainda que os desembarques de casos suspeitos, que precisam de atendimento médico, também são supervisionados pela Anvisa e, além disso, trocam informações com a tripulação a bordo para orientação sobre prevenção. Ontem, mais três suspeitos foram trazidos para um hospital de Santos.
Condições de trabalho
Como os tripulantes estão sendo tratados durante esse período? O advogado Adriano Ialongo, especialista em causas de Direito dos Tripulantes na Justiça do Trabalho, disse que recebeu diversas mensagens de tripulantes de companhias distintas, informando que estão pressionando os seus empregados a renunciar aos pagamentos que são devidos.
“Vários tripulantes afirmam que estão sendo levados a renunciar a tudo o que teriam para receber em troca de uma “compensação futura”. Estão sendo obrigados a assinar uma notificação de repatriação, com “garantia” de que em alguns meses voltarão ao navio para “terminar o contrato”, quando receberão o que lhes é devido”.
Ialongo lembrou que a Costa Cruzeiros ofereceu duas alternativas aos seus colaboradores: ou terminam o contrato como se uma pandemia não estivesse acontecendo ou desembarcam sem terem que pagar para a companhia a quebra de contrato, que é como uma “penalidade” (quando o tripulante desembarca antecipadamente, em situações normais, é descontado do ganho dele um valor a título de penalidade; dependendo da companhia é o valor das passagens).
“O que a companhia esqueceu é que não está ocorrendo uma simples quebra de contrato; os tripulantes estão apavorados; querem ir para as suas casas até tudo isso passar. Na época em que o navio passou por problemas com o sarampo, aos tripulantes que estavam com suspeita, foi oferecido apenas o confinamento na cabine, até que houvesse a confirmação; agora muda a doença, mas o comportamento se repete”, disse.
O advogado garante ter recebido áudios onde os tripulantes são avisados que só desembarcam assinando “sign off”, ou seja, sem sequer a passagem paga.”Além das companhias obrigarem a tripulação a renunciar valores que deveriam ser pagos minimamente, isso seguindo apenas o critério do próprio contrato deles, que seria uma indenização de dois meses de salário e a passagem de volta, eles ainda estão desembarcando os seus tripulantes longe das cidades que moram e pedindo para que peguem um Uber até as suas casas e que no próximo reembarque eles os reembolsarão (isso apenas apalavrado, sem contrato)”.
De acordo com o advogado, alguns tripulantes assinaram essa carta de desembarque por medo; medo de serem obrigados a permanecer no navio nessa crise, de não serem recontratados; e pelas contas que ainda têm a pagar. “Os últimos foram desembarcados em Santos, sendo que alguns tripulantes conseguiram voos para as suas Regiões, mas outros não. A companhia não deu nenhum suporte, sendo que o hotel na Cidade só foi possível graças ao suporte do Porto, possibilitando aos tripulantes o retorno para suas cidades no dia seguinte”.
“Além da falta de suporte, muitos acreditam que podem ser reembolsados quando tudo isso passar, mas, na nossa opinião, é muito provável que isso não vá acontecer, já que há dez anos acompanhamos essas questões e, como modo padrão, as companhias não dão suporte. A vida a bordo é “maravilhosa”, até o trabalhador precisar de algum suporte da Companhia em qualquer necessidade”, reclamou.
Costa Cruzeiros
Em nota, a Costa Cruzeiros informou: “Com uma tripulação formada por profissionais de diversos países, a Costa Cruzeiros segue um rigoroso código de conduta, que exige os mais altos padrões de ética e conformidade, atendendo à legislação dos países em que atua. Em todo o mundo, existem mais de 11 mil profissionais a bordo e em terra. Atuando no Brasil há mais de 70 anos consecutivos, a empresa se orgulha de gerar empregos no país e é pioneira em reconhecer a excelência de vários profissionais brasileiros, cujo valor contribui para a excelência de nossos serviços e para que a marca seja uma referência internacional de qualidade no setor. Desde o início do surto da Covid-19, a Costa introduziu uma série de ações preventivas a bordo de seus navios para garantir a segurança e a saúde dos hóspedes e da tripulação, adotando procedimentos de triagem adicionais para o embarque e reforçando o saneamento a bordo. Com o aumento das restrições adotadas por vários países e um cenário significativamente complexo e em estrita coordenação com as autoridades competentes, a Costa Cruzeiros adotou medidas dedicadas ao desembarque seguro de passageiros e tripulantes de todos os cruzeiros e daqueles que estavam em operação no Brasil. Em conformidade com a legislação local e com contratos em vigor, a Costa ofereceu alternativas aos seus colaboradores – continuar a bordo do navio até a data de desembarque ou rescindir o contrato sem aplicação de nenhuma penalidade até a data de desembarque.O navio Costa Fascinosa está neste momento em quarentena e todas as medidas de saúde necessárias, nessas circunstâncias, estão sendo realizadas e respeitadas diligentemente de acordo com as autoridades sanitárias locais. Quatro tripulantes foram desembarcados para serem hospitalizados.