Por Henrique Rodrigues
O cantor e compositor baiano Gilberto Gil foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) na tarde desta quinta-feira (11). Ele ocupará a cadeira de número 20, cujo patrono é o romancista Joaquim Manuel de Macedo, autor do clássico “A Moreninha”, e que foi ocupada a partir de 1999 pelo jornalista Murilo Melo Filho, falecido em maio de 2020.
Gil disputou a vaga com o poeta Salgado Maranhão e o escritor Ricardo Daunt. O parceiro de Caetano Veloso era reconhecido como o mais cotado para a cadeira, e aos 79 anos confirmou o favoritismo, garantindo a vaga no Palácio Petit Trianon do Brasil, que fica no Centro do Rio de Janeiro.
A vitória de Gilberto Gil foi obtida com 21 votos, seguido por Salgado Maranhão, que teve 7 indicações, e Ricardo Daunt, que não foi votado por nenhum “imortal”. Junto com o professor e pesquisador da língua portuguesa Domício Proença Filho, o autor de “Andar com Fé” será um dos dois representantes negros na entidade.
Fernanda Montenegro
Recentemente, a atriz Fernanda Montenegro, de 92 anos, também foi eleita imortal da ABL, recebendo 32 votos dentre os 34 participantes do pleito formado por homens e mulheres ligados ao mundo das letras. Após o resultado, Fernanda deu entrevista para falar sobre a conquista.
“É algo assim, é uma viagem no imaginário, uma viagem no sublime. A minha arte não é imortal. A arte do ator é enquanto ele está ali vivo, presente em carne e osso. Mas, de uma forma poética, vamos dizer que é imortal. Eu fico muito espantada que uma academia que tem como princípio ser imortal, acolher uma atriz que só existe quando está em cena, carnificando o personagem”, declarou a atriz, em entrevista a Malu Gaspar, em O Globo.
Como é a eleição
Cercado de ritos e mistérios, ser um dos candidatos a “imortal” da ABL não é algo tão fácil, assim como também não está mais relacionado a ter uma obra respeitada e robusta na literatura brasileira, já que personalidades sem brilho no segmento já foram escolhidas por pura influência e poder, como o jornalista Merval Pereira, o magnata das comunicações Roberto Marinho e o ex-presidente da República José Sarney.
Em síntese, figuras com algum prestígio, até mesmo de outros universos, oferecem seu nome a amigos que já são “imortais” e eles se encarregam de apresentá-lo ao “seleto” grupo. Depois, se a recepção for minimamente boa e houver uma cadeira vaga, a candidatura pode ser oficializada por esses “padrinhos”.
Os homens e mulheres que se submetem ao escrutínio dos ocupantes da Academia, então, encaminham cartas a eles se apresentando e falando sobre os porquês de sua candidatura e sua importância para a literatura nacional, realizando uma espécie de campanha.
No dia da eleição, nenhum candidato comparece ao palacete Petit Trianon do Brasil, doado pelo governo francês em 1923 e que é uma réplica do Petit Trianon localizado no complexo de Versalhes, a poucos quilômetros de Paris.