Adriana Suely de Paulo Navarrete, 23 anos, moradora de Guarujá, está acusando o Complexo Hospitalar dos Estivadores, em Santos, de “negligência médica”. Grávida, ela deu entrada na instituição para ter sua filha. Porém, o bebê nasceu sem vida momentos após os médicos dizerem que os exames estavam ótimos.
A família registrou boletim de ocorrência (BO) por morte suspeita.
A vítima também alega que foi induzida ao parto normal, apesar de pedir várias vezes por cesárea, de acordo com reportagem de Ágata Luz, em A Tribuna.
“Foi uma coisa inexplicável. Quando ela saiu da barriga, eles fizeram massagem nela, mas logo percebi que a bebê não chegou a respirar e nem chorar. Ela já saiu morta da barriga. Mas, como? Tiveram milhões de exames dizendo que estava tudo ótimo”, relata Adriana.
Adriana afirma que foi atendida por duas médicas. “Informei que na madrugada do dia 14, comecei a perder um líquido bem ralinho. Uma delas me mandou deitar na maca, fez o exame de toque e falou que era líquido amniótico, mas bem pouquinho”.
Ela conta que foi encaminhada para internação, depois de ouvir das profissionais que aquele dia era o certo para procurar atendimento médico.
Em seguida, Adriana, que escolheu a mãe como acompanhante, foi submetida ao exame de cardiotocografia (CTG), que monitora a frequência cardíaca fetal e as contrações uterinas. “Deitei e a enfermeira deu toda assistência, ficou aferindo minha pressão e os batimentos do bebê”.
Depois de cerca de três horas, ela foi levada à sala de indução. Fez outro exame de sangue e foi questionada sobre o plano de parto.
“Eu fiz (o plano de parto) pedindo cesariana, porque a minha médica já tinha me dito que a bebê era grande, estava alta e não seria um parto fácil, pois era meu primeiro filho. Então, minha preferência era fazer a cesárea, principalmente porque chegou até o final da gestação, não estourou bolsa, nem teve aquela coisa natural”.
Foi então que ela ouviu de uma obstetra detalhes sobre os benefícios do parto normal. “Falou que a cesárea é uma cirurgia de grande porte, que a neném estava ótima, estava tudo correndo bem e que eu poderia tentar. Ela falou: vamos tentar, vamos ver como que vai evoluir”.
Na sequência, Adriana foi orientada a usar o comprimido Misoprostol, conhecido como ‘miso’, que serve para induzir o parto. “Quando colocou o primeiro já me assustou, pois eles disseram que poderia colocar até nove comprimidos, de três em três horas, depois de seis em seis horas. E aí já me assustei, perguntei se ia demorar demais e falaram que não. Isso durou dia 14 e dia 15”.
A jovem relata, ainda, que na madrugada de quinta-feira (16), ela passou a estranhar o fato de que todas as mulheres da sala tinham os filhos e iam embora.
“Fui ficando e não sentia dor de parto. Comecei a questionar se estava demorando muito, principalmente sem ter feito ultrassom ou exame mais específico, só CTG. Me responderam que estava tudo bem”.
Ela lembra que antes de tomar o sexto comprimido, o exame CTG registrou batimento fraco da nenê, que mobilizou a equipe médica.
“Veio outra médica e enfermeira e mexeram na barriga, balançaram disseram que ela (bebê) estava dormindo, que iriam acordá-la e tinha normalizado. Perguntaram se eu ouvia e eu estava ouvindo o barulho do aparelho, pois não sou médica e não sei diferenciar. Respondi que sim, mas percebi que uma das médicas pediu para suspender o comprimido”, relembra.
Esta médica, segundo Adriana, disse que houve falta de comunicação entre a equipe, pois enquanto uma profissional suspendeu o comprimido, pois era necessário refazer o exame CTG em 20 minutos, uma enfermeira surgiu com o comprimido.
“Tudo começou a sair dos trilhos. Falaram para eu e minha mãe ficarmos despreocupadas, pois o CTG tinha sido feito em menos de meia hora e ainda estava dentro do prazo. Eu estava ali há quase três dias, então confiava nos médicos. Mas colocaram o comprimido, começou o pesadelo”, relembra.
Em menos de cinco minutos, ela sentiu uma dor “insuportável” e começou a pedir pela cesárea. “Mas toda vez que a gente falava, eles vinham com uma lista de problemas que a cirurgia poderia me trazer”.
Ela relata, também, que gritava pedindo a cesárea por causa das dores e o médico foi refazer o exame de toque. “Ele falou: ‘olha você já está de três centímetros, só que a bebezinha fez um cocozinho’. Eu olhei para minha mãe e ela perguntou se era perigoso ela aspirar ou comer, mas responderam que era normal, que o intestino dela estava funcionando e ela está pronta para nascer”.
Durante exame CTG, Adriana percebeu mudanças no quadro, mas foi tranquilizada pela enfermeira. “Falaram que o coraçãozinho dela estava batendo como se fosse um ritmo de música”.
Ainda com muitas dores, a jovem continuou pedindo a cesárea. Enfim., ela assinou um documento e foi levada à sala de cirurgia.
“Quando eles tiraram ela, já não tinha vida nenhuma. Nem certidão de nascimento eu vou conseguir fazer, porque ela já nasceu morta. Então, como que eles fizeram tantos exames, estava tudo tão bem e ela já estava morta?”, questiona.
“Na hora que o médico veio me dar o papel para fazer a cesariana, ele fez um examezinho em um aparelho portátil que escutava o batimento cardíaco dela, colocou do lado do meu ouvido, eu estava com muita dor, mas eu conseguir ver que estava 133. Como que estava 133 numa sala e em questão de minutos, ela saiu morta da barriga? Ela já estava morta e eu falei o dia inteiro que não estava mexendo”.
Complexo dos Estivadores diz que “a paciente recebeu assistência integral, suporte e acolhimento”
O Complexo Hospitalar dos Estivadores, a pedido de A Tribuna, divulgou a seguinte nota:
“O Complexo Hospitalar dos Estivadores, por meio da sua equipe técnica multiprofissional, informa que a paciente e seus familiares receberam assistência integral, suporte e acolhimento diante do caso em questão, e foram fornecidas todas as informações disponíveis até o momento. O apoio aos familiares continuará sendo fornecido pela instituição, até que a análise técnica do evento seja concluída”.