O pesquisador Miguel Nicolelis está desde dezembro alertando, seja pelas redes sociais ou em entrevistas, que o Brasil necessita de um lockdown nacional para conter o avanço do coronavírus e o surgimento de novas cepas. Infelizmente, tudo se deu ao contrário e agora o “Brasil está a beira de um colapso nacional”, diz Nicolelis ao O Globo.
“Existem preocupações na região Norte, Rondônia já foi, Mato Grosso, o próprio Distrito Federal, São Paulo tem menos de três semanas de reservas de leitos de UTI – o que, para a cidade que é a capital de medicina brasileira, é assustador. Ultrapassamos o recorde de internações”, avalia.
Nicolelis atenta para o fato de que “diferentemente da primeira onda, quando foi cada estado num tempo, surgiram efeitos sincronizadores como eleição, festas de fim de ano, carnaval. Agora, tudo está explodindo ao mesmo tempo. Isso significa que não tem medicação, não tem como intubar, não vai dar pra transferir de uma cidade para outra, não vai ter como transferir para lugar nenhum. A consequência do colapso de saúde é o colapso funerário”.
O pesquisador prevê uma tragédia nacional. “Não é que todo canto vá colapsar, mas boa parte das capitais pode colapsar ao mesmo tempo, nunca estivemos perto disso. Se eliminar o genocídio indígena e a escravidão, é a maior tragédia do Brasil. A ausência de comando do governo federal é danosa. Isso é uma guerra. Em outros países essa é a mensagem que foi dada, veja a China. É curioso ver que no mundo ocidental exista dificuldade de transmitir essa mensagem de gravidade”.
“Pouco valor à vida”
“Ter que preservar a economia é não só uma falsidade econômica como demonstra completa falta de empatia com a vida das pessoas. O que mais assusta é o pouco valor à vida. Os políticos são o primeiro componente, mas a sociedade também. Porque, quando alguém vai a uma festa clandestina de fim de ano, de carnaval, se aglomera numa balada ou à beira do campo de futebol, não compromete só sua saúde, mas a vida dos seus familiares, seus vizinhos e das pessoas que nem conhece”, critica.
Por fim, Miguel Nicolelis diz que o “Brasil precisaria de um lockdown nacional, com uma campanha de comunicação, porque a gente precisa da colaboração da população. A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia”.