Marcio Aurelio - Foto: Fernanda Luz/Divulgação

O médico Marcio Aurelio Soares, de 62 anos, é o terceiro entrevistado da série de candidatos a prefeito de Santos. Ele representa o Partido Democrático Trabalhista (PDT), que leva o número 12, e não tem coligação.

“Como médico sanitarista, compreendo que a saúde é a nossa maior prioridade. Mas falo de saúde vista de modo integral, holístico, enquanto conceito transversal de promoção ao bem-estar para todos nós”, destaca o candidato.

Marcio Aurelio é natural de Rio de Janeiro (RJ) e é especialista em saúde pública, medicina do trabalho, administração hospitalar, clínica médica e nutrologia.

A professora de ensino médio, Maria Cecilia Cravo Dias, conhecida como Professora Cecilia, de 58 anos, é a candidata a vice-prefeita.

Folha Santista: Por que o senhor é candidato a prefeito de Santos?
Marcio Aurelio Soares:
Compreendo que Santos, como a cidade da caridade, tem um viés de revolucionário, de vanguarda em sua própria essência. E, apesar dos tempos de polarização, a maioria de nós defende os mesmos ideais: o desenvolvimento socioeconômico e oportunidade para todos. Nestes anos, após a reconstrução e a retomada local do qual participo do PDT de Ciro e Brizola, do líder indígena Juruna e Abdias do Nascimento, desenvolvemos um projeto de cidade que defende a inclusão social, o trabalho e a geração de renda. E é este o programa progressista que queremos apresentar efetivaremos em nossa Santos.

Folha Santista: Quais são os principais eixos do seu plano de governo?
Marcio Aurelio:
Como médico sanitarista, compreendo que a saúde é a nossa maior prioridade. Mas falo de saúde vista de modo integral, holístico, enquanto conceito transversal de promoção ao bem-estar para todos nós. Isso se reflete na formação perene e valorização real dos servidores e em auditar as OSs que assumem o SUS, em um Banco Municipal de Desenvolvimento Comunitário que facilite o microcrédito aos empreendedores e estimule a cooperativa solidária, na criação de uma TV municipal feita pelo povo e para o povo. Repensar a saúde, enquanto conceito de ofertar vida digna à população, é criar uma Secretaria de Habitação, modernizar a Administração, desenvolver programas com cooperativas, garantir universidade pública e cursos principalmente para Zona Noroeste, melhorar a zeladoria pública dos morros e criar transporte hidroviário na Área Continental.

Folha Santista: A cidade vem perdendo empregos no Porto de Santos, o que o senhor pretende fazer para que isso se reverta?
Marcio Aurelio:
A cidade e o Porto são ligados de modo intrínseco, em vista que boa parte da arrecadação municipal vem deste segmento, que é referência na América Latina. É preciso um diálogo com a Autoridade Portuária, mas também com os trabalhadores portuários e suas entidades representativas. Um prefeito, como líder de verdade, deve colaborar, sim, para atrair investimentos que desenvolvam a malha viária e modernização do Porto, mas também garantir melhores condições de serviço para quem está diretamente atuando no setor, porque a defesa dos direitos do trabalho influencia em um ambiente mais produtivo para toda a comunidade.

Folha Santista: Qual sua posição acerca da instalação da usina de incineração de lixo em Santos?
Marcio Aurelio:
Sou extremamente contrário, e, como prefeito, farei de tudo para que a Administração Municipal não tome essa medida equivocada e absurda. Ao contrário, em sintonia com os especialistas do setor ambiental, como o Santos Lixo Zero, defendo junto a um amplo programa de educação ambiental, fortalecimento de cooperativas de catadores e adequação correta de um plano municipal de resíduos sólidos, em realizar estudos para que seja criado como alternativa uma Usina Biodigestor Anaeróbio – equipamento muito mais sustentável, duradouro e menos custoso para Administração e população como um todo.

Folha Santista: O senhor tem alguma proposta para a revitalização do Centro? O que o pretende fazer nesta região da cidade?
Marcio Aurelio:
Quando passo pelas vias do Centro, a pergunta que me faço é a quem ele pertence? Trata-se de uma região que vive só em expediente comercial e olhe lá. Sim, é preciso manter e rever os investimentos públicos para que os empreendedores voltem a se instalar na cidade, mas também propor medidas mais efetivas de tornar as áreas residenciais. Sem infraestrutura adequada para atrair os moradores, todo comércio é fadado ao fracasso. O Alegra Centro até pode ser de boa-fé, mas não foram efetivadas a promoção habitacional do local e a melhoria das moradias a quem lá assumiu como lar. Ao mesmo tempo, é preciso garantir a retomada dos programas de locação social para erradicar gradualmente os cortiços. Em uma cidade de IDH tão díspar entre os bairros, é preciso garantir o direito à moradia de todas as famílias.

Folha Santista: Quais propostas têm para a área de cultura e turismo da cidade?
Marcio Aurelio:
Pouco vale uma cidade de tantos patrimônios históricos, contar com equipamentos públicos ociosos, como o Outeiro de Santa Catarina. É preciso investir mais no roteiro, como programação perene na Casa do Trem Bélico, como também melhor articulação com prédios estaduais e privados, como o Museu de Arte Sacra e o Museu do Mar. O selo de Cidade Criativa precisa ser apropriado pelos quatro cantos da cidade, do turismo de base comunitária da Área Continental até criar um programa de agentes comunitários de cultura e esportes gerando atividades espaços públicos, nas vilas criativas dos morros. Além, é fato, de investir nos mais de 800 trabalhadores da cultura da cidade, ocupando espaços e praças, democratizando agenda dos  teatros e palcos, investindo por modalidades nos concursos do Facult e na rede de festivais e eventos populares – saraus, cineclubes e festas que agregam valor à identidade cultural do santista.

Folha Santista: O que pretende fazer para melhorar o atendimento na área de saúde, especialmente nas especialidades?
Marcio Aurelio:
Vim a Santos para estruturar o SUS há 30 anos, principalmente na Zona Noroeste. Sei bem as necessidades das policlínicas, já fui por anos dar plantão em prontos-socorros e hospitais de nossa cidade. É preciso rever essa política de terceirização do setor, reorganizar e investir nos servidores, incentivando essa mão de obra que quer o bem-estar de nosso povo. Defendo a ampliação dos expedientes das policlínicas, implantar os serviços de resgate 24 horas, fortalecer os programas de internação e assistência domiciliar, além de dar maior ênfase aos demais projetos vinculados ao SUS, como saúde preventiva, saúde da mulher, controle de doenças crônicas, saúde mental, entre outros.

Folha Santista: Como avalia as duas gestões de Paulo Alexandre Barbosa?
Marcio Aurelio:
Uma mesma gestão pública eleita, reeleita e com taxa considerável de aprovação, certamente teve seus acertos. Mas o próprio FHC, presidente de honra do atual grupo político que governa Santos, compreende abertamente os prejuízos da reeleição, ainda mais se considerarmos que muitos atores políticos da Administração herdam papéis de prefeitos antecessores. Não por má-fé, mas comumente um mesmo grupo no poder por anos gera desatualização dos gestores, descuido na prática de escutar as demandas do povo, permite vícios administrativos. Por isso, é bem-vinda a democracia garantir novas visões de mundo, que realmente representam os desafios e os anseios das cidadãs e cidadãos. Agora é a vez e a voz do mundo progressista levar ao verdadeiro desenvolvimento socioeconômico a todos os trabalhadores de Santos.