A Escola Estadual Azevedo Júnior, em Santos, continuou funcionando mesmo após uma funcionária ter testado positivo para Covid-19. A denúncia é do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e de outra funcionária do colégio, que pediu para não ser identificada.
De acordo com as denúncias, a agente de organização e caseira da escola contraiu o coronavírus e teve de continuar trabalhando, pois “a diretora agiu como se nada estivesse acontecendo”.
No entanto, na manhã desta terça-feira (2), “os professores se recusaram a entrar e a escola foi fechada”, de acordo com Sonia Maciel, diretoria da Executiva Estadual da Apeoesp e Secretária de Organização das Subsedes e do Interior.
A funcionária do Azevedo Júnior que não quis se identificar conta que tentou ligar para a Secretaria de Saúde. “Após uma hora tentando, ninguém atendeu. Se os professores não batessem de frente, estaria tudo funcionando normalmente. A funcionária infectada estava ontem de manhã (1) trabalhando, junto com crianças na escola. Professores, alunos e a própria funcionária estão assustados e com medo”.
“Com o avanço na contaminação, voltar para a escola é um tremendo risco, pois se coloca em perigo não só a vida dos professores, como a dos trabalhadores de educação em geral como também dos alunos e a sociedade como um todo, em função do contágio”, avalia Sonia.
“Temos um caso recente, em outra escola, de uma professora que no primeiro dia de planejamento foi infectada. Ela foi para casa, o pai foi contaminado, ambos foram para a UTI. O pai morreu e ela nem ficou sabendo. Há dez dias, a professora acabou falecendo também. Ainda assim, a escola permaneceu aberta”, revela a diretora da Apeoesp.
Sonia questiona as atitudes do governo estadual em relação ao retorno das aulas presenciais. “Na pior fase do coronavírus, que se deu agora, no início de fevereiro, o governo do estado, mesmo na zona vermelha, decidiu que as aulas retornariam de forma presencial. Por que não manter o ensino remoto, pois o que importa agora é a questão da vida?”, questiona.
“O ensino você recupera e a vida, não. Desde o ano passado a gente vem apontando a questão da falta de manutenção das escolas da rede estadual, principalmente. Mesmo assim, durante praticamente um ano nada foi feito para que se recuperassem a estrutura das escolas, que se dessem condições sanitárias para que as escolas pudessem, agora, voltar ao presencial”, destaca a diretoria da Apeoesp.
Ela conta que a entidade manteve várias reuniões com representantes das redes estadual, privada e municipal. “Nós exigimos a vacinação para poder retornar às aulas presenciais”.
“A gente sabe das dificuldades encontradas pelos alunos da periferia, porque o governo do estado não deu condições para essas crianças de acessar a internet para o ensino remoto. Para o professor, é pior ainda. Ele, além de trabalhar três vezes mais do que se estivesse no presencial, usa computador, celular, internet, eletricidade, tudo da casa dele”, acrescenta Sonia.
Ela ressalta, em termos de estado de São Paulo, há, até o início da tarde desta terça, o registro 1.625 profissionais da Educação contaminados. Além disso, são 768 escolas com problemas de contágios, sem contar os óbitos. “São três ou quatro por dia, em média, no estado”.
Na Baixada
Em relação à região, Sonia diz que a Baixada Santista está com problemas de contágio em vários colégios e citou o Canadá e o próprio Azevedo Júnior.
“Teve escola da prefeitura de Santos que teve professor contaminado, ele foi afastado e a escola permaneceu aberta. É preciso tomar providências imediatas, porque hoje já tem confirmação do falecimento de um aluno de 13 anos. Estamos solicitando outras medidas. Muitos municípios já fecharam as escolas”, completa.
Seduc-SP
O Folha Santista fez contato por telefone com a Secretaria Estadual de Educação para pedir um esclarecimento. A informação era para que fosse enviado um e-mail com a demanda.
Mais de 24 horas da solicitação, o retorno foi o seguinte: “A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) esclarece que segue todos os protocolos definidos por autoridades de saúde e preserva a segurança de professores, servidores e alunos. Todas as unidades escolares são acompanhadas pelas vigilâncias em saúde municipais, que definem as estratégias de combate à disseminação da Covid-19.
A respeito da escola citada, foi confirmado um caso positivo. A vigilância sanitária foi notificada e a unidade fechou para higienização hoje (3). Nenhum aluno foi prejudicado, as aulas seguiram de forma remota por meio do Centro de Mídias.
A interrupção temporária das atividades escolares presenciais é determinada pelas autoridades sanitárias, como parte dos protocolos a serem seguidos. Ressalta-se que se trata de uma medida importante para isolar casos e garantir a não-transmissão da Covid-19 na comunidade escolar, a fim de que após investigação dos casos e tomadas as medidas necessárias, estudantes e profissionais da educação possam retornar com segurança.
Os casos confirmados de servidores e alunos são acompanhados por meio do SIMED (Sistema de Informação e Monitoramento da Educação para Covid-19) da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que tem os dados atualizados diariamente”.
Secretário de Saúde
Apesar disso, o secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, declarou, em entrevista à CBN, ser favorável, agora, à suspensão das aulas presenciais por conta do avanço do coronavírus no estado.
Gorinchteyn revelou que o assunto será discutido nos próximos dias, mas que a sua posição é de que manter as escolas abertas implica em uma série de deslocamentos fora dos colégios contribuem para a propagação do coronavírus.