Foto: Igor Santos/Secom

Por Carolina Fortes

O neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, afirmou que discorda totalmente da posição de que “os riscos do retorno as aulas são aceitáveis”.

O especialista usou como exemplo um levantamento do UOL que mostra que a taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pediátricas no Brasil vem aumentando e chegando próxima ao colapso em vários Estados. No Mato Grosso do Sul, Maranhão e Rio Grande do Norte, a ocupação está em 100%.

Bahia, Pernambuco, Goiás, Ceará, Alagoas e Mato Grosso apresentam taxas maiores que 50%. Além disso, o médico destaca um estudo do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo que afirma que 43% das crianças continuam sofrendo efeitos prolongados da Covid-19 três meses depois da infecção.

“Não há risco aceitável com crianças. Ninguém sabe como sequelas crônicas deixadas pela Ômicron podem afetar crianças infectadas. É um absurdo sem precedentes reabrir escolas. Com transmissão muito menor na primeira onda elas foram fechadas. Qual a lógica de permitir sua reabertura agora?”, questiona Nicolelis.

Ômicron e volta às aulas

vacinação de crianças e adolescentes avança a passos lentos no Brasil. Mesmo assim, a maior parte dos Estados (14) não vai exigir que os estudantes tenham sido imunizados, segundo informações atualizadas do G1.

Outros sete disseram que vão cobrar a carteira atualizada, embora ressaltem que isso não será impeditivo para assistirem às aulas. Três ainda não se definiram e outros três não informaram.

Entre os Estados, 22 deles e mais o Distrito Federal vão adotar o modelo presencial nas suas redes de ensino. Três ainda não definiram o formato e um terá aulas no modo híbrido.

“Com UTIs pediátricas lotadas em todo mundo e no Brasil é um risco inaceitável devolver milhões de crianças e jovens à escolas que não tem estrutura, nem preparo nem treinamento para manter normas de segurança. Vacinem as crianças e abram escolas paulatinamente com os vacinados”, orienta Nicolelis.

O médico diz, ainda, que se tivesse filhos em idade escolar, eles ficariam em casa pelas próximas duas ou três semanas até que a onda da Ômicron terminasse e eles estivessem vacinados. A taxa de transmissão do coronavírus atingiu o seu maior índice no Brasil nos últimos dias por causa da variante.

Segundo a plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade de São Paulo), com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o ritmo de contágio (Rt) atingiu 1,9 nesta quarta-feira (26). Antes da Ômicron, o maior Rt registrado pelo Info Tracker havia sido o de 1,29, em 21 de janeiro de 2021.

“É um enorme temeridade permitir o retorno de aula presenciais em qualquer nível no meio de uma onda que possui os maiores índices de transmissão de toda a pandemia. Deveríamos vacinar o maior número de crianças possível e retornar as aulas progressivamente com os vacinados”, afirma Nicolelis.

O especialista também publicou um gráfico que mostra que a curva de hospitalizações de crianças na Inglaterra explodiu com a Ômicron, superando até mesmo a variante Delta. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos. “Como pensar em reabrir escolas com este risco absurdo?”, questiona o neurocientista.