O Coletivo Feminista e Antirracista EcoSol Mulher divulgou uma nota de repúdio contra o ex-conselheiro do Santos FC, Sergio Ramos, que afirmou, durante live, que o “futebol feminino é um lixo”. Ele disse, ainda, que “mocinhas no campo de futebol são aquelas que a gente enche de porrada e tira de lá”.
Confira a íntegra da nota:
O Coletivo Feminista e Antirracista EcoSol Mulher, integrado ao Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista, repudia veementemente as declarações misóginas e incitadoras de violência contra as mulheres do time de futebol feminino do Santos Futebol Clube. Dezesseis conselheiros do time cobram, publicamente, a punição do ex-sócio e conselheiro.
Mais do que punição, precisamos falar de violência contra mulheres. Precisamos falar principalmente de masculinidade tóxica. A sociedade não se importa com as mulheres; no caso de mulheres que atuam em espaços tradicionalmente masculinos, menos ainda.
Segundo a professora Valeska Zanello, do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB), “ser homem no Brasil é não ser mulherzinha, portanto eles precisam o tempo inteiro demonstrar um repúdio às mulheres e às qualidades femininas”.
Esse entendimento de superioridade é ensinado desde cedo aos homens, o que os remete à dominação masculina. A mulher é tida como um objeto que está à disposição dos homens. Assim, o comportamento do Sergio Ramos, além de reportar uma imagem objetificada e sexualizada da mulher e inferir contra o seu livre arbítrio para escolher a profissão que deseja, contribui para legitimar a violência e a cultura do estupro.
Na frase: “Mocinhas no campo de futebol são aquelas que a gente enche de porrada e tira de lá, porque não têm que estar lá” sugere que as mulheres, quando estão fora do seu lugar, que na visão de Sergio Ramos é como objeto sexual a serviço do homem, merecem ser tratadas com violência.
Este é um exemplo contundente de como pensa e se expressa, uma sociedade machista e patriarcal. No mundo do futebol, representação do domínio masculino, mulheres que se colocam neste universo seja como jogadoras, bandeirinhas, juízas etc são odiadas, pois questionam e enfrentam este imaginário de poder dos homens que ostentam dinheiro, carro e mulheres objetificadas.
No futebol, as mulheres não têm a mesma visibilidade e não têm o mesmo salário. Ao contrário dos homens desse meio, que são cultuados e tratados com indulgência até mesmo quando cometem crimes, as mulheres do futebol são discriminadas, tratadas como “machonas”, numa alusão a possíveis desvios do considerado padrão das características de gênero do que seja ‘ser mulher’ em nossa sociedade, e diminuídas no seu talento e capacidades.
As mulheres não são bem-vindas no futebol. A grande maioria dos homens, convencidos que ser homem, precisa desqualificar e objetificar as mulheres. Infelizmente, ainda obtem permissão social para se comportar desta forma, mas é urgente que isso mude.
Declarações como estas devem ser denunciadas e evidenciadas em suas reais motivações: a misoginia, o machismo, o patriarcado, construções histórico-sociais que naturalizam e legitimam relações de opressão sexista marcada por violência e que motivam o feminicídio.
Homens como SERGIO RAMOS devem ser punidos e conduzidos a tratamento psicossocial. Tipos assim fazem mal à sociedade, pois tentam deslegitimar um processo de lutas das mulheres por igualdade, emancipação e direito à vida.
O Brasil precisa ter um projeto educacional que contribua para questionar e combater o machismo, que contribua para uma formação que promova equidade de gêneros, que ajude a eliminar comportamentos, como o do ex-conselheiro, que resultam nos altos índices de violências contra mulheres: agressões, assédios, estupros e feminicídios.