Primeiro laboratório de maconha medicinal da região já funciona e ajuda a melhorar vidas

A iniciativa fica localizada em São Vicente e opera desde abril de 2023

O laboratório usa a planta da maconha para o uso medicinal e farmacológico - Foto: Agência Brasil

Erguido sem uso de dinheiro público e com o apoio da vereadora Telma de Souza (PT), o Núcleo de Atenção à Saúde e Cuidados Integrativos (Nasci) é o único do Litoral de São Paulo a produzir o óleo à base de cannabis na região.

Sua sede fica no Instituto Articulação de Tecnologias Sociais e Ações Formativas (Adesaf), em São Vicente, e, desde sua fundação, em abril de 2023, mais de 570 pessoas já foram atendidas gratuitamente, e mais de 280 óleos à base de maconha foram produzidos para tratamento de doenças e transtornos.

“Ele melhorou, não assim 100%, mas deu uma boa melhorada porque ele era bem agitado e agressivo”, diz Maria Aparecida Champoski Chrespim, de 56 anos, avó de Pedro Henrique Champoski de Almeida, de 11, autista nível de suporte 1, que faz uso de canabidiol, graças aos trabalhos realizados pelo Nasci.

Para Maria Aparecida, ver o neto, que cria como filho, mostrar uma melhora em sua rotina foi muito satisfatório. Além disso, ela contou que o menino fazia uso de cerca de seis medicações por dia. Com a chegada do óleo, os remédios foram reduzidos para dois. “Eu espero e acredito que logo ele passe para apenas uma medicação ao dia”, diz, esperançosa.

Atualmente, o jovem toma o canabidiol, prescrito por um médico, três vezes ao dia. Uma em cada período do dia. Assim como Maria Aparecida e Pedro, outras famílias tiveram a vida transformada por meio do canabidiol.

Produção

A produção é 100% realizada pelo instituto, que conta com uma equipe ampla de profissionais, como farmacêuticos, biólogos, assistentes sociais, médicos e uma colhedora canábica.

De acordo com o jardineiro e assistente social Márcio de Lima, que atua no plantio da cannabis medicinal em um local sob os cuidados do instituto, o processo é lento e demorado. “Mas vemos os resultados. Além da parte técnica, também colocamos muito amor no que estamos fazendo, um carinho que faz toda a diferença”, explica.

São muitos os cuidados que as plantas recebem até chegarem à casa dos pacientes. Por se tratarem de remédio, não podem ser “infectadas’” acumularem metais pesados ou outros componentes que façam mal ao ser humano. Como um cuidado extra, elas crescem ouvindo músicas selecionadas pelo jardineiro e, segundo a equipe do instituto, “isso faz toda a diferença”.

Processo

Após o processo de plantio, é extraído o extrato da maconha e encaminhado ao laboratório do instituto, onde é transformado em canabidiol. Todo o processo é manual, e a produção ocorre aos sábados, com um farmacêutico especializado.

Ao todo são produzidos oito tipos de óleos, dois deles destinados a cães e gatos que levam o nome de “Adesaf Pet Caramelo”, em homenagem ao cachorro mais amado do Brasil, segundo o instituto.

Investimento

Desde abril do ano passado foram investidos mais de R$ 644 mil, entre custos de produção do remédio e os serviços prestados à comunidade por meio do Nasci. Foram realizados 575 atendimentos gratuitos em pacientes entre 4 e 89 anos.

Dos óleos produzidos no instituto, 80% foram doados para pessoas em situação de vulnerabilidade social e apenas 20% custeados, parcialmente, por associados pacientes.

Mais dados

Mais de 50% dos pacientes que fazem uso do medicamento relatam sofrer de Transtorno de Ansiedade. Os demais dividem-se entre depressão, Transtorno de Espectro Autista (TEA), distúrbios de sono, dependência de substâncias psicoativas, síndrome do pânico, fibromialgia e dor crônica, deficiência intelectual, tetraplegia e espondilite.

A presidente e fundadora do Instituto Adesaf, Fernanda Gouveia, vê as conquistas com muita alegria. “Ter um laboratório aqui, e ter transformado isso numa coisa concreta, é extremamente gratificante. Todo dia é uma alegria. É um sonho realizado e mais que isso, é um compromisso nosso, porque quando a gente recebe feedback dos pacientes, sabemos que a justiça social está sendo feita por meio do Nasci”, conta.

Para o futuro, Fernanda espera que o atendimento seja ampliado, e que mais pessoas possam ter acesso ao tratamento.

Com informações de A Tribuna

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