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Em alta: Cervejas artesanais caem no gosto dos santistas

Mercado da região acompanha a tendência nacional e avança na produção e consumo, de forma natural e sustentável

O Mucha Breja é uma casa especializada em cervejas artesanais - Foto: Rafael Konda

A bebida mais apreciada do brasileiro, sem dúvida, é a cerveja. Uma das modalidades que mais crescem nos últimos anos é a produção de cervejas artesanais. No cenário econômico, o mercado de produtores sente efeitos em momentos de crise, porém consegue se manter em níveis satisfatórios e com expectativa de expansão ainda maior.

Para se ter um comparativo, em 2020 o mercado de cervejas convencionais deve crescer cerca de 3%, enquanto a estimativa do segmento artesanal é de um avanço de 20% a 30% no país. Em 2019, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento concedeu registros para 273 novas fábricas.

Ainda no cenário nacional, a cerveja artesanal atingiu 35% de crescimento em 2019 e vem sustentando alta de cerca de 30% nos últimos anos. O destaque, além das iniciativas caseiras, são os bares que produzem a própria bebida, segundo dados da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva).

A Baixada Santista, especialmente Santos, acompanha o movimento e a cerveja artesanal por aqui se consolida a cada ano, com a criação de novas marcas, abertura de casas especializadas e, em consequência, como possibilidade de bons negócios.

“Vejo essa evolução com bons olhos. Para mim, quanto mais, melhor. Eu não tenho problema nenhum com outras cervejarias, muito pelo contrário. O mercado cresce, o que é bom para todo mundo. A gente cria uma cultura de cerveja”, avalia Eugênio Martins Júnior, da cervejaria Cais, de Santos.

Ele acrescenta que em países que têm escolas cervejeiras, como Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, o consumo da bebida artesanal vem crescendo também. “Santos é uma cidade desenvolvida, tem uma galera legal fazendo cerveja, de todas classes sociais. Além disso, nosso clima favorece o consumo.”

Renato Melo, do Mucha Breja, também observa o avanço das cervejas artesanais como positivo. “Entramos no mercado em 2015 e não havia ainda o conhecimento da cerveja artesanal. Desde então, não só o número de consumidores cresceu, como também as cervejarias. Fizemos o lançamento da Everbrew, que foi a primeira, além das demais. Hoje, já são nove cervejarias”, destaca.

O mercado na região apresenta um quadro de ascensão – Foto: Rafael Konda

Cissa Almeida, beer sommelier e gerente do Bar Cerveja & Porcaria, vê o panorama como promissor. “A cerveja artesanal na Baixada Santista deixou de ser apenas ‘modinha’. É um mercado que está se consolidando e fidelizando clientes cada vez mais exigentes. Acredito que aconteça porque é um mercado novo, mas de algo que se consome desde antes de Cristo”, diz ela, que atua no setor desde 2015.

Caseiros

O mercado não contempla apenas os profissionais. Há, também, os chamados cervejeiros caseiros. Farmacêutico por formação, Leandro Queiroz dos Santos produz, na sua residência, em Praia Grande, a cerveja Nhangatu.

“O mercado é crescente no país como um todo e na Baixada Santista tem uma cena bem interessante, como em outros locais, como Petrópolis e Teresópolis, no Rio de Janeiro; Curitiba, no Paraná; algumas cidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Na nossa região há um número grande de cervejeiros, que vêm ganhando prêmios pelo Brasil. Também aumentou o número de cervejeiros caseiros”, afirma.

Exemplo

Eugênio conta que começou a produzir cerveja de forma amadora em 2015, mas profissionalmente há dois anos, quando o mercado começou a crescer. Hoje, a Cais tem dois anos e seis rótulos.

“Eu atuo em vários municípios. Já tive cerveja em oito das nove cidades da Baixada Santista. Com o encolhimento da economia em 2018, alguns lugares da região fecharam em 2019. Mesmo assim, hoje, eu tenho em Santos, Praia Grande, Guarujá, Mongaguá e Itanhaém”, conta.

Os rótulos da cerveja Cais – Foto: Eugênio Martins Júnior

Como exemplo de expansão do mercado das artesanais, Eugênio menciona os Estados Unidos. “Lá, várias cervejarias nasceram nos anos 80. A indústria norte-americana demorou para perceber que esse filão estava crescendo muito. Hoje, as cervejas artesanais abocanham 16% do mercado local, o que representa bilhões de dólares.”

O bar Cerveja & Porcaria também aposta nas artesanais – Foto: Rodrigo Galdino

Crescimento

Em relação ao aumento da participação das artesanais no mercado, Cissa destaca que “existem muitas fontes estatísticas, mas a maioria informa que houve crescimento de, pelo menos, 20% no consumo de cervejas especiais em 2019”.

De acordo com ela, as cervejarias triplicaram e o consumo também tem tido crescimento significativo. “O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento fala de 130% de crescimento das cervejas artesanais nos últimos cinco anos”, acrescenta.

Uma das fases do processo – Foto: Eugênio Martins Júnior

Redes sociais e tecnologia

Renato Melo destaca dois fatores que contribuem muito para o sucesso do seu negócio. “A rede social hoje é o nosso diferencial na divulgação, até porque o Mucha nasceu de dentro de uma agência de marketing digital.”

Além disso, ele cita a importância da tecnologia, que facilita o consumo e a produção. “Hoje, há sistemas de autosserviço, de encher a lata ou o ‘growler’ (recipiente de vidro, cerâmica ou alumínio, com tampa que evita a perda de gás carbônico da cerveja). São várias oportunidades de negócio”, diz.

Na opinião da gerente do Bar Cerveja & Porcaria, a tecnologia influencia totalmente na evolução do mercado das cervejas artesanais.

“Atualmente, o Brasil tem pesquisas para desenvolver a cultura de lúpulos na Serra da Mantiqueira, estudos sobre leveduras e outros insumos que, normalmente, são importados para a produção da cerveja. Com o avanço da tecnologia vamos poder contar com matéria prima brasileira de qualidade para produção de cerveja. Dessa forma, acredito que os preços fiquem mais acessíveis para o consumidor”, conclui Cissa.

Concurso

A evolução do setor na região vem proporcionando novas possibilidades. Em 2019, foi realizado um concurso para escolher a Cerveja Artesanal Santista. A iniciativa foi idealizada pela jornalista Thaís Lyra, que contou com a colaboração de parceiros.

“O mercado cervejeiro está em expansão, gera empregos, movimenta a economia de uma forma real. Só em Santos, de dois anos para cá, abriram sete casas de cerveja. Então, acredito no potencial do produto e pretendo repetir o concurso este ano, com novos estilos e expectativa de mais inscrições”, conta Thaís.

O concurso foi feito para os cervejeiros caseiros e teve 20 participantes. A primeira etapa contou com a presença de três sommelières mulheres: Glaucia Rodrigues, Aline Araújo e Julia Reis. Foram escolhidas três cervejas.

“Na segunda fase, houve uma festa na Estação Valongo para divulgar o nome dos ganhadores. O segundo e o terceiro ganharam insumos e o vencedor levou uma panela elétrica para produção de cerveja caseira”, revela Thaís.

O campeão

A primeira colocação no concurso ficou com Leandro Queiroz dos Santos, com sua cerveja Nhangatu. “Como eu sou cervejeiro caseiro, a vitória me dá a possibilidade de uma receita minha ser produzida em escala maior e ser comercializada como símbolo da cidade. É motivo de enorme orgulho”, comemora.

Leandro Queiroz dos Santos venceu o concurso para cervejeiros caseiros – Foto: Thaís Lyra

Leandro realizou a primeira produção, de 500 litros, para comercialização na cervejaria Everbrew. Quando chegar efetivamente ao mercado, ele acredita que seu produto vai ser colocado como Nhangatu, a Cerveja Artesanal Santista.

“Pesquiso a respeito da produção de cerveja desde 2014. Fiquei só estudando por dois anos até ter coragem de comprar o equipamento e começar a fazer. De 2016 para cá venho, com frequência, testando receitas. Nunca fiz curso. Tudo que aprendi foi com os livros, na internet, vídeos de YouTube e fazendo testes”, conta.

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