Ivan Sartori - Foto: Divulgação

Nascido em Santos, Ivan Ricardo Garisio Sartori, de 63 anos, é o candidato do Partido Social Democrático (PSD), sem formar coligação.

Com formação em Direito e mestre em Direito da Saúde, foi desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, entre 1981 e 2019. Atualmente, é professor de Direito Civil.

“Resolvi aceitar o desafio, porque verdadeiramente acredito que posso contribuir e, muito, para fazer Santos voltar a ser grande novamente. Temos bastante trabalho pela frente”, diz o candidato, que carrega o número 55.

A odontóloga Julia Mara Marucci de Castro, a Dra. Julia (PSD), tem 54 anos e é candidata a vice.

Folha Santista: Por que o senhor é candidato a prefeito de Santos?
Ivan Sartori:
Após 38 anos de magistratura, além de ter sido presidente do maior Tribunal de Justiça do mundo (TJ-SP), com uma carreira bastante exitosa, em março do ano passado, me aposentei. Em 2020, fui cotado pelo governo Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, após a exoneração do ministro Sérgio Moro. Recebi alguns convites para ingressar na política de Santos, cidade que escolhi e moro há quase 30 anos, por acreditarem que sou capaz de ajudar a cidade, de ser um bom gestor, com base em toda experiência nesses anos de magistratura. Relutei muito no início, conversei com vários partidos e resolvi aceitar o desafio, porque verdadeiramente acredito que posso contribuir e, muito, para fazer Santos voltar a ser grande novamente. Temos bastante trabalho pela frente, mas o nosso plano de governo está muito bem estruturado, organizado e todas as ações muito interligadas.

Folha Santista: Quais são os principais eixos do seu plano de governo?
Sartori:
Queremos fazer Santos grande novamente. Faremos uma auditoria nas contas municipais, destinações de verbas, contratos e cargos públicos; vamos acabar com o grupo de empresas que gravita em torno da prefeitura, há anos, permitindo novos empreendimentos na cidade, gerando circulação do dinheiro e empregos; combate à corrupção, com a instalação de um sistema integrado de controladoria e compliance; reformulação na saúde do município, criando uma central de saúde, hospital de retaguarda, triagem digital, por meio de “mototriadores” distribuídos pela cidade; zeladoria dos prédios municipais de ensino e áreas públicas da cidade, que estão largadas. Reestruturação da Guarda Municipal, que deve ser armada e ter aumento de contingente. No porto, interseção junto ao governo federal, empresariado da área e a autoridade portuária, por meio de gestões políticas de aproximação e resgate da efetividade da comissão portuária tripartite.

Folha Santista: – A cidade vem perdendo empregos no Porto de Santos, o que o senhor pretende fazer para que isso se reverta?
Sartori:
Não é necessário enfatizar a importância do Porto de Santos para a cidade. É o maior da América Latina e fonte de receita importantíssima para a cidade. Isso, porém, tem sido relegado a segundo plano pelas últimas administrações. O maior desafio é a gestão política necessária. Tem que haver uma proximidade com o Porto, pois porto e cidade andam paralelos. Tão perto e tão longe, isso precisa mudar. Conversas rotineiras e próximas, de forma a integrar serviços do município com o Porto. Uma interseção estreita. É preciso, inclusive, fortalecer a comissão tripartite (União, estado e município). Além disso, é preciso estreitar o relacionamento com a presidência e com o Ministério da Infraestrutura e, para isso, já até iniciamos conversas com o governo federal. Temos que aumentar a empregabilidade, proporcionar uma área com infraestrutura adequada destinada à estada aos caminhoneiros (restaurantes, banheiros, chuveiros e posto médico, comércio) – que hoje é inexistente – ; promover a instalação empresas de ponta na área retroportuária, integrando porto à cidade. Pode-se utilizar aí a Área Continental e, com isso, fomentar a empregabilidade e trazer mais recursos para o município, por meio de tributações desses serviços. É aquecer a economia e gerar emprego. Nessa interseção será possível também recuperar alguns imóveis, que estão voltados e integrados à cidade, como, por exemplo, os armazéns 1 a 8, que podem ser transformados num centro gastronômico e de outras atrações voltadas para o lazer e a cultura e, claro, fomentar o turismo. Interessante fazer um mergulhão de trem para melhorar o acesso a esses armazéns. É preciso zelar e cuidar de toda aquela encosta, retirar sucatas que enfeiam a cidade e, ainda, eliminar o mau cheiro que aflora, principalmente, na Antônio Prado e na Xavier de Toledo. Também será necessário estruturar o nosso Terminal de Passageiros, de forma a receber bem os passageiros, incentivar e atraí-los para o turismo, mostrando que Santos é uma cidade que tem história, um jardim grandioso e belas paisagens. Ainda, deve-se fomentar uma restruturação na área hoteleira e afins. A Justiça já reconheceu que as empresas que operam no Porto têm que pagar IPTU para a cidade. E elas também têm que pagar ISS. Isso, aliás, virá dos serviços retroportuários, envolvendo logística e tecnologia de ponta.

Folha Santista: Qual sua posição acerca da instalação da usina de incineração de lixo em Santos?
Sartori:
A prefeitura errou. Não existe a possibilidade de aceitar uma proposta de obra “casada”, sendo que uma das obras não tem autorização para ser iniciada. Consequência? Começou a obra no Emissário sem a contrapartida – o incinerador de resíduos sólidos – ter o devido licenciamento da Cetesb, por isso já foi interrompida. Perda de tempo, de dinheiro, descaso com a população. É preciso estudar os detalhes técnicos do equipamento, se está à altura do que é necessário. Não há precedentes no país da utilização deste processo de incineração de resíduos sólidos como proposto. Na nossa gestão, o secretariado será técnico justamente porque, questões como esta, precisam ser detalhadamente estudadas por quem tem conhecimento no assunto. Evidentemente, nós vamos ter que encontrar uma saída para o Sítio das Neves, que está em sobrevida, venceu em 2020.  Talvez nós tenhamos que ir para outro. Mas é lógico que nós vamos considerar e analisar a questão da compostagem e biodigestão, temos que dar mais ênfase e aproveitar bastante a reciclagem. Teremos técnicos debruçados nisso, vamos procurar uma solução apropriada.

Folha Santista: O senhor tem alguma proposta para a revitalização do Centro? O que o pretende fazer nesta região da cidade?
Sartori:
O nosso Centro tem história e precisamos resgatar isso. Vamos reestruturar e revitalizar o Centro urgentemente. Recuperação do Centro de Santos e construção de Terminal Rodoviário consentâneos com a importância da cidade, mediante a implantação de consórcio privado, revisão dos tombamentos e incentivo ao empreendimento na área central; recuperação e reestruturação do Mercado Municipal e cercanias. A Rua do Comércio, tão famosa nos tempos áureos da nossa cidade, não tem mais comércio. Falência, moradores de rua, prédios abandonados. Este é o cenário que vemos ao passear pelo Centro de Santos. Não podemos ter apenas a Bolsa do Café à disposição dos nossos moradores e turistas. Precisamos dar oportunidade a empresas investirem no turismo gastronômico e casas noturnas. O Centro tem que ter vida diuturnamente. Empresas operando pela manhã e tarde, restaurantes e comércio abastecendo e vivendo deste movimento; à noite, bares, restaurantes, casas noturnas e programações culturais precisam fazer parte da rotina do santista e, é claro, com segurança e toda estrutura adequada aos turistas.

Folha Santista: Quais propostas tem para a área de cultura e turismo da cidade?
Sartori:
O turismo é essencial ao crescimento da economia de Santos, mas esse setor não tem sido valorizado adequadamente, não obstante as condições climáticas e as belezas naturais da cidade, de sua história e de seu jardim na orla. O turismo é uma das vertentes mais eficazes ao aquecimento da economia e fator gerador de empregos e renda. Merece, pois, devida atenção e dedicação, o que, há muito, não vem ocorrendo. A Guarda Municipal será capacitada, inclusive, para receber os turistas. Para tanto, haverá um destacamento especializado nisso e falará inglês e espanhol. Importante, ainda, visitas gratuitas monitoradas a pontos turísticos, históricos, comércio no Centro, na Zona Noroeste e Morros, que têm cultura própria e muito interessante. Vamos estabelecer programa de ampliação da área hoteleira, com incentivos e recursos disponíveis nos governos federais, estaduais e municipais; criar infraestrutura adequada ao pronto atendimento e informação ao turista, inclusive mediante o destaque de parte do efetivo da Guarda Municipal, com formação especializada e conhecimento das línguas estrangeiras mais faladas. É fundamental a criação de roteiro de atrações turísticas e culturais especialmente no verão e outono, meses de maior fluxo turístico e, sempre, fazer publicidade, em larga escala, das belezas naturais, história e atrações santistas, de forma a atrair a visibilidade. Precisamos promover encontros e eventos culturais, negociais e de interesse profissional de âmbito nacional, além de implantação do turismo ecológico estruturado e sustentável na área continental e integração com o terminal turístico portuário, a fim de atrair os passageiros que ali aportam. Precisamos de zeladoria permanente dos logradouros e áreas públicas, inclusive nos Morros, além da reestruturação de equipamentos de infraestrutura turística, com vistas a tornar a cidade mais atrativa.

Folha Santista: O que pretende fazer para melhorar o atendimento na área de saúde, especialmente nas especialidades?
Sartori:
A saúde ganha prioridade preventiva. O foco vai além de ampliar os atuais programas em vigência que já defendem a prevenção de doenças com altos índices de mortandade. O objetivo é focar na prevenção de patologias que possam impactar na qualidade de vida do cidadão, usuário do sistema público de saúde deve ser provocado a check-up rotineiro por parte do setor público, por meio de sistema que agregue mobilidade e tecnologia de monitoramento. Criar hospital de retaguarda para pacientes crônicos, mormente os idosos, permitindo mais atenção e comodidade ao doente e à família. Comum o doente crônico e idoso frequentar unidades de pronto atendimento, com morbidade já conhecida e, por vezes, de difícil recuperação, congestionando a unidade municipal. Aí que entra essa estrutura, com pessoal capacitado. Implantar triagem digital, por meio de aplicativos, dos usuários do sistema de saúde e, para aqueles que não tem acesso a esse sistema, fornecer serviço de “mototriagem” com profissional capacitado para o atendimento e encaminhamento à unidade adequada. Com isso, desafoga-se, inclusive, o Samu, que fica apenas para atendimentos emergenciais. Sistema digital de distribuição e controle de medicamentos, de modo que não sobrem em determinadas unidades, com vencimento do prazo, inclusive, e faltem em outras. Criar um Centro de Saúde na área central envolvendo especialidades, clínica geral, exames laboratoriais e outros (estilo Poupatempo); criar a Clínica Dia – Unidade de Atendimento de Saúde Pública para casos rápidos; criar hospital de retaguarda para pacientes crônicos, mormente os idosos, permitindo mais atenção e comodidade ao doente e à família; Crescendo Bem – Plano Municipal de Saúde preventiva para crianças e adolescente. Teremos o Remédio em Casa, a distribuição de medicamentos para pacientes crônico e/ou de medicação de alto valor por delivery, com entrega na casa do cidadão; Saúde Digitalizada; Parceria Público Privada para Medicina de Diagnóstico; Instituir programa voltado à saúde bucal preventiva e curativa; implantar o Ambulatório de Geriatria no município; criar programa integrado de atendimento aos dependentes de álcool e drogas, que envolva atenção na área da saúde, educação, formação profissional e assistência jurídica; Implantar triagem digital, por meio de aplicativos, Fomentar e incrementar a telemedicina e outros.

Folha Santista: Como avalia as duas gestões de Paulo Alexandre Barbosa?
Sartori:
O governo do Paulo deixou muito a desejar. Não há mais zeladoria na cidade, inclusive, nos bairros da orla. Nada foi feito nos morros, não há equipamentos, o lixo está ao ar livre. Na Zona Noroeste, pouca coisa foi feita e o povo está sofrendo. Ele não resolveu o problema das enchentes, além de um déficit habitacional incrível na Vila Gilda, que possui um dos IDHs mais baixos do mundo. Os prédios das escolas estão deteriorados, com rachaduras, goteiras, móveis sucateados, não houve a implantação de um ensino digital. As crianças estão completamente desprovidas de atenção, os professores estão falando sozinhos, os cargos na gestão das escolas são ocupados provisoriamente. A situação é caótica, precisamos ouvir esses profissionais e mudar as condições de trabalho e valorizá-los. Na saúde, as filas são imensas. Há casos com pessoas aguardando há sete anos uma operação; um ano por uma ressonância; é uma situação muito complicada. O Centro está completamente abandonado, sem nenhum projeto e, cada vez mais, se deteriorando e o comércio fechando. E, com a pandemia da Covid-19, o prefeito foi bastante rigoroso e acabou contribuindo para que mais empresas fechassem e empregos fossem perdidos. A segurança também está numa situação muito difícil; pouco contingente de guardas municipais; não há uma estrutura suficiente. Além disso, é preciso a instalação de câmeras digitais; os moradores de rua não recebem um tratamento adequado, é preciso um tratamento mais severo para evitar essa situação. Não se incrementou o turismo: nada foi feito.  Não há sequer aproveitamento dos passageiros que passam por nossos terminais no cais, absolutamente mal planejado e sem aproveitamento. Nós estamos com a economia estagnada, as mesmas empresas que circundam a prefeitura ditando as regras de como deve ser economia do local. Temos que abrir oportunidades para que venham outras empresas e, claro, prestigiar as micro e médias empresas locais, desburocratizando e fazendo com que a roda da economia avance. A relação com o Porto – relação Porto cidade – também não avançou. O Porto está perto, mas, ao mesmo tempo, está muito longe. Precisamos ter uma gestão muito mais próxima, implantar equipamentos retroportuários, trazer emprego, procurar ter voz no Porto, fortalecer a comissão tripartite e o conselho da autoridade portuária, do qual participa também o município. Enfim, fazer obras ao apagar das luzes, em locais nobres, não fará com que esta administração se recupere do péssimo conceito que se desenhou durante todo o mandato.