O encanto e a intimidade com os leitores são características das livrarias de rua, aquelas que não pertencem a grandes grupos editoriais, mas que com esforço e criatividade de seus livreiros ganham cada vez mais espaço no mercado literário brasileiro.
Um exemplo bem construído dessa atividade pode ser encontrado em Santos, no litoral de São Paulo. Prestes a completar 20 anos, a livraria Realejo é um dos polos de cultura mais conhecidos da cidade.
“As livrarias de rua viraram instituições de cultura e conhecimento, de difusão de ideias”, afirma José Luiz Tahan, idealizador e proprietário da Realejo.
Ele revela que, apesar da pandemia de Covid-19, conseguiu criar uma relação mais próxima com os leitores.
“As livrarias de rua ganharam contornos muito mais valorizados depois de todo o desafio que gente ainda vive, que vai atingindo quase dois anos, que é a pandemia. Então, algumas livrarias pelo Brasil, e claro, essencialmente as de rua, livrarias de livreiros, por incrível que pareça, tiveram uma recolocação ou uma reafirmação, até uma nova relação com os leitores, a partir desse grande problema”, revela Tahan.
Ele faz questão de ressaltar que não se trata de glamorizar o sofrimento provocado por esse período trágico. “Não estou dizendo que a pandemia foi algo bom. Mas, me parece que o objeto livro acabou sendo mais valorizado pelo leitor. Até por uma questão do tempo nos períodos de isolamento, tendo o livro como companheiro dentro desses momentos tão duros”, avalia.
A Realejo, nesse cenário, ganhou destaque por conta da disposição de Tahan de ir até o leitor.
“Eu tive de fechar as portas e atendi de dentro da livraria, de portas fechadas, fotografando obras, sugerindo nas redes sociais e, depois, entregando pessoalmente os livros para os leitores. Isso também criou um vínculo forte”, relata.
Para quem não conhece, a Realejo fica no centro nervoso do bairro mais emblemático da cidade de Santos, o Gonzaga, a uma quadra da praia.
“Essa livraria tem 20 anos e tem uma tradição enorme em reunir leitores e autores, com sessões de autógrafos e outras ações, que acabaram transbordando para um grande festival internacional de literatura, a Tarrafa Literária, que já vai para sua 14ª edição. O evento reúne autores do Brasil todo e do exterior”, conta o livreiro.
A partir desse projeto da livraria de rua, Tahan vem desenvolvendo, ao longo dos anos, eventos literários, clubes de leitura, cursos de filosofia, história e criação literária. Além disso, conta com uma charmosa cafeteria bar.
Tahan quer que os leitores sejam os protagonistas da reconstrução do “parklet”
Na área externa, a Realejo tinha um “parklet” (vagas que eram de estacionamento de veículos transformadas em espaços públicos, permitindo a instalação de bancos e mesas), aprovado pela prefeitura da cidade e construído com apoios. Isso foi em 2018. Antes da pandemia houve uma reforma na rua, foi ordenado que nós retirássemos o ‘parklet’ e assim foi feito”, conta.
“Com a pandemia, nós não remontamos o ‘parklet’. Passaram-se dois anos e nós não tivemos energia para reconstruir, porque ele foi desmontado, retirado e deteriorado nesse meio-tempo. Nós ficamos sem essa estrutura externa da livraria, que acolhia os eventos literários e musicais. Era um grande encontro na rua, um local inclusivo, gratuito”, relembra Tahan.
O livreiro, então, pensou sobre toda essa experiência acumulada e resolvu propor uma campanha de financiamento coletivo para que os leitores, nesse processo de retomada, pudessem ser os protagonistas da reconstrução do “parklet”.
“Como é um local público e nossos eventos de música são gratuitos, achei simpático, interessante e lógico convidar os amigos e leitores para que fossem apoiadores da reconstrução do ‘parklet’”, destaca.
“Haverá recompensas, todas envolvendo livros da própria editora Realejo (já conta com quase 200 títulos publicados). As empresas e pessoas que aderirem à campanha terão no local do ‘parklet’ seus nomes registrados publicamente. É um agradecimento da Realejo”, acrescenta Tahan.
Os interessados podem colaborar aqui.