O número de casos de Covid-19 na Baixada Santista vem aumentando significativamente, conforme avalia o infectologista Marcos Caseiro, que atua na Secretaria Municipal de Saúde de Santos e é professor da Faculdade de Medicina da Unilus e do curso de pós-graduação da Unisanta.
Caseiro avalia que o fenômeno, que começou há duas ou três semanas, vem ocorrendo, principalmente, em hospitais particulares, inclusive com lotação máxima dos leitos específicos para a doença.
“É uma constatação. Interessante é que não temos observado isso nos hospitais públicos. Talvez seja reflexo de a doença estar acometendo mais uma população que tem plano de saúde. Santos é a cidade que tem mais acesso a planos de saúde”, revela o médico.
Ele faz questão de enfatizar que não há dúvida em relação ao avanço da doença. “Os dados não estão, de alguma maneira, amplamente discutidos, porque, na verdade, é preciso algum tempo para essas notificações caírem na Vigilância e, obviamente, serem mostradas”.
A razão principal do novo avanço da Covid-19, na avaliação de Caseiro, é o relaxamento das medidas de combate à propagação do coronavírus. “Isso é em decorrência de uma abertura geral. A impressão que se tem é que a pandemia acabou, o que se reflete nesse aumento do número de casos”.
Por outro lado, Caseiro destaca um fenômeno interessante. “Ainda que tenha aumentado a quantidade de óbitos, a gente tem observado uma queda de mortalidade, conforme tem ocorrido na Europa. Isso é um bom sinal, a princípio”.
O infectologista ressalta que é precisa mais tempo para que os dados se consolidem. “Há duas questões aí: uma é a linha de aprendizado. A gente aprendeu a lidar com essa epidemia, a gente sabe como medicar de maneira adequada, principalmente com a questão do corticoide, o anticoagulante, que, quando dado oportunamente, ninguém mais vai para a UTI”, explica.
“É uma doença tromboembólica e desde que adequadamente abordada, no tempo certo, não tem mais UTI. Esse é um fator que foi fundamental. A outra questão é que, talvez, a doença esteja acometendo pessoas mais jovens nesse momento. Isso está acontecendo na Europa”, informa o médico.
Segunda onda?
Apesar do avanço no número de pessoas infectadas na Baixada Santista, Caseiro não enxerga o fato como uma segunda onda. “Na verdade, a gente não saiu da primeira. Ainda que nós tenhamos diminuído os casos nos últimos meses, antes do recente avanço, nós continuamos, permanentemente, com números altos de casos e óbitos”.
Questionado sobre como combater o avanço da doença, ele reafirma: “As pessoas têm que entender que nós não temos saída, a não ser o nível de proteção individual. O que a medicina tem para oferecer hoje é proteção individual: máscara e cuidados específicos no contato de mão com boca, mão com face etc. As pessoas não podem perder isso de vista”, indica.
Caseiro não descarta a influência climática na evolução da Covid-19. “Essa questão talvez nos favoreça, pelo fato de ser uma doença respiratória e vamos entrar no verão. Já está piorando no continente europeu, por conta do frio e a transmissão aumentar em ambientes fechados. Isso é uma constatação real”.
Vacina
Em relação ao futuro, Caseiro aposta suas fichas na vacina contra a Covid-19. “Nós teremos a vacina, sim. E mais breve do que se imagina. Como eu falei para você em uma entrevista lá atrás, a projeção era para dezembro”, diz.
Ele destaca que faltam apenas os dados de efetividade da vacina, que está sendo produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech, em parceria com o Instituto Butantan.
“Esta vacina é a mais segura, sem invenção, é com o vírus inativado. Devemos ter esses dados tão logo seja atingido o número ideal de pessoas infectadas no grupo que não tomou a vacina. Isso deve acontecer em dezembro. Logo que esses dados forem expostos, teremos a liberação dessa vacina, que já está produzida”, afirma o médico.
“Eu não tenho dúvidas de que até o final de dezembro ou começo de janeiro teremos a vacina. É uma medida que vai ser uma grande ferramenta para a gente conter a epidemia”, define.
No entanto, Caseiro reforça que a vacina não será a solução definitiva de todos os problemas. “Não acho que vai ser a ‘bala de prata’. A gente vai ter que continuar com os outros fatores importantes, que são o uso de máscara e os cuidados para evitar a propagação da doença”, completa.