Com tendências de agravamento neste segundo semestre, a situação climática na Amazônia Brasileira se consolida atualmente como a maior seca da sua história. Com 315 mil km² ou 31 milhões de hectares, foi registrado um aumento de 2000% em relação às áreas afetadas pelo processo de seca extrema no ano passado, quando os índices eram de 15 mil km² ou 1,5 milhão de hectares em julho de 2023.
Os dados são do estudo ‘Amazônia à Beira do Colapso – Boletim Trimestral da Seca Extrema nas Terras Indígenas da Amazônia Brasileira’, lançado durante a Semana do Clima em Nova York, uma plataforma que reúne líderes de governo, empresas e organizações da sociedade civil para debater sobre a questão climática. A pesquisa é organizada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), através de sua Gerência de Monitoramento Territorial Indígena (GEMTI).
O evento contou também com a presença do coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineir, da representante da Coiab na Bacia Amazônica, Angela Kaxuyana, do cacique Raoni Metuktire, uma das principais lideranças indígenas do mundo, da deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) e de Patrícia Gualinga Montalvo, liderança indígena e defensora dos direitos indígenas do Equador.
Comunidades indígenas ameaçadas
De acordo com o levantamento realizado pelo estudo, a seca extrema tem afetado cerca de 149 Terras Indígenas, das quais 42 estão em estado crítico, o que equivale a 53% de todas as terras indígenas da Amazônia Brasileira. Isso resultou em escassez de água e grandes perdas na agricultura, atingindo mais de 3 mil domicílios indígenas, 110 escolas e 40 unidades de saúde. Em julho deste ano, 50 canais d’água ou rios apresentaram níveis abaixo da mínima registrada para o mês, com maior concentração nos rios do estado do Amazonas.
Queimadas
Com o aumento dos focos de calor causado pela seca, outra preocupação é o aumento dos incêndios florestais. Em 2024, houve um crescimento de até 80% nos incêndios florestais, que alcançaram, apenas em agosto, 2,5 milhões de hectares — uma área correspondente a 3,5 milhões de campos de futebol. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 20 mil focos de incêndios em agosto de 2023, este ano foram registrados 68 mil focos, sendo 50 mil na Amazônia — somando 73% de todas as áreas queimadas no período e um aumento de 139% em comparação ao ano passado.
“Esses eventos climáticos extremos impactam diretamente os povos indígenas da Amazônia Brasileira. Ao mesmo tempo que os parentes são os primeiros a sentir os efeitos das mudanças climáticas, eles também são fundamentais para o combate a esses impactos. Vale destacar que as brigadas indígenas voluntárias e federais, equipes e grupos autônomos de proteção das TIs, têm sido linha de frente no combate aos incêndios e desmatamento dentro dos nossos territórios”, informa a gerente de Monitoramento Territorial Indígena da Coiab, Vanessa Apurinã.
Informações de Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).