Carolina Elias da Silva, de 30 anos, desconfia que a sua filha, de apenas 4, não sofreu um acidente no parquinho de uma creche de Praia Grande, em julho do ano passado. Na oportunidade, a criança sofreu corte profundos em suas partes íntimas, sendo necessário levá-la até o hospital para estancar o sangramento causado.
No entanto, após uma série de dúvidas que pairam sobre o que realmente possa ter acontecido com a sua filha, Carolina contratou uma advogada, que protocolou uma denúncia junto ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), para apurar os fatos.
O que aconteceu
O caso aconteceu no dia 27 de julho de 2023, na Escola Municipal Dorivaldo Francisco Loria, em Praia Grande. Após receber a ligação, Carolina foi imediatamente para a creche e encontrou a filha com sangramento nas partes íntimas. Sem hesitar, a mãe a levou para a Unidade de Saúde da Família (Usafa) Tude Bastos, que fica próxima à escola.
Carolina conta que a filha chorava muito enquanto era examinada. “A pediatra foi atender, mas ela (filha) gritava de dor e medo. Não deixava ninguém abrir a perninha dela para examinar. Ela estava sangrando muito, e a médica achou que seria melhor que ela fosse avaliada por um cirurgião pediátrico”, conta. Diante do caso, uma ambulância foi acionada e as duas foram para o Pronto Socorro Central, em Praia Grande.
Posteriormente, a criança foi transferida para o Hospital Irmã Dulce, onde passou por avaliação de um especialista. Por conta do corte apresentado na região genital da menina, o médico orientou que seria necessário dar alguns pontos, mas como a criança estava com muito medo, a mãe conta que optou por realizar o tratamento alternativo em casa.
Apesar da filha ter sido bem atendida nas unidades de saúde, Carolina reclama da falta de ajuda por parte da escola. “Eles não chamaram socorro quando ela se machucou, e também não nos deram nenhum suporte depois. Não fizeram nada”.
Desconfiança
Ainda no hospital, ao mostrar uma foto do suposto brinquedo que teria machucado a filha, Carolina ouviu da médica que o item dificilmente teria causado o corte interno que a menina apresentava nas partes íntimas. Conforme o laudo emitido no atendimento do Pronto Socorro Central, a criança apresentava “pequena lesão cortocontuso no grande lábio e, ao afastar, notava-se pequena quantidade de sangue e pequena laceração próxima ao introito vaginal.
No dia 12 de setembro de 2023, Carolina conta que foi até a escola junto com um Conselheiro Tutelar. Na ocasião, após receber as desculpas da diretora, foi informada que providências estavam sendo tomadas, e que um funcionário suspeito teria sido afastado da unidade escolar. De acordo com o depoimento da mãe junto à Polícia Civil, ela ainda teria sido informada que a escola havia instaurado um procedimento interno para apuração dos fatos.
Após a reunião, o conselheiro tutelar presente vistoriou a escola e o possível brinquedo que teria causado o machucado. No entanto, segundo laudo emitido pelo profissional, dificilmente um brinquedo de plástico causaria uma lesão tão séria como a da criança.
Outro ponto destacado e questionado pela mãe, é que no dia em que foi buscar a filha na escola, viu que as roupas dela haviam sido lavadas. “Eles tentaram parar o sangramento e lavaram a roupa dela. Achei estranho, pois sempre que as crianças ficam com as roupas sujas, o normal é mandarem na mochila pra gente lavar em casa”, comenta.
Denúncia
Diante das contradições e dúvidas, Carolina registrou um boletim de ocorrência sobre o caso no 2º Distrito Policial (DP) de Praia Grande. A sogra de Carolina também foi até a Câmara Municipal da Cidade para cobrar esclarecimentos sobre o caso. A advogada Fernanda Escanuella ficou sabendo da situação e procurou a mãe da menina para ajudá-la a esclarecer o ocorrido.
Logo no dia 16 de janeiro deste ano, Fernanda instaurou junto ao MP de Praia Grande, um processo de notícia de fato, para que fossem apuradas as verdadeiras circunstâncias do ocorrido com a criança em 27 de julho de 2023.
“Vamos pedir a instauração do inquérito policial e solicitar esclarecimentos para a Secretaria de Educação de Praia Grande sobre este caso, que é bastante nebuloso. Dependendo do que for descoberto, entraremos com um processo criminal contra a Prefeitura da Cidade. Ainda estarei atuando na esfera cível e pleiteando a devida indenização, pois, após o ocorrido, a família passou por enormes transtornos, além de ter agravado o autismo da criança, que até hoje não fala uma só palavra. Nosso objetivo é que o caso não fique impune”, explica.
Prefeitura
A Prefeitura de Praia Grande, por meio da Secretaria de Educação (Seduc), informou que continua a acompanhar o caso e que todas as medidas cabíveis foram tomadas na ocasião.
“Na época, a Seduc ofereceu a vaga em uma outra unidade de ensino, o que não foi aceito pela progenitora. No que diz respeito ao Ministério Público (MP), a pasta municipal destaca que até o momento não recebeu qualquer tipo de notificação”, afirmou.
Sequelas
Após o ocorrido, Carolina diz que tirou a filha da creche e, desde então, não conseguiu colocá-la em nenhuma outra. “Ela está traumatizada, só de passar em frente a uma escola, ela já começa a chorar. Mesmo passando com uma psicóloga, ela não teve qualquer melhora”, conta.
A mãe relatou, ainda, que a criança é autista, e, por isso, já falava poucas palavras. Por conta dessa situação, quando tudo aconteceu, a mãe não conseguiu saber pela filha o que verdadeiramente aconteceu. Após o trauma, ela conta que a menina teve uma regressão do quadro. “Eu tive que parar de trabalhar para poder ficar com ela. Agora é uma outra criança, vive assustada. Quando ela vai ao banheiro ainda me pergunta se sangra ou dói. As vezes ela acorda no meio da noite chorando, então tem sido bem difícil”, afirma.
Agora, Carolina diz que seus principais desejos são que a justiça seja feita, e a filha volte a sorrir. “Quero que ela seja feliz como era antes. Desejo que tudo seja esclarecido, e se alguém fez isso com a minha filha, que a pessoa pague para que não aconteça novamente com mais nenhuma criança”, finaliza.
Com informações de A Tribuna