O desempregado Olavo Rendeiro Tavares, de 33 anos, viveu uma experiência que ficará marcada na memória pelo resto de sua vida. Morador do Morro da Barreira, na Enseada, em Guarujá, ele viu de perto mortes e muito sofrimento por parte das vítimas do temporal que atingiu a Baixada Santista.
“Mexeu totalmente com a minha vida. A gente já se sente excluído da sociedade, é difícil arrumar um emprego. A gente coloca no currículo o lugar que mora e não tem endereço, não tem rua ou complemento, não é um bairro reconhecido. Ninguém olha pra gente com respeito. Só porque mora na favela, acha que todo mundo é bandido. O que a gente tem na favela é a ajuda de uns aos outros. Ou seja, a gente perdeu parte de tudo que tinha”, desabafou.
Olavo ajudou a socorrer três pessoas, uma criança e dois adolescentes. “Isso tudo foi terrível, não dá para descrever. Muito sofrimento, muitas pessoas chorando, que perderam tudo. Foram cenas muito fortes”.
Ele revela que não pensou duas vezes quando observou que a tragédia estava cada vez mais próxima.
“Não foi uma escolha, mas um impulso. Assim que a gente subiu o morro, estava tudo cheio de barro. A primeira coisa que eu vi foi uma mulher gritando, pedindo socorro e pedindo ajuda para os filhos dela, que estavam dentro do barraco. Tinham outras pessoas pedindo ajuda, só que não dava para atender ao chamado. Então, praticamente eu me vi forçado a ajudar essa mulher, com a intenção de ser rápido para ajudar outras pessoas. Mas não foi assim, pois demorou muito”, lamenta.
Olavo conta que costumava conversar muito com os vizinhos: “Aqui, todos perdemos, sejam parentes, amigos ou vizinhos”. Ele mora com a mãe, na Rua da Bica, que dá acesso ao local do deslizamento.
Local de risco
Questionado se, em função da tragédia e do trauma, ele pretende deixar o local de risco, responde, em tom de desalento: “Eu pretendo deixar esse lugar desde o dia que eu mudei para cá. Só que não tenho para onde ir, não tenho o que fazer. É confiar em Deus e continuar aqui”.
Olavo conta que é divorciado, tem três filhos que moram em Florianópolis com a mãe, e sofre com o desemprego. “Já trabalhei em diversas empresas, mas, atualmente, meu sustento vem de fazer bico de pedreiro, ajudante, na praia quando tem serviço”, completa.