Picuruta Salazar - Foto: Reprodução/YouTube

Assim como o desembargador Eduardo Siqueira, que tentou usar de sua influência com o secretário de Segurança de Santos, Sergio Del Bel, para intimidar um integrante da Guarda Civil Municipal (GCM), o conhecido surfista Picuruta Salazar usou o mesmo expediente.

Áudios de ligações telefônicas vazados em grupos de WhatsApp e nas redes sociais, atribuídos a Picuruta Salazar e a Del Bel, mostram o esportista reclamando da atitude de um GCM, inclusive, em tom de ameaça.

Picuruta, que cuida da escola de surf da prefeitura, que leva seu nome, reclama duramente a Del Bel, porque teria sido proibido por “um tal de Justino” de ter acesso às obras do Emissário Submarino para guardar seus cachorros na escola de surf, que funciona no Parque Roberto Mário Santini.

Além dos áudios, há um vídeo no qual Picuruta fala da importância de ter influência no meio político da cidade. “Tem que ter um amigo político. Nós elegemos eles para que a gente possa pedir favores”, diz o surfista.

Ele menciona o exemplo de quando solicitou ao presidente da Câmara, Rui de Rosis (PSL), e ao então secretário municipal, Rogério Santos (PSDB), hoje candidato a prefeito, para que fosse instalada iluminação para os surfistas praticarem o esporte à noite, pedido que foi atendido.

No primeiro áudio, Picuruta pede providências ao secretário de Segurança: “Del Bel, beleza, irmão? Queria que tu visse quem tá tomando conta do parque agora da parte da noite. Tem um rapaz que guarda meus cachorros dentro da escolinha, que eu tenho dois cachorros há mais de dez anos. Você sabe minha rotina, vou de manhã e solto e vou à noite e prendo. O rapaz me ligou, quis entrar lá para prender e tem dois guardas lá que não estão querendo deixar ele entrar. Falaram que a partir de amanhã não entra nem eu nem mais ninguém, que é ordem sua. Gostaria que tu averiguasse isso pra mim. Esses guardinhas já vêm querendo confusão comigo há um tempão e eu só tô me segurando. Sabe que eu jogo no time, sou parceiro, mas mexeu no meu calo vai arrumar confusão comigo. Gostaria que tu averiguasse quem é, porque eu prefiro falar contigo do que falar com mais alguém, com o prefeito ou chegar até alguém mais alto. Prefiro falar contigo, que é meu amigo. Tu me entende. Eu gosto de ti, tu gosta de mim. Somos amigos, pra que a gente resolva logo isso. Deixa a gente quieto. A gente não incomoda ninguém. Tô lá há 50 anos, tomo conta daquele lugar como ninguém, meus cachorros não fazem mal pra ninguém”.

No segundo áudio, Picuruta está mais nervoso ainda e faz ameaças: “Del Bel, o nome do cara lá é um tal de Justino. Ele entra à noite e sai ás 7 da manhã. Eles estão com essa mania, depois que aconteceu aquele negócio com o desembargador, dele ficar irritando as pessoas e querendo gravar. Ele pode gravar o que ele quiser, tá me entendendo? Tu me conhece, sabe que sou um cara do bem. Se ele quiser arrumar confusão comigo, ele vai arrumar. Eu não sou desembargador, não sou encrenqueiro, não sou nada, mas ele vai arrumar confusão comigo, esse tal de Justino. Ele não me conhece, tá querendo me proibir de entrar onde eu vivo há 50 anos. Se tem um cara que leva o nome daquele parque lá sou eu, pro Brasil e pro mundo todo. Não me vem um cara desse aí querer crescer em cima de mim. Eu respeito vocês, respeito a guarda, mas tem que me respeitar também, porque eu não sou nenhuma criança. Tô te falando, se não vou levar isso mais além, vou levar isso na televisão, vou queimar o filme. Você sabe que eu jogo do lado do prefeito, sou parceiro. Mas não vem querer mexer comigo. Mexeu no meu calo, mexeu com meus cachorros, vai arrumar confusão. Não sou desembargador, não sou ninguém, mas tô te avisando. É um tal de Justino. É melhor tu ligar pra ele, manda passar um pano, se não vai arrumar confusão comigo, vai arrumar inimigo lá em cima”.

Em mais um áudio, Del Bel responde: “Oi, Picuruta. Boa noite. Fica frio, eu vou dar uma averiguada nisso. Tô saindo de uma reunião agora aqui da prefeitura eu já te dou um retorno. Fica tranquilo”.

Posicionamentos

O Folha Santista solicitou um posicionamento de Picuruta e, também, da prefeitura sobre o caso. O surfista respondeu: “Estou numa missão com os meus cachorros, mais tarde falo com você”. Caso ele se manifeste, a matéria será atualizada.

A prefeitura encaminhou a seguinte nota: “A Prefeitura de Santos esclarece que, na data do episódio narrado pela Reportagem, houve um equívoco da equipe da Guarda Civil Municipal (GCM) de plantão na área do Emissário Submarino, que está isolada devido à suspensão judicial das obras do projeto Novo Quebra-Mar. Esses guardas não estavam cientes da necessidade de o professor da Escola de Surfe, Picuruta Salazar, adentrar ao recinto para alimentar os cães.

Após o esclarecimento do comando da GCM, o acesso foi permitido como de costume para esta situação e outras necessárias para a manutenção ou gestão da Escola de Surfe e outros equipamentos do local. A Administração Municipal também esclarece que os três cachorros citados nos áudios estavam abandonados e foram adotados por Picuruta Salazar e outras pessoas que frequentam o Emissário Submarino há cerca de 12 anos.

Os três animais (sem raça definida) têm documentação de cães comunitários e possuem autorização para permanecer no local, de acordo com a Lei Complementar Municipal 811/2103. Todos são microchipados, castrados e vacinados. Usam coleira com o nome do tutor responsável e telefone, conforme determina a lei municipal de cães comunitários. Vale lembrar que cão comunitário é aquele que estabelece, com a comunidade em que vive, laço de dependência e afeto, embora não possua responsável único e definido (Lei Estadual nº 12916/2008). 

Por fim, a Prefeitura e o secretário de Segurança não vão comentar o caso”.

Ouça os áudios: