O guarda municipal de Santos, Cícero Hilário Roza Neto, que foi humilhado pelo desembargador Eduardo Siqueira, que o desacatou e rasgou a multa recebida por não usar máscara de proteção contra o coronavírus, neste sábado (18), na praia de Santos, relatou qual foi o pior momento da ocorrência.
“Fiquei chateado quando ele me chamou de analfabeto, quando perguntou se eu sabia ler e quando ele pegou o documento e me disse: ‘Você está vendo com quem está se metendo?’. E também quando ele rasgou a autuação e jogou no chão”, declarou Cícero, que participou, junto com seu parceiro Roberto Guilhermino, da live do prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), na noite deste domingo (19).
Cícero, que tem 36 anos e está há nove na Guarda Civil Municipal (GCM), relatou como ocorreram os fatos. “A gente estava orientando um grupo no Canal 6, quando eu avistei esse cidadão no espelho d´água transitando sem a máscara. Gesticulei a ele, para ele usar a máscara e ele se negou”.
Em seguida, Siqueira respondeu que “não tem hábito” de usar e, alertado sobre o decreto que obriga a utilização do equipamento, disse que “decreto não é lei”.
Arrogante, o desembargador ameaçou o agente e contou o que fez quando outro guarda tentou multá-lo. “Amassei e joguei a multa na cara dele. Quer que faça com você?”, perguntou.
O guarda municipal, sempre demonstrando calma, insistiu em preencher a multa. O desembargador ficou ainda mais alterado e o chamou de “analfabeto” e “otário”, enquanto telefonava para Sérgio Del Bel, secretário municipal de Segurança, que comanda a GCM.
Bom exemplo
“Quando cheguei em casa, minha esposa havia visto o vídeo e minha filha de 15 anos também. Assim que eu entrei, minha filha perguntou o que eu tinha feito para ele. Foi algo que eu não sabia responder para ela. Eu falei que só estava fazendo meu trabalho. Minha esposa conversou com ela e falou que, infelizmente, existem pessoas assim. Depois das mensagens que recebi, minha filha começou a entender e ver que eu fui um bom exemplo. Minha conduta foi correta”, relatou Cícero.
Seu companheiro de corporação, Roberto Guilhermino da Silva, tem 41 anos e 18 na corporação. Ele foi o responsável por filmar toda a ocorrência.
“Tem situações que a gente vive no dia a dia, que vai adquirindo experiência e aprende a ter essa conduta de manter a calma e agir sempre baseado na legalidade. É um momento delicado mesmo. Você vê seu amigo, seu parceiro passando por aquele tipo de constrangimento, vindo de uma parte que deveria dar o exemplo, mas a gente sabiamente soube lidar com a situação. Ele teve a calma e a postura adequada e, em momento algum, se deixou levar pela emoção, agiu pela razão. Por trás do homem fardado há um ser humano que batalha e que passa no concurso público. E vê um cidadão chamar de analfabeto”, destacou Roberto.