Foto: Reprodução/VTV

O debate entre os candidatos a prefeito de Santos, realizado neste sábado (31) pela VTV, emissora afiliada ao SBT, terminou de forma surpreendente. O encontro foi interrompido antes das considerações finais, o que provocou inúmeros protestos nas redes sociais, inclusive dos candidatos.

O debate prosseguia normalmente quando a mediadora anunciou que seria interrompido por uma alteração “nas nossas grades”. Ela avisou que o encontro continuaria nas redes sociais da VTV, o que acabou não acontecendo.

A emissora alegou que a movimentação de ir e voltar do púlpito fez estourar o tempo em seis minutos. Por isso, a afiliada teve que devolver o sinal de transmissão à rede nacional.

Douglas Martins, candidato do PT, disse que a interrupção o prejudicou, pois ele iria detalhar, nas considerações finais, informações sobre um processo contra o representante da situação, Rogério Santos (PSDB).

“Eu abri o debate com uma informação de interesse público, gravíssima. Eu vinha acompanhando o processo eleitoral e me perguntava por que isso não tinha vindo para a pauta ainda. Eu resolvi colocar na pauta. É uma ação muito longa, tem 100 páginas, mas que é um verdadeiro manual de como funciona a política na nossa cidade”, destaca.

“Então, resolvi abrir o debate fazendo o questionamento que fiz. Política é uma área de interesse público e o problema ali era o seguinte: a ação fala que foi feita uma operação que envolvia legislação de encomenda, direcionamento da máquina pública para favorecer grupos privados numa escala bilionária”, ressalta Douglas.

“Aquela obra da Ponta da Praia, que veio de uma contrapartida de R$ 120 milhões, daria um retorno de R$ 1 bilhão e 300 mil para o grupo que foi beneficiado por aquilo. Está na ação do Ministério Público. Evidente que este é o tema central da campanha. A maior dificuldade é você traduzir e informar para que as pessoas compreendam”, prossegue.

Douglas pretendia apresentar a informação sobre o número da ação para que todos tivessem acesso. “O que interessa é que tem uma fraude absurda, comprovada no Ministério Público, e eu não entendo a razão pela qual o candidato oficial disse que não era réu. Aquilo foi um erro grosseiro. O que cabia a ele dizer é que não tem trânsito em julgado (decisão definitiva). Era a defesa possível ali. Ele foi por um caminho totalmente equivocado, o que piorou. Acho que isso vai ter consequências graves para o desempenho eleitoral dele”, acrescenta.

O número da ação que tem Rogério Santos como réu, desde 2019, é 101226871/2019, e está em trâmite na 1ª Vara da Fazenda Pública, em Santos.

“A emissora tirou o debate do ar em pleno desenvolvimento. Como eu tinha preparado as minhas considerações finais na direção de resgatar isso, ia informar o número da ação para que o eleitor ou a eleitora pudesse acessar a qualquer momento. É matéria de ordem pública. Então, eu me insurgi, gesto seguido por todos”, completa.

Desrespeito

O candidato do PSOL, Guilherme Prado, também reclamou muito da atitude da emissora. “O desrespeito com o eleitor foi imenso e se deu por conta da desorganização da emissora, uma concessão pública que deveria honrar seu compromisso com os candidatos – os que foram chamados já que houve um corte antidemocrático de alguns deles. Lamentável e dificilmente reparável. Já temos poucos debates e isso agrava o problema: algo sintomático num país sem lei de democratização de mídias”.

Tanah Corrêa, candidato do Cidadania, foi outro que se revoltou com o gesto da VTV. “Infelizmente, o SBT não cumpriu as regras que foram estabelecidas em conjunto. Tirou do ar o último bloco, que seriam as considerações finais dos candidatos. Devido a isso, nós estamos colocando na rede o que seriam as minhas palavras finais. As regras foram desobedecidas por essa TV, pela direção, pela coordenação, não sei a razão”.