A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Samira Bueno, afirmou que operações da Polícia Militar (PM), como a deflagrada atualmente na Baixada Santista, mais parecem motivadas por vingança e diz que o emprego de tropas especiais, como as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), em policiamento cotidiano tem problemas legais e operacionais.
As operações realizadas pela PM na Baixada Santista, após o assassinato de policiais, têm deixado uma série de vítimas pelo caminho. No segundo semestre de 2023, 28 pessoas foram mortas em supostos confrontos com integrantes da corporação. Agora, entre os dias 3 e 26 de fevereiro, já foram 33. Entidades como o próprio FBSP já apelaram até à Organização das Nações Unidas (ONU) para interromper as ações.
Samira esteve em fevereiro em comunidades que são alvos da operação policial na Baixada Santista e coletou relatos de moradores que apontam para fortes indícios de execuções em alguns casos. Para a diretora do FBSP, “atalhos” na segurança pública costumam gerar ainda mais violência.
“Não é aceitável que um agente estatal utilize de ilegalidades para combater o crime. Isso não é justiça”, afirmou. “Se dar tiro resolvesse o problema, a PM já teria acabado com o PCC há tempos, mas a facção já completa três décadas e se tornou a maior do país”, disse Samira, ao se referir a como os agentes policiais tentam resolver o problema da criminalidade no Estado.
Além disso, ela lembrou que já foram realizadas outras operações policiais na região, mas nenhuma com a mesma proporção de mortes da Escudo (2023) e da Verão. Questionada sobre qual das 33 vítimas de supostos confrontos policiais o emocionou, Samira menciona o caso de jovem Hildebrando, de apenas 24 anos.
Ele foi diagnosticado com ceracotone, doença que o fazia não ter a visão total de um dos olhos e 30% do outro. Segundo a versão da Secretaria de Segurança Pública (SSP), ele teria apontado e atirado contra os agentes policiais.
Jovem foi morto pela polícia em sua cama
Samira e membros da Ouvidoria Pública de São Paulo foram até o local dos fatos e ouviram, de forma emocionada, o relato da mãe do jovem. “Quando chegamos ao local para conversar com a família, a mãe nos mostrou o quarto, pedindo desculpas por não ter tido coragem de limpar. O ambiente cheio de sangue, Neto morreu na cama do pequeno cômodo em que estava. A última coisa que a família ouviu foi ele gritando ‘mãe’ e então os tiros. O amigo morreu imediatamente, ele sobreviveu por dois dias no hospital, mas em 9 de fevereiro faleceu”.
Por fim, ela explicou estar preocupada com as mudanças do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na cúpula da PM, que gerou críticas de aliados e membros da polícia. Eles alegaram que não foram avisados das trocas e só souberam por meio da publicação do Diário Oficial.
Com informações do Metropóles