“Acho que o Dr. Henry tem participação na morte da minha mãe”. O desabafo é de Mônica Cristina da Silva, filha de Olinda da Cruz Balula, que foi atendida pelo falso médico Dr. Henry, na verdade Sergio Raimundo de Oliveira Ribeiro, de 53 anos, na Unidade de Pronto Atendimento Dr. Matheus Santamaria, conhecido como PAM da Rodoviária, em Guarujá, em outubro de 2019. A família vai acionar a empresa terceirizada ou a Prefeitura por tudo o que eles passaram.
O falso médico foi preso no último domingo no Aeroporto de Cumbica pela Polícia Federal. Ele trabalhava no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, na linha de frente do combate ao coronavírus. Atuou até fevereiro de 2020 em Guarujá. Ele também já foi professor do curso de Direito da faculdade Nobre, onde ensinava a matéria de Direito Penal do 3º Semestre, em Feira de Santana, na Bahia, em 2012, onde a farsa foi descoberta e acabou preso. À época, era conhecido como “Professor Sergio Raimundê”.
“Quando vi a foto dele fiquei chocada. Hoje, dia 2 de junho, faz exatamente seis meses que minha mãe morreu. Minha cabeça ontem estava a mil”, disse Mônica. Ela contou que sua mãe tinha problemas cardíacos e depois renais. Ela começou a levar a mãe ate o PAM da Rodoviária, a partir de agosto, mas o encontro com o Dr. Henry aconteceu entre outubro e novembro. “Fui fazer a troca com a cuidadora que ficava com ela para dormir, pois não aguentava ficar de dia e de noite. Quando cheguei lá, a cuidadora não estava mais. Eu conhecia as enfermeiras, pois estava há tempos frequentando ali e elas olhavam minha mãe enquanto eu não chegasse. Aí, soube que minha mãe, que usava uma sonda, estava de alta. Liguei para a cuidadora e ela disse que não estava de alta. A enfermeira confirmou e falou se eu tivesse alguma dúvida fosse falar com o Dr. Henry”.
Ela disse que foi falar com o Dr. Henry e ele foi extremamente grosso com ela. Mônica lembrou que fez uma reclamação na administração da PAM. “Ele olhou para mim e perguntou ‘o que você faz da sua vida´. Nunca vou esquecer isso. Ele quis dizer que eu não queria levar minha mãe para casa. Falou que era médico há mais de 20 anos e a conduta era essa. Disse que eu achasse ruim, procurasse meus direitos. Deu as costas e saiu”. Depois disso, ela levou a mãe para casa, mas voltou para reclamar no PAM.
Mônica conversou com os responsáveis pela administração e que pediram desculpas, mas ela queria a retratação do Dr. Henry. Ela foi fazer uma denúncia na Secretaria de Saúde. “Minha mãe foi para casa e fiz uns contatos. A médica do atendimento domiciliar estranhou como minha mãe teve alta e e ainda estava com aquela sonda”.
Ela foi ao posto de saúde e encaminhada a um urologista que também não entendeu o porquê Dona Olinda ainda estava com a sonda, já tinha passado uma semana. ” A sonda foi retirada, mas após isso minha mãe só piorou. Eu acredito que isso prejudicou ela. Ela começou a ficar confusa e a médica pensou que era Alzheimer, mas eram os rins que estavam com problemas”.
Dona Olinda fez uma tomografia da cabeça e outra do abdômen. “A clínica me ligou para pegar o exame urgente, pois tinha aparecido um problema e ela precisava de acompanhamento médico. Fiquei doida e levei minha mãe para o PAM e dali não voltou mais. Tive que fazer uma postagem nas rede sociais para conseguir uma vaga no Santo Amaro. Ela ficou dois dias urinando sangue no PAM. Tudo é muito ruim. Estou revivendo tudo que passei há seis meses. Duro é saber que minha mãe poderia estar viva. Quem me garante que não? Ela morreu de infecção generalizada. Ele mandou ela ficar com aquela sonda. O urologista disse que ela não poderia ter ficado tanto tempo com aquela sonda”.
Ela fez um Boletim do Cidadão, na Ouvidoria da Prefeitura, relatando tudo o que ocorreu. “Eu fiz agora pois descobri que ele não era médico e isso acabou matando minha mãe. Isso ocasionou que ela morresse mais rápido. Não sou médica, mas acredito. Deu alta e minha mãe não estava bem. Isso tudo é revoltante. Ele é um monstro, um assassino. O rosto dele nunca vou esquecer”.
A família já contratou a advogada Tatiane Alambert e vai procurar uma reparação na Justiça em breve.