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Investigação reúne provas contra ex-presidente do Santos FC por desvio de cocaína

Promotores do Gaeco afirmam que não há dúvidas de que os envolvidos negociaram com traficante a devolução de quase 800 kg da droga em troca de pagamento de propina

Orlando Rollo, ex-presidente do Santos e investigador da Polícia Civil, está preso - Foto: Ivan Storti/Santos FC

Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), vinculado ao Ministério Público (MP), informaram que tiveram acesso a imagens, fotos e áudios que incriminam Orlando Rollo, ex-presidente do Santos Futebol Clube e investigador da Polícia Civil, e João Manoel Armôa Junior, advogado do traficante Vinycius Soares da Costa.

As investigações, segundo o Gaeco, comprovam que a dupla, que está presa, desviou quase 800 quilos de cocaína apreendida na Rodovia Cônego Domênico Rangoni, na Baixada Santista, no mês de agosto. O objetivo era trocar a droga por pagamento de propina.

De acordo com reportagem do JT2, da TV Tribuna, afiliada da Rede Globo na região, Vinycius Costa seria o braço direito de André Oliveira Macedo, o André do Rap, conhecido traficante internacional.

Imagens e áudios obtidos pela emissora e pelo G1 Santos mostram troca mensagens de áudio entre Rollo e Armôa: “Eu tenho interesse total, entendeu? Em ir contigo o quanto antes até porque eu preciso agilizar o meu trabalho. O problema é que a Receita Federal foi acionada por causa do contêiner e só tem nós para fazer esse trabalho de apoio, entendeu?”, afirma Rollo.

Foto: Reprodução/TV Tribuna

Segundo o Ministério Público Estadual, a ação envolvia o pagamento de propina para quatro investigadores da Polícia Civil. No dia 6 de agosto, Rollo e outros três policiais da equipe dele receberam a informação de que uma grande quantidade de cocaína seria repassada de um caminhão para outro, na Rodovia Cônego Domênico Rangoni. A droga teria destino final o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Dos 958 quilos de cocaína apreendidos, o grupo teria desviado 790 quilos e apresentado somente 160 tabletes.

No mesmo dia, Armôa e Vinycius conversaram sobre o início da negociação e a devolução da droga. Ainda segundo o MP, o advogado e Rollo passaram a trocar mensagens para tratar da entrega e que o advogado questionou se o encontro poderia ser no 3º DP. O investigador disse que seria melhor lá.

Na sequência, Armôa envia um áudio para Vinycius e informa o que tinha sido combinado com Rollo. “Ele quer se encontrar na delegacia dele, que é ali atrás do distrito, 3º DP. A gente vai ali atrás. O distrito tá fechado hoje, né? Ele vai abrir. A gente vai na sala dele conversar, tá? É isso aí. Beleza? Três e quinze eu tô lá. Um abraço”, combinou Armôa.

Porém, o encontro foi adiado porque a Receita Federal estava acompanhando a apreensão da droga. “Meu amigo, não fica bravo comigo. Eu tô à disposição. Ele (Rollo) acabou de remarcar para sete e meia… Dezenove e trinta, tá?… Agora são meio-dia e meio (sic). Dezenove e trinta. Por quê? Porque a Receita Federal vai nesse horário comparecer lá, e não tem nada a ver a gente ir junto lá”, disse advogado ao traficante, seu cliente.

O adiamento deixou Armôa nervoso e fez com que ele e Rollo trocassem novos áudios. “Só te peço um favor de não passar desse horário, porque é uma coisa aí delicada e séria, que várias coisas estão em jogo, entendeu? E as pessoas, desde que eu marquei ontem, desmarcaram todas as coisas e estão esperando só isso aí pra conversar contigo, entendeu? Então, por favor, agiliza aí. Esteja lá no horário. A gente vai estar no horário, entendeu?”, cobrou o advogado.

O ex-presidente do Santos rebateu: “Então, essa questão de horário é horário aproximado. Nós estamos aqui numa diligência com a Receita Federal, entendeu? Eu avisei dessa questão de horário”.

Os promotores do Gaeco destacam que a reunião aconteceu. Contudo, não houve acordo, porque Vinycius só aceitou pagar R$ 3 milhões para recuperar a droga, enquanto os policiais exigiam, no mínimo, R$ 4 milhões. Após intensa negociação, o traficante e Armôa aceitaram pagar a quantia pedida.

Porém, o advogado demonstrou preocupação com a logística da devolução da droga. “Arruma três telefones pra ficar falando eu, tu e ele, porque nós vamos ter que falar de carro, cor de carro, placa, onde é que vai entregar o carro, onde é que vai pegar outro carro. De repente, o cara fala: ‘Pô, doutor, não tô achando esse lugar aqui no Guarujá que vocês pediram. Onde que é mesmo? Não, é aqui, assim, assim, assim’… Então, é uma coisa muito delicada, entendeu? É um trabalho que vale vida, né? Então me entende que a gente tem que ter essa cautela. Faz isso, por favor?”, destacou Armôa para Rollo.

O acordo acabou não se concretizando, porque Vinycius foi preso no dia 8 de agosto. Um mês depois, o advogado também foi detido. Orlando Rollo e os outros três policiais civis foram presos no dia 18 de novembro.

Juiz converte prisão temporária em preventiva

Depois da apresentação da denúncia, os promotores solicitaram para a Justiça a conversão da prisão temporária em preventiva, o que foi acatado pelo juiz do caso.

“Nós oferecemos denúncia contra sete agentes, sendo quatro policiais civis, um advogado, o traficante da droga e o motorista que levava a droga até a apreensão pelos policiais civis envolvidos no desvio da droga”, declarou o promotor Renato dos Santos Gama. Dos sete denunciados, somente o motorista continua foragido.

Na avaliação dos promotores do Gaeco, não há dúvida que os policiais pediram propina aos traficantes para liberar o restante da droga apreendida. As autoridades, agora, querem saber onde foram parar os 790 kg de cocaína desviados.

Com informações de G1 Santos e A Tribuna

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