Por Carolina Fortes
A intensivista e cardiologista Ludhmila Hajjar, que recusou o convite do presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser ministra da Saúde, afirmou em entrevista ao “O Globo” publicada nesta quarta-feira (12) que o sistema de saúde do Brasil deve colapsar em uma semana por causa do aumento de casos da Covid-19.
De acordo com ela, o número de infecções aumentará mais ainda nos ambulatórios, trazendo um problema que ocorreu em outros picos de infecções pela doença no país: a falta de profissionais de saúde na linha de frente. Isso porque a maioria dos médicos e enfermeiros foi imunizada com duas doses da CoronaVac que, apesar de ser uma vacina “importantíssima”, não “protege como as outras em relação a novas variantes”.
“Muitos de nós seremos infectados. De uma forma mais branda em relação ao que se viu há um ano, quando não havia imunizantes no Brasil. Mesmo assim, seremos afastados. Só na minha área do Hospital das Clínicas, de São Paulo, por exemplo, temos 56 profissionais afastados”, conta Hajjar.
No entanto, para a especialista, a proliferação de infecções pela variante Ômicron pode indicar uma boa notícia: que estamos nos encaminhando para o início do fim da pandemia.
“Temos pela primeira vez a junção de dois fatores: uma variante altamente prevalente infectando muita gente imunizada. Isso faz com que um número alto de pessoas se infecte com a forma branda da doença, o que é bom para a imunização. Não podemos, no entanto, baixar a guarda com a vacinação”, diz a cardiologista.
O Brasil registrou nesta terça-feira (11) 73.617 novos casos da doença. Com isso, a média móvel de casos nos últimos 7 dias foi de 44.016 – a maior registrada desde 29 de julho do ano passado (quando estava em 44.974). Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +631%, indicando tendência de alta.
Cada vez mais pacientes arrependidos de não terem sido vacinados
Defensora da vacina, a intensivista também relatou que tem visto cada vez mais pacientes internados e arrependidos de não terem sido vacinados. “Eles chegam com a forma grave da doença, se arrependem, porém, já é tarde”, afirma.
Segundo ela, a diferença da gravidade da doença entre pessoas imunizadas e não imunizadas é “brutal”. “As UTIs estão atualmente só com casos de Covid entre os não vacinados. Os imunizados dificilmente passam do atendimento ambulatorial”, ressalta Hajjar.
Ao ser questionada sobre qual conselho daria para o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a cardiologista sugere quatro pontos: que ele amplie a discussão com a comunidade científica sobre o momento epidemiológo, reforce as campanhas de vacinação contra a Covid-19 com maior alcance e promova informações seguras e adequadas à população, amplie a disponibilidade de testes diagnósticos em todo o país, e fortaleça o sistema de vigilância com transparência e atualização na publicação de dados.