Uma das coisas que fez valer muito a pena ter voltado a viver em Santos depois de uma longa temporada de 30 anos morando em São Paulo e um curto espaço de tempo em São Bernardo foi ter podido encontrar pessoas que eu admirava à distância, mas que sempre reconhecia como grandes santistas. Uma delas, Sérgio Sérvulo da Cunha, que tinha sido o lendário vice-prefeito de Telma de Souza dos anos 89 a 92 em Santos, naquela que talvez tenha sido uma das mais exitosas experiências administrativas do Brasil recente. Uma gestão que recolocou Santos em destaque internacional com ações ousadas na área de saúde (Aids e luta antimanicomial, por exemplo), cultura, limpeza das praias, urbanização de favelas e tantas outras coisas. Discreto, mas muito ativo, Sérgio Sérvulo fez parte daquela história.
Mas ele foi muito mais do que isso, jurista, filósofo, professor e poeta, Sérgio Sérvulo deixa um imenso legado intelectual que ainda terá que ser melhor analisado agora à frio, sem ele entre nós. Na área jurídica, sua produção é referência. Foi isso que o levou por exemplo a ser o advogado de acusação no processo de impeachment contra o ex-presidente Collor de Mello e, entre 2003 e 2004, ser chefe de gabinete do ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, no então governo Lula. Pelas lentes dele passaram várias indicações de ministros do Supremo, por exemplo.
Mas o que mais divertia Sérgio Sérvulo nos últimos tempos era sua produção poética. Foi a partir dela que nos conhecemos melhor. Ele foi em vários saraus que promovemos na Casa Fórum nos seus dois anos de existência na rua que não podia ter um nome melhor, 1º de maio. Sérgio era um doce de pessoa. Uma figura encantadora. Como poeta assinava como Sérgio Paolozzi. Era uma forma de dizer que havia dois Sérgios, o do Direito e da vida pública e o que amava a poesia.
Depois de sofrer um AVC e ficar alguns dias muito mal, ele parte. E nos deixa com a certeza de que viveu muito bem intensamente essa sua longa jornada de 86 anos.
O velório é neste sábado (11), no Salão Nobre da Prefeitura de Santos, das 16 às 19 horas. O enterro será no domingo (12), no Cemitério Municipal da cidade de Pedro de Toledo, a 30 minutos de Peruíbe, no litoral paulista.
Deixo-vos com um poema dele, publicado na sua página do Facebook no momento que sua filha Luciana anunciou sua passagem.
“a vida não é boa nem ruim,
senão quando a gente sente assim.
muitos males se curam por si mesmos,
e outros não passam de ilusão.
há tempo de nascer e de morrer,
tempo de amar e de sofrer,
e verdadeiro bem é
o que vem de nossas mãos.”
Sérgio.